Menos de dois meses após assumir as nove concessões de rodovias da ex- OHL Brasil, o grupo espanhol especializado em infraestrutura Abertis está colocando em prática uma nova orientação para a companhia. O grande "apetite" pelo qual a empresa brasileira ficou conhecida em leilões do setor dará lugar a uma "dieta". Além do menor interesse, neste momento, pela conquista de novos projetos em rodovias, a diversificação para o segmento aeroportuário também ficou para uma oportunidade futura.
Em entrevista ontem ao Valor, o presidente-executivo da Abertis, Francisco Reynés, disse que o momento de mais cautela atende à necessidade de "integração" da matriz com a operação brasileira. "Nunca deixamos de olhar oportunidades de investimento, mas no momento a prioridade é a integração dos negócios atuais", resumiu.
A entrada do grupo no país ocorre após operação de troca de diferentes ativos com a também espanhola OHL. Pelo acordo, a Abertis assumiu o controle da OHL Brasil - rebatizada como Arteris - e se tornou a líder global de administração de rodovias, mas herdou passivos de ? 530 milhões.
E o setor rodoviário será um dos únicos focos de atuação do grupo, apesar das diferentes oportunidades em concessões de infraestrutura (aeroportos, ferrovias e terminais portuários) nos próximos meses. "O problema da infraestrutura é que é um negócio tão amplo que dá margem a muitas especulações. Mas nós sabemos qual é o nosso negócio: rodovias", afirmou. Mesmo dentro desse setor, que está às vésperas de duas licitações (caso de trechos da BR-040 e da BR-116), a empresa tem cautela. "Temos nove concessões, que têm um programa de Capex [investimentos] muito importante. Já há trabalho suficiente", disse. Mas informou que vai estudar caso a caso.
Perguntado especificamente sobre interesse nos aeroportos brasileiros, Reynés reiterou que as atenções estão voltadas às estradas. "Há muitos bons negócios no Brasil, mas não há dinheiro para entrar em tudo. Os recursos das empresas não são ilimitados", disse Reynés. Mesmo assim, ele não descartou completamente a disputa por aeroportos no futuro. A concessão de Confins (MG) e Galeão (RJ) já foi anunciada oficialmente pelo governo.
Na última rodada de licitações de aeroportos, a OHL Brasil disputou lance a lance o aeroporto de Brasília, com oferta final de R$ 4,4 bilhões. A vencedora, Engevix, acabou arrematando a concessão por R$ 4,5 bilhões.
O executivo diz que está mantido o plano de investimento nas rodovias brasileiras. Estão previstos desembolsos de R$ 7,3 bilhões nas nove estradas administradas pela Arteris no país ao longo do período de duração dos contratos (que se estendem, dependendo do caso, por cerca de 20 anos). Do montante, R$ 5,9 bilhões estão previstos em cinco estradas federais e os outros R$ 1,4 bilhão em quatro estaduais. Até 2015, o investimento total calculado é de aproximadamente R$ 1 bilhão por ano.
Além dos novos passivos e do plano de investimentos, a Abertis ainda tem que fazer uma oferta equivalente aos minoritários da OHL Brasil, conforme prevê a legislação brasileira em casos de compras de controle. O preço a ser oferecido por ação é mantido em sigilo pelo executivo e está sendo analisado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A empresa já anunciou que o objetivo é manter a Arteris negociada em bolsa.
Reynés não adianta números, mas diz que a busca por taxas de "dois dígitos" de remuneração ao investimento será mantida pela companhia espanhola, mesmo com a queda no custo de capital dos últimos anos. "É um negócio de riscos, não um título", afirmou ele, defendendo as taxas mais altas. Valor Econômico
Fonte: Brazil Modal 20/01/2013
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