20 setembro 2011

Cenário ruim fecha janela para ofertas de ações neste ano.

O ano de 2011 praticamente já acabou. Pelo menos, para emissões de ações. Os bancos de investimento não pretendem levar mais ninguém ao mercado, além da Isolux e da TIM, a menos que as condições melhorem substancialmente.

Nesse cenário, o volume captado neste ano até agora – R$ 16,3 bilhões – só perderia para 2004 e 2005 e ficaria bastante atrás do que 2008 e 2009 movimentaram, mesmo com as transações já anunciadas.

As operações mais esperadas, da companhia de turismo CVC e da empresa de tubos e conexões Tigre, devem ficar para 2012. A ideia dos coordenadores é não gastar boas histórias a serem contadas com o mercado ruim. Ambas têm potencial para fazer distribuições na casa do bilhão.

Como essas companhias não precisam de dinheiro com urgência, não faria sentido enfrentar o mau humor do mercado e, muito provavelmente, ter de conceder descontos relevantes para fazer uma colocação.

Assim, a meta do presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, de R$ 55 bilhões em ofertas no ano, está cada vez mais distante.

A avaliação hoje é que as incertezas com relação às economias globais e à volatilidade instalada nas bolsas não favorecem as operações. Ir ao mercado em um momento como este seria aceitar descontos nas ações, o que os empresários não estão dispostos a conceder – à exceção da Isolux, aparentemente.

Em agosto, por conta da crise no mercado europeu, o grupo espanhol Isolux Corsan, que atua na área de construção, comunicou que a sede mundial da recém-criada Isolux Infrastructure seria fixada em São Paulo, de onde será comandada toda a área de concessão de rodovias, de linhas de transmissão e geração de energia fotovoltaica do grupo que está instalado em sete países. Dias após o anúncio, a empresa entrou com pedido de análise de oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que deverá ser de cerca de R$ 1,5 bilhão. O coordenador líder da operação é o também espanhol Santander, que estaria confiante na conclusão da operação.

A tese é que a Europa está perto de uma recessão e investidores europeus que conhecem a holding tendem a acompanhar o investimento dessa empresa no Brasil, o que garantiria boa demanda para a distribuição.

Apesar dos tempos difíceis, nas últimas semanas, grandes bancos de investimento, como Credit Suisse e BTG Pactual, têm convidado investidores e analistas a participar de reuniões para apresentar setores – de infraestrutura (aeroportos) e hospitalar foram alguns dos temas abordados. Para alguns gestores, quando essas reuniões começam a acontecer, normalmente precedem apresentações de companhias candidatas à futura abertura de capital.

Na CVM, ainda estão em análise as operações de Enesa e Los Grobo, embora interrompidas. Petroreconcavo e a holding de marcas Inbrands desistiram de realizar as ofertas. No fim de agosto, o pedido de registro de companhia aberta da Camil foi indeferido pela CVM por descumprimento dos prazos. Procurada pelo Valor, a Camil informou que não comenta o assunto.

Para levar uma oferta ao mercado, agora as empresas precisam atualizar os dados do terceiro trimestre deste ano. A partir daí, sem interrupções, do início da operação até a estreia na bolsa, seriam necessários pelo menos 45 dias para a abertura de capital. Nesse prazo, as colocações seriam concluídas no fim do ano, época tradicionalmente de pouca demanda.

Neste ano, em função do apetite reduzido dos investidores, Cimentos Liz e Coopersucar interromperam as operações por não concordarem com os preços que o mercado estava disposto a pagar. Pelo mesmo motivo, a Companhia de Águas do Brasil -CAB Ambiental cancelou sua operação no Bovespa Mais. A Desenvix Energias Renováveis também desistiu de realizar uma oferta no Novo Mercado e optou pelo mercado de acesso, mas ainda não confirmou a listagem.

Descontos, aliás, foram a tônica das ofertas no início do ano.
Os preços das operações da administradora de shoppings Sonae Sierra Brasil, da fabricante de autopeças Autometal e da Queiroz Galvão ficaram abaixo do mínimo sugerido. Mais recentemente, a Abril Educação também vendeu seus papéis abaixo do desejado. Ofertas de outras companhias saíram no piso: a fabricante de relógios Technos e a varejista Magazine Luiza. Qualicorp, Time For Fun e Brazil Pharma venderam as ações no centro do intervalo sugerido.

Apenas a primeira operação do ano, da Arezzo, teve demanda suficiente para sair no topo do intervalo pretendido.

Mesmo colocações de companhias já abertas ficarão restritas a casos muito específicos ou a empresas realmente necessitadas. A oferta da companhia de telefonia TIM, portanto, deve ser uma das poucas do segundo semestre.
A operadora pretende levantar R$ 1,7 bilhão. Embora nem os analistas entendam por completo a decisão de enfrentar a falta de apetite por ações do atual momento, a companhia é exceção por viver uma boa fase com o mercado – seu atual valor na bolsa (R$ 20 bilhões) está em patamares só registrado antes em 2007.
Fonte:valoreconômico20/09/2011

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