Desde a oferta inicial na bolsa eletrônica Nasdaq, em novembro do ano passado, as ações do Groupon, líder em compras coletivas, caíram 72%. O preço de lançamento foi de US$ 20 e, na sexta-feira, os papéis fecharam cotados a US$ 5,49. O Groupon é só um exemplo do comportamento dos papéis de internet. O valor da Zynga, companhia de jogos online, caiu 64% desde sua abertura de capital em dezembro de 2011. As ações do serviço de música online Pandora tinham na sexta-feira uma cotação 13,8% menor que a do lançamento, em junho de 2012. E o Facebook perdeu 26% do seu valor no mercado acionário desde o IPO, em maio do ano passado. Das operações recentes, a grande exceção é o LinkedIn, rede social profissional, que valorizou 293% desde a estreia na bolsa, em maio de 2011.
Há dois anos, muita gente discutia se havia uma nova bolha da internet, como a que estourou em 2000. Os mais animados chegavam a dizer absurdos. David Kirkpatrick, autor do livro O Efeito Facebook, disse que a rede social poderia ser a primeira empresa a atingir um valor de mercado de US$ 1 trilhão. É claro que, como ainda não chegou o fim dos tempos, a previsão do escritor pode um dia até se mostrar certeira. Mas, dois anos depois, o Facebook está muito longe disso. Seu valor de mercado é de US$ 66,6 bilhões. Nenhuma empresa atingiu essa marca de US$ 1 trilhão. A Apple, atual empresa mais valiosa do mundo, é avaliada em US$ 405,4 bilhões. Na época em que Kirkpatrick fez sua previsão, a líder em capitalização de mercado era a petroleira Exxon Mobil, com um valor de US$ 419,4 bilhões. Na sexta-feira, valia US$ 398,6 bilhões.
Em fevereiro de 2011, antes das aberturas de capital dessas empresas de internet, o caderno Link publicou um texto que escrevi, em que explicava o motivo pelo qual achava que havia uma bolha. De 2010 a 2011, o valor do Facebook havia passado de US$ 10 bilhões para US$ 50 bilhões (menos do que hoje, apesar da queda acumulada desde a abertura de capital). O do Twitter tinha aumentado, naquele período, de US$ 3,7 bilhões para US$ 10 bilhões (mesma avaliação de hoje - diferentemente de outras estrelas da internet recente, o Twitter ainda não abriu o capital). O Groupon era avaliado em US$ 15 bilhões, e atualmente vale US$ 3,6 bilhões. A Zynga valia US$ 10 bilhões, e hoje tem capitalização de US$ 2,8 bilhões.
Esse desapontamento dos investidores tem criado vítimas. Andrew Mason, fundador do Groupon, foi demitido do comando da empresa no fim do mês passado. Na carta de despedida aos funcionários, até brincou: "Após intensos e maravilhosos quatro anos como CEO do Groupon, decidi que gostaria de passar mais tempo com a minha família. Brincadeira, fui demitido hoje. Se está tentando adivinhar o motivo, você não estava prestando atenção". Na semana passada, foi a vez do presidente do Pandora, Joe Kennedy, que deixou o posto por causa de uma queda abrupta no faturamento.
Continuo acreditando que houve uma bolha. Mas, como já havia escrito há dois anos, a segunda bolha é diferente da primeira. Na segunda metade da década de 1990, as pessoas pensavam estar criando uma "nova economia", em que as regras básicas, como retorno sobre investimento e rentabilidade, não valiam mais. O negócio era crescer rápido e conquistar uma grande audiência. O faturamento era só um detalhe. No lugar de "break even" (momento em que a empresa começa a ser rentável), os empreendedores discutiam o "burn rate" (tempo que levaria para zerar o caixa antes de um novo investimento). Atualmente, apesar da mudança de humores do mercado, existem negócios sólidos, que faturam e geram lucro.
A primeira bolha era bem diferente. Um grande exemplo daqueles tempos foi a Pets.com, que vendia artigos para animais de estimação pela internet. Era deficitária. Seu modelo de negócios não fazia o menor sentido. Como comida de cachorro é barata e pesada, a Pets.com decidiu subsidiar o frete, e perdia dinheiro a cada venda. A empresa levantou mais de US$ 100 milhões de investimento, gastou US$ 2 milhões num anúncio de televisão durante o Super Bowl (final do campeonato de futebol americano) e acabou fechando as portas.
Fonte: estadao 10/03/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário