06 agosto 2015

Crise e grandes oportunidades de investimentos

Ninguém ainda duvida que já convivemos com uma crise instalada, que obviamente começa a ser sentida em níveis diferenciados em todas as faixas de renda. A tendência é a de que, de novo, haja uma distância maior entre a renda média de cada uma das classes sociais. Deverá ocorrer um retrocesso de 15 anos em alguns setores, mas devemos manter o principal, que é a continuidade democrática que nos protege e não deixa nenhum tipo de poder ter o domínio absoluto, como acontece em outros países da América Latina. Essa manutenção do estado democrático é fundamental para quem investe no país, pois aqui o Congresso legisla, o Senado aprova ou não e os tribunais funcionam. Além disso, outros poderes subordinados - como a Procuradoria e a Polícia Federal - não aceitam passivamente o controle do Executivo.

No campo das oportunidades de investimento e negócios,pode haver um momento bem promissor em alguns setores: a indústria de fusões e aquisições, por exemplo, deve voltar a ser muito ativa e será impulsionada pela restrição de crédito em todas as áreas.

É preciso evitar o pessimismo exagerado, que restringe a capacidade de olhar e analisar ativos que podem, num curto espaço de tempo, tornar-se grandes oportunidades de investimento.

Assim, é importante direcionar o foco. Inicialmente, é necessário lembrar-se de que as pessoas continuam a consumir para viver. Elas ainda têm necessidades de adquirir vestuário, trocar de carro, de moradia e até mesmo de investir para manter os negócios rentáveis ou aproveitar espaços de mercado que se abrem quando competidores com estruturas de gestão inadequadas e alto índice de alavancagem tornam-se inviáveis.

Um dos setores em que esse cenário se verifica é o imobiliário, justamente uma área em que o investidor pode se ancorar com menor risco institucional, já que estará lidando com ativos reais que, historicamente, têm um ciclo mais fácil de entender.

Além disso, com o advento da alienação fiduciária, estabeleceu-se uma estrutura de garantia que facilita a retomada do imóvel quando há inadimplência e que dá suporte para que a indústria não perca o giro de crédito mínimo que é necessário para o sistema como um todo rodar. Também é preciso considerar que sempre haverá preço para ativos estressados ou com renda ou via permuta, pois imóveis são ativos reais que servem de proteção de capital em tempos de inflação alta.

Caso o projeto de lei de repatriação de capital que está em tramitação no Congresso seja aprovado, o setor imobiliário deve ser o que mais capital vai atrair, aproveitando as oportunidades de preços para aquisição de todo tipo de imóvel. Para conseguir um reforço de caixa de R$ 20 bilhões neste ano, o governo federal anistiaria quem tem recursos não declarados fora do país na sua repatriação, mas ficaria com 35% (17,5% de Imposto de Renda e 17,5% de multa).

Seja como for, a avaliação de um bom negócio na área imobiliária tem como parâmetro o metro quadrado para construção, um valor que não deve cair muito, já que esses preços variam conforme a cotação do dólar – que tende a ser manter num patamar elevado -, além de sofrer influência dos preços administrados (energia, água etc) e dos insumos do mercado externo e interno (cimento e ferro, dentre outros).

Isso significa que o investidor deverá ter oportunidade de adquirir ativos por preços bem interessantes, principalmente se tiver possibilidade de repatriar reais em um momento de dólar em alta. Essa combinação pode resultar em descontos formidáveis!

Esse rol terá, ainda, setores que trabalham com a demanda ligada ao consumo de baixo valor agregado, pois quando começa o achatamento na renda da população via perda de poder aquisitivo e inflação, o usual é o nível e a qualidade do consumo caírem. Do filé para alcatra, do peito de frango para a asa, ocorre um downgrade nos hábitos do consumidor: ele não some, só migra.

Existem ainda os setores que devem ficar no final da fila, como, por exemplo, os de infraestrutura e óleo e gás. O primeiro, por questões estruturais, exceto no que se refere às concessões já realizadas de aeroportos, portos e rodovias em que o risco é bem menor. Já os grandes projetos de energia devem penar com o alto custo da burocracia brasileira que, ao contrário do que ocorre no setor imobiliário, foge a qualquer tipo de controle, dada a necessidade de uma série de licenças ambientais e de construção, entre outras, que dependem do emaranhado burocrático em que vivemos e que é incompatível com a realidade do país. A não ser que se criem condições de certificação de construção para que os projetos possam ser efetivados, é quase impossível ter bons resultados nesse segmento.

Naturalmente não se consideraram aqui opções óbvias, como aplicar em renda fixa e títulos pós-fixados indexados à inflação e dólar, que têm um movimento errático baseado em notícias políticas e no desenrolar da crise, de acordo com a deterioração ou melhora do ambiente econômico.

A renda variável também pode vir a apresentar algumas alternativas interessantes, mas depende mais do cenário político do que do econômico, já que fazer análises apenas com base nos balanços das empresas será bastante difícil.  Saul Sabbá - Presidente do Banco Máxima Leia mais em jb 06/08/2015

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