31 outubro 2015

Brasil está à venda – e barato –, mas ninguém quer comprar

Apesar da alta do dólar, que torna ativos brasileiros mais baratos para estrangeiros, a participação desses ativos nas fusões e aquisições em 2015 não aumentou. Além disso, o número de operações neste ano está menor que em anos anteriores

O dólar mais alto e o grande número de ativos à venda no Brasil ainda não despertaram o apetite dos estrangeiros por negócios brasileiros. Esses investidores também não ampliaram muito sua participação na compra de empresas brasileiras. Para o sócio da PwC Brasil e especialista em fusões e aquisições, Rogério Gollo, a expectativa de que a moeda norte-americana continue se valorizando ainda mais, a apreensão com os rumos da inflação e as dúvidas quanto à capacidade do país de retomar o crescimento econômico no curto prazo deixam os investidores estrangeiros inseguros em relação ao país.

“Quando esses três itens estiverem mapeados, provavelmente teremos o crescimento do números de transações. Tem muita consulta atualmente, mas que ainda não se refletiu efetivamente em operações”, afirmou Gollo.

Para o diretor para América Latina de ratings corporativos do setor de indústrias pesadas da agência de classificação de riscos Standard & Poor's, Diego Ocampo, está havendo, em geral, uma redução do apetite pela região da América Latina. “Mas principalmente pelo Brasil, por causa do momento econômico que está enfrentando e com a dificuldade adicional que é o momento político”, disse Ocampo.

Segundo o professor de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas), Mauro Rochlin, a instabilidade política, os marcos regulatórios e a segurança jurídica desse momento podem estar pesando mais do que a questão cambial no interesses de estrangeiros em negócios brasileiros.

Em números
A PwC mostra a participação de estrangeiros nas fusões e aquisições anunciadas entre janeiro e setembro deste ano. Segundo os dados, o número de operações desse tipo com parceria de estrangeiros ficou praticamente inalterado, com alta de apenas 3% em relação ao mesmo período de 2014, passando de 248 para 256. No mesmo período de comparação, o número geral de operações de fusões e aquisições caiu de 640 para 565.  Em setembro, as transações somaram 52, o menor número de operações desde 2007, quando foram feitas 50.  Em setembro de 2014, de acordo com os dados da PwC, foram 87 registros.

O relatório da consultoria aponta ainda uma queda de aquisições, quando alguém adquire o controle total de uma empresa, e uma leve alta em compras, que é quando uma companhia torna-se dona de uma parte da outra, sem, no entanto, ficar com todo o controle. “Quando você tem um risco maior, você não compra o controle. Isso reduz o risco e o valor investido. Em um momento de menor [risco], esse comprador exerce a opção de adquirir o controle da empresa”, disse Gollo. Segundo ele, estrangeiros que não têm operação no Brasil entram na compra de participações antes de fazer uma aquisição total.

"Tem muita consulta atualmente, mas que ainda não se refletiu efetivamente em operações”
Rogério Gollo, PwC Brasil

Crise
Para Gollo, há um grande número de ativos disponíveis, e são as operações que não têm sido concluídas. Em média, avalia o sócio da PwC, entre a oferta e a conclusão do negócio há um prazo de oito a 18 meses. De acordo com ele, os preços das ofertas estão menores. “As compras e vendas de empresas ficaram mais baratas. O preço absoluto tem caído”, afirmou. Isso porque os vendedores estão pedindo menos pelos ativos, principalmente em decorrência da queda no lucro.

Se a participação na empresa ou mesmo toda a unidade lucra menos, ela vale menos. Em outro ponto, o custo para quem compra está maior, porque ele comprará uma empresa que gera menos receita e também os financiamentos estão mais altos.

R$ 150 bilhões à venda
A venda de ativos é uma das soluções encontradas por setores brasileiros para fugirem da crise e reduzirem o endividamento. Levantamento de investidores apontam que há cerca de R$ 150 bilhões em ativos à venda, que incluem negócios integrais e participações em sociedades.

Um exemplo disso são as construtoras que estão se desafazendo de projetos na área de logística. O grupo Andrade Gutierrez, uma das 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato, que investiga corrupção em contratos da Petrobras, começou a ofertar parte de seus ativos para grupos e fundos de investimentos estrangeiros.

Entre esses ativos está a participação na concessionária CCR. Outra construtora, a Engevix, também envolvida na Lava-Jato, já anunciou a venda de sua participação nos aeroportos de Natal e Brasília.

O maior plano de venda de ativos é o da Petrobras, US$ 15,1 bilhões em 2015 e 2016, para manter foco na atividade de exploração e produção de petróleo. Na lista de desinvestimentos da estatal estão usinas térmicas e participações no controle de distribuidoras estaduais de gás natural, além da abertura de capital BR Distribuidora. A CSN e a Vale também têm anunciado planos de concentrar investimentos em ativos mais rentáveis.

Rochlin, da FGV, destaca que a venda de partes ou até de empresas inteiras é um movimento comum em momentos de crise, mas pondera que a venda de ativos em momentos de preços tão ruins pode ser desencorajador, mesmo que isso signifique reduzir o endividamento das empresas. Segundo ele, os preços baixos são o motivo, por exemplo, do adiamento da oferta de ações da BR Distribuidora, pela Petrobras.

Para Ocampo, a opção de vender unidades que não fazem parte da atividade principal é positivo para as empresas, que podem concentrar investimentos onde existe maior potencial de ganho e melhorar a estrutura de capital. Rochlin também ressalta que aumentar a área de atuação pode reduzir riscos, mas também acaba dispersando o foco e reduzindo a rentabilidade. “Qualquer tipo de diversificação acaba sendo uma diminuição”, afirmou.

Segundo a economista da GO Associados, Mariana Orsini, além da venda de ativos há um movimento de reestruturação dentro das grandes empresas na tentativa de driblar a crise econômica, que incluem demissões e também a redução de custeio. “São ações de mais curto prazo”, disse. Laís Lis Leia mais em fatoonline 30/10/2015
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