O mercado bancário brasileiro está no radar dos gigantes bancos estatais da China, também os maiores do mundo em valor de mercado.
O ICBC (Industrial and Commercial Bank of China), maior deles, espera desde o ano passado o sinal verde presidencial para poder atuar no país, mas já está com contrato de locação assinado para ocupar um escritório no coração financeiro de São Paulo.
O segundo maior, o China Construction Bank (CCB), sonda há meses possibilidades de entrada por meio de aquisições de bancos de pequeno ou médio porte.
Já o Bank of China, menor que os outros dois e o único que já conta com unidade por aqui, aberta em 2009, começará só agora a "atuar para valer", segundo as palavras de seu atual presidente. Juntos, os três somam números impressionantes: valor de mercado próximo de US$ 570 bilhões e mais de 40 mil agências na China - todos são de controle estatal.
Um quarto interessado seria o China Bank of Communications, menor que os outros três e em estágio ainda preliminar de prospecção do mercado doméstico.
O ICBC, cujo valor na bolsa de Hong Kong é de US$ 238,2 bilhões, ainda não tem permissão oficial para operar no Brasil, mas fechou contrato para ocupar 1.500 metros quadrados no mesmo prédio que já abriga o BTG Pactual, Banco Espírito Santo e J.P. Morgan, na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. O capital inicial declarado ao BC em abril do ano passado foi de US$ 100 milhões, o que caracteriza um banco com operações de porte tímido em comparação às cifras da matriz. Não há prazo limite para que a concessão seja dada. Seu futuro presidente já está no país há alguns meses e executivos brasileiros estariam sendo abordados para compor o time. No total, entre 40 e 70 funcionários devem ocupar a unidade, e o ICBC procura no momento 12 apartamentos residenciais na mesma região para os funcionários chineses mais graduados que virão. A KPMG e o escritório Tozzini Freire Advogados têm auxiliado o banco.
Em agosto do ano passado o ICBC pagou US$ 600 milhões por 80% da unidade do Standard Bank na Argentina, sendo que em março de 2008 já havia se tornado o sócio majoritário da matriz do Standard Bank. Comprou, por US$ 5,4 bilhões, 20% do banco sul-africano que opera no Brasil como banco de investimento. Segundo uma fonte próxima do ICBC, ainda não está clara qual será a estratégia em relação aos dois bancos no país.
Já o CCB (US$ 200,8 bilhões na bolsa de Hong Kong) tem cogitado uma outra via de entrada. Desde o ano passado executivos do banco estudam o mercado brasileiro, e a matriz em Pequim já teria aprovado a aquisição de um banco que poderia ser tanto de capital 100% nacional como uma subsidiária de um grupo estrangeiro interessado em deixar o país. Segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, que tem assessorado executivos do CCB, o valor autorizado para a compra estaria entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões. Em março, um grupo de seis executivos do banco, dentre eles um diretor de aquisições estratégicas, esteve em São Paulo e no Rio para avançar nas conversas. Uma das oportunidades consideradas seria a unidade local do banco alemão West LB, que passa por reestruturação global e anunciou no dia 16 de março que a subsidiária brasileira está à venda.
O Bank of China é o único já autorizado a operar no país e abriu um banco múltiplo no começo de 2009. Até agora, entretanto, pouco ou nada fez. No momento, passa pela troca de sua direção local, o que, espera-se, anime os negócios. No fim de abril, Zhang Dongxiang deve assumir a operação no Brasil, sendo que o atual presidente, Jianhua Zhang, voltará para Pequim para atuar como uma espécie de conselheiro para os assuntos relativos à unidade brasileira perante a cúpula da instituição.
O Bank of China começou a operar com capital de US$ 60 milhões e contava com valor próximo de R$ 138 milhões em patrimônio líquido no final de 2011. Uma examinada em seu balanço mostra que a instituição limitou-se, até agora, a comprar papéis do governo brasileiro. Em 31 de dezembro, tinha cerca de R$ 111 milhões em títulos de valores mobiliários (a grande maioria de notas do Tesouro de curto prazo), e uma carteira de crédito tímida, próxima de R$ 27,8 milhões.
Segundo Jianhua, os primeiros anos no país serviram para "conhecer as regras do mercado brasileiro" e, a partir de agora, o banco deve de fato começar a liberar crédito com mais força.
Os bancos chineses, ainda que comecem a atuar timidamente por aqui, devem acabar brigando pelo mesmo filão de clientes. O que mais lhes interessa é prestar serviços a grandes empresas chinesas de porte global que agora começam a desembarcar em escala cada vez maior no Brasil. O interesse maior é na concessão de linhas de crédito e na realização de operações de câmbio, dizem fontes próximas aos bancos.
De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os investimentos chineses de 2003 até março de 2011 (diretos ou decorrentes de fusões e aquisições) somaram US$ 37,1 bilhões, em um total de 86 operações. O mais recente plano quinquenal chinês prevê cerca de US$ 500 bilhões de investimentos estrangeiros até 2015, e uma fatia importante desse valor deve ser destinada à América Latina e, especialmente, ao Brasil.
Alguns exemplos: em outubro de 2010 a China Petroleum & Chemical Corp, ou Sinopec, pagou US$ 7 bilhões por uma participação de 40% na unidade brasileira da companhia petrolífera espanhola Repsol. Em novembro do ano passado, a montadora Chery anunciou investimentos de US$ 400 milhões em uma fábrica em Jacareí, no interior de São Paulo, que deve começar a operar em 2013. Por Filipe Pacheco
Fonte:Valor02/04/2012
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