A Gávea Investimentos, gestora de fundos de participações (private equity), concluiu a auditoria no laboratório Fleury e, conforme apurou o Valor, encontrou uma empresa com problemas típicos de outras companhias abertas que fizeram aquisições e tiveram dificuldades de integração. Os resultado da auditoria, que além dos números incluiu uma análise operacional da empresa, devem impactar as negociações sobre o valor da aquisição se ela, de fato, for confirmada.
No mercado, há dúvidas sobre o fechamento do negócio. Na sexta-feira da semana passada, a ação caiu 8,31% e ontem tiveram uma recuperação, com alta de 2,6%. Ano passado, médicos que reunidos na Core possuem, em participações diretas e indiretas, 41,3% do laboratório, declararam a intenção de venda. Há um mês oficializaram as negociações exclusivas com o Gávea. Desde então não houve novas informações sobre o negócio.
O comunicado foi divulgado em 12 de março. No dia seguinte, 13, o Fleury divulgou resultados fracos para o quarto trimestre. A empresa saiu de lucro de R$ 16,7 milhões no mesmo intervalo de 2012 para um prejuízo de R$ 788 mil. O lucro acumulado em 2013 caiu 42,6%, para R$ 61 milhões. Os gastos com reestruturação somaram R$ 15,7 milhões, ante R$ 1,3 milhão no mesmo trimestre do ano anterior.
Os números podem sinalizar problemas para integrar operações, particularmente no que se refere à rede carioca Labs D'or, enxergados pelo Gávea ao examinar a companhia com os olhos de um possível novo controlador. A gestora investe em outro laboratório, o Hermes Pardini, e tem interesse em uni-lo ao Fleury. Mas não a qualquer preço.
Desde que a intenção de venda foi divulgada, o mercado foi inundado com informações de que o Fleury estava sendo disputado por investidores e que o preço pedido pelos médicos começa com "2", ou seja, avalia a ação na casa dos R$ 20. Meses depois, apenas o Gávea continuou no negócio, e o mercado passou a reprecificar as informações.
Segundo informações de mercado, o Gávea, como era de se esperar, calcula um preço da aquisição menor e que começa com "1" - possivelmente próximo ao patamar atual das ações, aos R$ 17. Ou seja, sem um gordo prêmio, como desejam os médicos, e como o mercado já chegou a precificar após as informações iniciais. Se cada um mantiver sua posição, não sai negócio.
Procurado, o Gávea informou que não comenta o assunto. Vivien Rosso, principal executiva do Fleury, falou ao Valor sobre a companhia, ressaltando que não participa da negociação entre a Core e o Gávea. Ela esclarece que a empresa concluiu a parte mais dolorosa do processo de integração do Labs D'or e que esse processo foi fortemente refletido pelos números do quarto trimestre.
"A partir deste ano, os reflexos dessa integração não vão mais pesar tanto nos números. Isso já aconteceu quando concluímos a integração de outras aquisições, entre 2006 e 2007 ", afirmou Vivien, ressaltando que ainda há ajustes em termos da qualidade do atendimento e do funcionamento dos sistemas, ou seja, da eficiência da operação no Rio.
Ela também reforça que o Fleury é uma empresa aberta e que todos seus números são públicos e não há nenhuma informação que não seja conhecida e explicada para todos. Segundo Vivien, as cotações do Fleury hoje não refletem os fundamentos da empresa, mas oscilam em função da especulação em relação à venda da fatia dos controladores. Já há um entendimento de que o comprador será obrigado a oferecer aos minoritários da companhia o mesmo valor pago aos controladores.
O Gávea, fundado pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, lidera um grupo de investidores que negocia com a compra da participação dos médicos. Os recursos para a aquisição já estariam assegurados e devem incluir um financiamento da ordem de R$ 1,6 bilhão de pelo menos três bancos: Itaú BBA, HSBC e Banco Votorantim. Além das ações, fontes de mercado avaliam que o Gávea poderá fazer uma oferta pelas debêntures do Fleury em circulação. Na bolsa hoje o Fleury vale R$ 2,7 bilhões.
Caso feche a aquisição da participação dos médicos, o Gávea terá de se sentar com a Bradesco Saúde, acionista minoritário relevante da companhia. Fontes próximas à negociação avaliam contudo, contudo, que a instituição não tem interesse em se desfazer da participação. Valor econômico | Leia mais em luchefarma 17/04/2014
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