25 novembro 2015

Empresas brasileiras viram pechincha com crise e dólar alto

Aquisições de estrangeiros no país superam a de brasileiros pela 1ª vez

Se é na crise que surgem as oportunidades, o Brasil está se tornando um prato cheio para investidores estrangeiros. O salto de 46% do dólar nos últimos 12 meses, a crise que deixa em apuros empresas de diversos setores e a incerteza política deprimiram o preço de ativos nacionais para quem aposta a longo prazo e desembarca aqui com moeda forte no bolso.

Pela primeira vez o número de fusões e aquisições promovidas por estrangeiros no Brasil superou o de transações entre partes brasileiras, segundo números da consultoria PwC. Entre janeiro e outubro, os estrangeiros foram os compradores em 51% das operações, com os brasileiros perdendo terreno.

A percepção começou a se consolidar no começo do mês com a venda da divisão de cosméticos da Hypermarcas para a multinacional de origem francesa Coty, por R$ 3,8 bilhões. No mesmo dia em que o negócio era anunciado, o empresário Abílio  Diniz falava em Nova York que "o Brasil está em liquidação, muito barato para os investidores de fora".

O grupo americano de private equity Advent já fez R$ 2 bilhões em operações este ano, comprando fatia de 13% dos laboratórios Fleury, a Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) e a empresa de TI Allied. Segundo porta-voz do fundo, novas operações estão no radar.
— A gente vasculha sistematicamente o negócio de hospitais. Na educação, estamos usando o nosso investimento na FSG para construir em volta dele o processo de consolidação no setor em universidades médias de abrangência nacional, com entre 5 mil e 20 mil alunos — admitiu Patrice Etlin, gerente do Advent.
— O valor das empresas teve uma queda colossal. Enquanto fomos grandes vendedores de Brasil no passado, com nossa saída do capital de Cetip e Kroton, agora somos compradores.

Etlin não comenta, mas fontes do setor afirmam que o Advent tentou adquirir o  Hospital Samaritano, mas as negociações não foram para frente nem com o fundo nem com outros potenciais investidores. Procurado, o hospital afirmou que não comenta rumores de mercado.
— Em termos de câmbio e para quem pensa a longo prazo, o estrangeiro tem a chance da década. Lá fora, há grande liquidez mas os juros estão baixos. Com o dólar forte e o Brasil, apesar da crise, ainda sendo um grande mercado, o investidor estratégico que já conhecia o país aprofunda sua presença — afirmou Rogério Gollo, da PwC Brasil.

APETITE DE INVESTIDOR

Segundo Gollo, se a disparada do dólar manteve o apetite do investidor externo no momento de crise, ela prejudicou o investidor local que buscava fazer aquisições.
Por isso, a perspectiva é de uma queda este ano de 20% no número total de transações no país. Arthur Cotrim, da Actual Ventures, que assessora fusões, viu aumentar de 10% para 40% sua fatia de clientes estrangeiros.
— Já a partir do segundo trimestre, começamos a notar um crescimento maior do interesse de grupos internacionais. A crise teve um efeito moral enorme aqui no Brasil, diminuiu as vendas das empresas e levou a uma liquidação forçada de companhias que estão endividadas. Isso afeta o preço — explicou.

Segundo Cotrim, um grupo chinês está fazendo três investimentos na área de energia renovável. Um grupo brasileiro está vendendo uma rede de clínicas especializadas em doenças renais crônicas a um grupo americano. Um grupo de Cingapura negocia a compra de uma rede de escolas de idioma com abrangência nacional.
— Tem negócios no Brasil que demandam capital, mas, com os juros altos, ele está caro. Assim, o equity estrangeiro tem uma certa vantagem competitiva — afirmou Clovis Meurer, vice-presidente ABVCAP, associação que reúne a indústria de private equity brasileira POR RENNAN SETTI Fonte: O Globo Leia mais em sinicon 24/11/2015

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