Com as grandes farmacêuticas de olho em medicamentos inovadores como estratégia para crescer, os laboratórios de menor porte devem entrar no radar de fusões e aquisições do setor nos próximos anos.
"As empresas têm percebido que é mais fácil e econômico comprar um laboratório com pesquisa já em andamento, ao invés de começar a desenvolver um medicamento do zero, com o risco de não ter retorno", avalia o advogado especialista no setor farmacêutico Benny Spiewak. Ele é sócio do escritório Zancaner Costa, Bastos e Spiewak Advogados (ZCBS).
Para ele, a procura das grandes fabricantes por aquisições de laboratórios menores é uma característica do setor, mas esse movimento deve se intensificar nos próximos anos. Com o avanço do segmento de medicamentos biológicos, considerados de alta complexidade, e das pesquisas voltadas ao tratamento de doenças incidentes em parcelas menores da população, os laboratórios menores devem ganhar destaque.
"Enquanto a pesquisa de um medicamento para uma doença que atinge 5 mil pessoas é pouco significativa para grandes indústrias, para uma empresa de menor porte é um negócio interessante."
O sócio líder da área de fusões e aquisições da KPMG no Brasil, Luís Motta, pondera que a tendência de compra de laboratórios menores é característica em outros países.
"No Brasil, o movimento não é tão intenso ou pode ter pouco reflexo, porque o forte da indústria nacional é genérico e medicamento isento de prescrição, produtos que não são inovadores", diz.
Ele afirma que, embora o câmbio possa impactar o preço dos ativos farmacêuticos, do ponto de vista do investidor estrangeiro, esse não é o principal fator que tem influenciado a alta nas operações.
"Este ano, em função das consolidações de empresas do setor fora do País, alguns ativos no Brasil foram colocados à venda porque não eram estratégicos para essas companhias, o que ajudou a incrementar o número de transações", explica ele.
De acordo com a KPMG, no acumulado de janeiro a setembro deste ano, a categoria de produtos químicos e farmacêuticos registrou 16 operações de fusão e aquisição no País ante seis em 2014.
Motta cita o plano de fusão da norte-americana Pfizer com a irlandesa Allergan, anunciado nesta semana, como um exemplo de operação que pode alavancar o volume de operações no País. Se aprovada, a fusão de mais de US$ 150 bilhões criará a maior companhia farmacêutica do mundo.
"Ainda não é possível dizer se há algum ativo no Brasil que pode ser vendido com esse processo de consolidação da Pfizer, especificamente. Mas como tendência nesse mercado, é provável que ativos não estratégicos para a companhia sejam colocados a venda."
Perspectiva
O sócio da KPMG espera a manutenção ou queda no número de fusões e aquisições no setor em 2016. "Não contamos que as companhias continuem nesse processo de forma acelerada, pois há um número menor de empresas disponíveis para compra no mercado nacional."
Outro fator que pode contribuir para aumentar essas transações no próximo ano, lembra Motta, é a compra de marcas de medicamentos considerados fortes no Brasil.
"Podemos ver a aquisição de uma empresa com grande participação em genéricos ou medicamentos isentos de prescrição, mas não esperamos nada que envolva uma tecnologia muito inovadora", revela ele.
Benny Spiewak faz avaliação similar sobre as perspectivas para o setor no Brasil. "A indústria nacional ainda está aquém de ser efetivamente inovadora, então a grande vantagem é o domínio do mercado brasileiro", lembra ele.
No curto prazo, o advogado não acredita que algum farmacêutica brasileira entre em outro país por meio de uma fusão ou aquisição. "Nos próximos três ou cinco anos, entretanto, podemos ver três ou mais fabricantes brasileiras se unindo para criar uma grande companhia", afirma Spiewak.
Caso a expectativa se confirme, o especialista destaca que as empresas precisarão lidar com a burocracia que envolve uma operação como essa. "O entrave burocrático no Brasil é um desafio a movimentos de consolidação como esse."
No acordo que envolve a Pfizer, por exemplo, Spiewak comenta que aprovação de autoridades reguladoras internacionais não garante que a fusão com a Allergan será aceita no Brasil. Para ele, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem um modelo de avaliação ainda pouco alinhado a outras agências de regulação do setor no mundo. "A questão regulatória é outro ponto que influencia muito essas operações", conclui. Autor: Jéssica Kruckenfellner Fonte: DCI Leia mais em tudofarma 25/11/2015
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