Os terremotos que têm sacudido as grandes operadoras de telecomunicações há mais de uma década, acelerando o processo de fusão entre grupos internacionais, parecem não ter fim. A América Latina e o Brasil, onde várias companhias de peso disputam espaço, participam ativamente desse processo.
Na semana passada, foi a vez de a Telecom Italia confirmar que está disposta a vender sua participação de 22,7% na Telecom Argentina, que presta serviços de telefonia fixa e móvel sob o comando da holding Sofora, presente também no Paraguai.
No mercado argentino, a Telefónica é a única concorrente da Telecom Argentina na área de telefonia fixa. Como a empresa espanhola poderá exercer seu direito de assumir o controle acionário da Telecom Italia a partir de janeiro, poderia haver um monopólio privado no país vizinho, onde as duas empresas detêm, juntas, 95,6% dos telefones fixos. A Telecom (como é conhecida a Telecom Argentina) tem 4,1 milhões de linhas fixas e a Telefónica, 4,6 milhões.
A concentração de mercado na Argentina também ocorreria nos serviços móveis, uma vez que as duas operadoras somam 60,2% dos celulares no país. Nesse campo, porém, há outros concorrentes. A Claro lidera o mercado, com mais de 21 milhões de linhas, com a Nextel seguindo bem atrás, com 1,7 milhão. A Telecom é a segunda do ranking, com 18,9 milhões de celulares, enquanto a Telefónica, por meio da marca Movistar, ocupa a terceiro colocação, com 16,4 milhões de celulares.
A iniciativa de vender a Telecom é uma saída para o grupo italiano reduzir sua dívida de € 28,2 bilhões. Mas também revela uma estratégia para evitar um confronto com o governo argentino, que desde o anúncio do avanço dos espanhóis sobre a Telecom Italia já investigava se haveria violação de acordos de proteção à concorrência. Para o mercado não houve surpresa, já que a venda era considerada como parte da equação para encontrar uma solução financeira e regulatória para o processo que abre caminho para a Telefónica controlar a Telecom Italia.
A expectativa no mercado é que é o grupo italiano também pudesse anunciar a venda da TIM. Isso porque, se exercer suas opções, a Telefónica passará a controlar a TIM e a Vivo no Brasil. Para evitar a concentração de mercado, estão previstas barreiras regulatórias no país. Por isso, se discutia a fragmentação da TIM, com a venda de pedaços aos seus rivais.
Mas na quinta-feira, em teleconferência com analistas, o presidente interino da Telecom Italia, Marco Patuno, foi categórico: “Já ouvi falar que no Brasil poderíamos ser fatiados. Já falei claramente disso: a TIM Brasil é um ativo principal estratégico. Hoje, o Brasil é parte fundamental da estratégia do grupo e norteia um grande plano de investimentos, de R$ 11 bilhões nos próximos três anos”.
A ênfase de Patuano reforça o que pessoas próximos à companhia têm dito ao Valor - que a venda da TIM não vai ocorrer em curto prazo. Mas como essas pessoas também disseram, o cuidado da Telecom Italia em relação à subsidiária brasileira não significa que ela não será vendida. Patuano não descartou a venda no futuro, desde que seja “pelo preço certo”.
O movimento da Telecom Italia muda o cenário na Argentina, mas preserva, por enquanto, o número de atores no Brasil.
No país, os movimentos de fusões e aquisições acompanham a onda global. Há 12 anos, estavam em curso negociações para unir a Telefônica e a Portugal Telecom em torno da Vivo. Na época, executivos e analistas do setor diziam que ao fim desse processo restariam três grandes grupos no mercado local: a Vivo unificada, a Claro e a TIM. Por várias razões, esse cenário não se confirmou. Agora, a expectativa também é de que restem três concorrentes, embora o ambiente competitivo seja diferente.
Na última década, depois de conseguir ingressar na Vivo, a Portugal Telecom teve de abrir mão de seus 50% na tele para a sócia espanhola, que ficou com o controle total da operadora. O grupo português, então, comprou uma participação na Oi e caminha em direção ao controle da empresa. Na competição estão a América Móvil – com Claro, Net e Embratel -, e a Telefônica, com a Vivo.
No exterior, o grupo espanhol tem mostrado apetite para os negócios. Na semana passada, chegou a um acordo com a PPF Group para vender 65,9% de sua participação acionária na Telefónica República Tcheca, inclusive as operações na Eslováquia. Dos 70,8% que detinha, a Telefónica ficará com 4,9%. A PPF vai desembolsar € 2,467 bilhões para controlar a unidade que opera sob a marca O2, a qual terá de ser substituída em até quatro anos. Em junho, a Telefónica vendeu sua unidade da O2 na Irlanda para o grupo Hutchison Whampoa, de Hong Kong, por € 780 milhões.
Na Alemanha, a Telefonica Deutschland recorreu à Comissão Europeia para pedir que aprove a aquisição da E-Plus, comprada da holandesa Royal KPN. A transação, avaliada em 8,6 bilhões, pode ser concluída no primeiro semestre de 2014 e dar a liderança no mercado de serviços móveis à empresa espanhola, em número de usuários.
A Vivendi, da França, suspendeu temporariamente a venda da brasileira GVT porque não recebeu uma proposta que alcançasse o valor estabelecido. Mas conseguiu um acordo com a Etisalat, dos Emirados Árabes, para vender os 53% que detém na Maroc Telecom, por € 4,2 bilhões de euros. O negócio poderá ser concluído no início de 2014. Com isso, a Vivendi pretende reduzir sua dívida líquida de € 13,2 bilhões e concentrar-se principalmente em mídia e entretenimento.
No início de setembro, a britânica Vodafone vendeu sua participação de 45% na joint venture americana Verizon Wireless para a sócia Verizon, por US$ 130 bilhões. Agora, executivos da também americana AT&T preparam-se para fazer uma oferta pela Vodafone, no ano que vem.
A Verizon, por outro lado, estaria negociando com a fabricante de chips Intel a compra da Intel Media, unidade que está estruturando um serviço de TV pela internet. Com isso, a Verizon adicionaria essa linha de negócios à sua operação de TV paga. A divisão de negócios poderia deslanchar sob a Verizon, que tem 5 milhões de assinantes de TV e outros 6 milhões de clientes para acesso à internet por banda larga.
Os japoneses também estão atentos. No terceiro trimestre, a Softbank concluiu um investimento nas operadoras americanas Sprint e Clearwire. A Sprint vinha sofrendo impacto negativo devido às operações da Nextel nos EUA, adquirida em 2005 e que não tem nada a ver com a Nextel no Brasil. Há alguns meses, a Sprint desativou a rede móvel herdada da Nextel. Agora, sob a Softbank, precisa mostrar habilidade para avançar no mercado dominado pela Verizon e AT&T.
No Brasil, a Nextel, controlada pela americana NII Holdings, continua a enfrentar problemas. O prejuízo da NII cresceu quase 300% no terceiro trimestre, para US$ 300 milhões. A queda da receita no Brasil contribuiu para o resultado e coloca a operadora em uma situação frágil, cogitada para venda. Para lidar com as dificuldades, a NII vendeu, em abril, sua unidade no Peru para a chilena Entel, por US$ 400 milhões, e estuda opções estratégicas no Chile e na Argentina.
A sucessão de ondas de fusões e aquisições é contínua, e com tantos casos pendentes, mais tremores estão à vista.11 de novembro de 2013
Por Ivone Santana | Valor
Fonte: almeidabugelli 11/11/2013
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