Mesmo com o recente cerco da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) às operadoras de planos de saúde, o setor continua preocupando. Dados da autarquia mostram que, desde 2003, o número de companhias em atividade caiu 29,3%, de 2.273 para as atuais 1.607. Esse processo de concentração acendeu o alerta do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que dará prioridade ao tema nas sessões de julgamento deste ano. O órgão antitruste tem pelo menos 30 atos em análise sobre fusões e aquisições relacionados a planos de saúde e outros 70 sobre condutas anticompetitivas, como formação de cartéis e contratos de exclusividade com médicos.
Um olhar apurado sobre o banco de dados da ANS mostra que as 35 maiores operadoras de planos de saúde e odontológicos do país atendem a 25 milhões de beneficiários - o que equivale a 52,2% do total de 47,8 milhões de clientes nas carteiras das empresas. As 10 maiores respondem por 15,5 milhões de pessoas ou 32,3% do total. A campeã em número de clientes é a Bradesco Saúde, com 3,1 milhões. Depois dela, destacam-se Intermédica Sistema de Saúde e Amil Assistência Médica Internacional, cada uma com cerca de dois milhões de beneficiários, segundo a agência.
- Nem todo movimento de concentração é ruim em si. Mas há limites. E, nesse caso, precisamos acompanhar de perto - disse o novo presidente do órgão antitruste, Vinícius Carvalho.
2 milhões podem ficar desassistidos
Não bastasse o ritmo de concentração dos últimos anos, as previsões para o setor são pouco alentadoras. Ruy Coutinho, presidente da Latinlink Consultoria e ex-presidente do Cade, projeta que, nos próximos quatro anos, as dez maiores operadoras vão atender a 60% dos consumidores.
A seu ver, esse processo será cada vez mais acelerado por causa da crise econômica. Além disso, a própria regulação mais rigorosa da ANS deverá fazer com que um conjunto de empresas do universo atual não consiga seguir as regras da reguladora, sobretudo no que diz respeito a garantias financeiras.
Conforme o GLOBO mostrou há duas semanas, atualmente, um total de 141 empresas insolventes podem deixar quase dois milhões de brasileiros sem assistência. Nas contas da ANS, geralmente, 63% das companhias não conseguem sair do buraco.
- Nessa indústria, a liquidação de uma empresa causa uma turbulência infernal. É preciso evitar que aconteça o que está ocorrendo com a telefonia - afirmou ele.
Desgastada com a burocracia para receber autorização para procedimentos, a comerciária Heveline Guedes, de 33 anos, não vê uma saída para o problema. Para conseguir marcar consultas ambulatoriais, em especialidades como clínica médica e ginecologia, ela diz que precisa esperar entre dois e três meses.
- Só é possível ter atendimento no mesmo dia na emergência. Já liguei para clínicas e tentei marcar com o plano e havia vagas. Quando disse que era por convênio, a atendente disse que só teria espaço na agenda mais para frente.
ANS tem estimulado concorrência
A gerente comercial Aline Angélica Lima, de 31 anos, passou por três hospitais para fazer uma radiografia na filha, Amanda. Mesmo assim, com o convênio só conseguiu atendimento na emergência:
- O ideal é saber os lugares que atendem. Para marcar consulta, o prazo tem sido de até 60 dias.
Depois de sentir febre e dor de cabeça, a estudante Ana Carolina Cardoso, de 17 anos, precisou passar por dois hospitais até conseguir atendimento.
- Quando pagamos pela consulta particular, somos bem atendidos. Mas, pelo convênio, o atendimento tem piorado. O melhor mesmo é já saber que hospitais atendem pelo plano - disse.
O diretor-adjunto de habilitação de operadoras da ANS, Leandro Fonseca, disse que a agência tem procurado incentivar a concorrência, por exemplo, com a obrigatoriedade de as operadoras divulgarem os endereços dos profissionais de saúde. A seu ver, mesmo com a crise, não cresce o número de empresas em dificuldade. Considerando empresas com beneficiários, a queda foi de 1.418 para 1.371 desde 2003:
- A preocupação do Cade é válida. Procuramos monitorar o grau de concentração desse setor e fazer com que os consumidores tenham mais informação.
Para a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), o movimento está de acordo com um processo de consolidação de mercado, o que não pode ser confundido com concentração. Por Cristiane Bonfanti da Agência O Globo
Fonte:yahoo 28/07/2012
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