21 setembro 2015

Investidor tem pressa para 'comprar' Brasil

Grandes investidores têm urgência em encontrar respostas para duas perguntas neste momento: que perfil terá o comando da economia depois de solucionada a crise política; e em quanto os desinvestimentos em Brasil já foram antecipados - em 30% ou em 70% das carteiras?

O investidor estrangeiro tem pressa em restabelecer aplicações em ativos brasileiros e o local tem pressa em negociar esses ativos com preços consolidados. A perspectiva para a economia brasileira é alvo de questionamento não porque o investidor acredita em solução rápida para a crise política e econômica instaurada no país. O investidor olha para o seu próprio quadrado e sabe que o processo de reclassificação da dívida soberana do Brasil por agências internacionais de rating está no limiar de um ajuste que dispara obrigações contratuais de revisão de carteiras de fundos institucionais.

O gatilho para a recomposição de lastro nos portfólios de economias que migram de 'grau de investimento' para 'grau especulativo' é a perda do segundo selo de 'bom pagador'. E o Brasil está quase lá. O mercado financeiro está convencido de que o segundo 'downgrade' está a caminho porque são muitas as incertezas quanto à efetividade do ajuste fiscal proposto pela equipe econômica, quanto a sua aprovação no Congresso e à continuidade do governo Dilma Rousseff.

O Brasil recebeu o primeiro 'grau de investimento' em abril de 2008 e conquistou mais dois. Há duas semanas, a Standard & Poor's (S&P) - pioneira na promoção da nota verde-amarela no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tomou de volta a melhor classificação de risco que o país conquistou depois de concluir que desafios políticos interferem na capacidade do governo de executar um orçamento consistente com o seu objetivo inicial de corrigir o rumo da política econômica.

Os negócios foram encerrados no mercado financeiro, na sexta, com o insistente rumor de que a Fitch poderia divulgar a qualquer momento sua revisão do rating soberano brasileiro porque é a única agência - entre as três grandes - que ainda mantém o país dois níveis acima da linha de corte do 'grau de investimento'. Na Moody's a nota está no último nível do 'grau de investimento'.

A dificuldade dos gestores em mensurar a desalavancagem de posições em Brasil no portfólio de grandes investidores está na baixa transparência dessa informação. E há uma justificativa para o sigilo desses dados: a antecipação do desinvestimento depende sobretudo da perda acumulada pelos diversos agentes financeiros em cada bandeira emergente.

A avaliação do cenário político do Brasil não é tão objetiva. No entanto, o risco político também é revelado especialmente no mercado de moedas. O real nem sempre consegue participar de um rali disputado por seus pares emergentes. Foi isso o que aconteceu na quinta-feira, quando o Federal Reserve - o BC dos EUA - anunciou a decisão mais aguardada por investidores e outros bancos centrais em muitos meses. Ao manter inalterada a taxa básica de juro, a instituição deu a bandeirada para a corrida de grandes players - principalmente aqueles que apostavam que o Fed aumentaria o juro em 17 de setembro - aos ativos de maior risco.

O real não teve fôlego para entrar no rali por representar um país em desordem e com perspectiva econômica e política duvidosa.

Apesar dessa constatação, traders de moedas e títulos de dívida no mercado internacional não perdem o sono com a precoce disputa pelo poder no Brasil, em que a presidente da República sequer completou o 1º aniversário do segundo mandato. Esses especialistas 'sem-partido' político e cartesianos, consideram o impeachment de Dilma Rousseff uma solução para encaminhar as disputas políticas em benefício dos investimentos. Mas desde que exista um horizonte que a lógica explica: "Não se tira do lugar alguém que não governa para ficar sem governo."

Os negociadores de Brasil, que já desovaram a maior parte de carteiras que não poderiam correr o risco de perder liquidez em ativos 'grau de investimento' - contemplam a ocorrência de três eventos que poderiam encaminhar o país para um cenário mais favorável: o downgrade da dívida soberana; a saída de Joaquim Levy do governo; o impeachment de Dilma.

Dos três elos dessa cadeia, a saída do ministro da Fazenda é o mais importante por desencadear decisões de governo no mínimo reveladoras sobre as opções de política econômica de Dilma Rousseff, que tenderiam a estabelecer novos parâmetros para avaliação de risco.

Dilma mais à 'direita' reforçaria critérios de Levy, mesmo sem Levy, por maior disciplina fiscal. Dilma mais à 'esquerda' seria uma alternativa "traumática" representada pelo apoio à política econômica prevalecente no seu primeiro mandato - de inclinação desenvolvimentista e forte presença do Estado na economia. Essa opção reforçaria critérios defendidos pelos ministros Nelson Barbosa e Aloisio Mercadante que, na visão de negociadores de Brasil, não funcionaram no primeiro tempo de Dilma no Planalto. E não por razões ideológicas, mas por agravarem desequilíbrios da economia que têm perspectiva de ajustes postergados ano a ano.

No cenário alternativo de Dilma deixar o Palácio do Planalto e o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) assumir a presidência da República, os negociadores de Brasil atribuem elevada probabilidade de o senador José Serra (PSDB-SP) se tornar o próximo ministro da Fazenda. A composição Temer-Serra é vista como um upgrade da versão Dilma-Levy por juntar a experiência de um político profissional com a de um gestor competente.

Uma eventual chapa Temer-Serra seria entendida como um novo momento da política brasileira, pautado por interesses comuns de dois grandes partidos, PMDB e PSDB. Já uma parceira de Michel Temer com um economista mais próximo ao pensamento desenvolvimentista na Fazenda seria menos viável. Representaria uma aproximação arrastada de PMDB e PT. Possivelmente, uma réplica do comando atual do país - com Dilma e Temer protagonistas de uma relação estabelecida, mas deteriorada.  Valor Econômico - Angela Bittencourt - Leia mais em abinee 21/09/2015

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