Autor(es): Gustavo Brigatto, de São Paulo
Publicado no jornal Valor Econômico - edição de 01/03/2010
Depois de um ano de ritmo mais lento, o setor de tecnologia da informação, que sempre foi um dos mais ativos na área de fusões e aquisições, parece pronto para retomar muitos dos planos adiados em 2009, devido aos efeitos da crise econômica.
Segundo números da KPMG, só nos dois primeiros meses do ano foram registradas 12 operações no país, um recorde para o período. E a expectativa é de que o ritmo continue forte. "Temos 16 mandatos de empresas interessadas em comprar e vender ativos", diz Ruy Moura, diretor da Acquisitions, especializada nesse tipo de processo.
Empresas como BBKO, Benner Sistemas, grupo Linx e Ideiasnet veem nessa estratégia a oportunidade para crescer de forma mais acelerada em 2010. "Ainda é cedo para falar se vamos bater o recorde de transações de 2008 [72 no total], mas até maio pelo menos teremos muitos anúncios", diz Luís Motta, sócio responsável pela área de fusões e aquisições da KPMG. O executivo prevê que nos primeiros cinco meses do ano o volume de transações será atípico por conta do grande volume de negociações que foram retomadas ao longo do segundo semestre de 2009, quando a economia começou a dar sinais de melhora.
Como esses processos levam, em média, seis meses para ser concluídos, os primeiros meses do ano devem concentrar a maior parte dos anúncios. No ano passado, a KPMG contabilizou 58 operações de fusão e aquisição no Brasil, número praticamente igual ao de 2007.
Segundo Alexandre Pierantoni, sócio de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers, de todo o investimento de private equity em operações de fusão e aquisição no Brasil em 2009, 12% foram destinados ao setor de TI.
A consolidação tem se tornado cada vez mais importante para as companhias de TI porque dá a elas a musculatura necessária para se defender de rivais estrangeiros, que têm buscado negócios no país. Além disso, o fortalecimento de parte de seus clientes vem exigindo um escopo maior de atuação, obtido mais rapidamente com as aquisições. "Empresas grandes precisam de fornecedores grandes", diz Alberto Menache, diretor presidente do grupo Linx, de sistemas de gestão para o varejo. Depois do anúncio da compra de duas empresas no mês passado, a Linx tem planejadas outras duas operações para 2010. A empresa vendeu 21,7% de seu capital para o BNDESPar, braço de investimentos do BNDES. O banco tem hoje participação em 100 empresas de TI.
A escala é um ponto fundamental para o aumento das receitas. "Quanto mais completa a oferta, mais você pode cobrar e melhorar as margens", diz Rodin Spielmann, diretor de relações com investidores da Ideiasnet. No ano passado, a companhia, que funciona como uma holding de negócios de TI e internet, esteve envolvida em pelo menos cinco operações. Para 2010, a previsão é de novos lances. "Ainda há muita consolidação a ser feita", diz Spielmann.
Para Marcos Peano, presidente da BBKO, o momento é propício para aquisições. "Por conta dos resultados fracos em 2009, o preço das companhias está cerca de 30% menor", diz o executivo. Em dezembro, a BBKO fechou sua primeira aquisição, no valor de R$ 3 milhões. O objetivo é concluir outro negócio até o fim do ano. A empresa tem R$ 5 milhões em recursos próprios para investir na operação. Segundo Peano, a estratégia tem como objetivo dar força ao projeto de abertura de capital da BBKO, previsto para 2014.
É uma meta ambiciosa. Para chegar lá, a companhia considera várias possibilidades para elevar seu faturamento, atualmente de R$ 60 milhões (R$ 53 milhões da BBKO, mais R$ 7 milhões da SYSone Consulting). Uma das alternativas é vender uma participação para um sócio maior. "Já tivemos conversas com quatro grupos. Uma delas está mais bem encaminhada", diz Peano. A BBKO foi procurada recentemente por uma companhia japonesa que pretende investir no Brasil, conta o executivo. "As empresas brasileiras têm que se preparar, ou a consolidação do setor será conduzida pelas companhias estrangeiras", diz.
Para Severino Benner, da Benner Sistemas, o problema é que faltam empresas prontas para o processo de fusão e aquisição. "Esse número não passa de 20. As companhias menores não estão bem organizadas em termos de governança", afirma. No ano passado, esse tipo de problema impediu que a empresa concluísse as duas aquisições planejadas. A previsão é de que os negócios sejam fechados em 2010. Benner também estuda a fusão com uma companhia com faturamento próximo ao do seu negócio, de R$ 63 milhões em 2009. O objetivo é chegar aos R$ 200 milhões em dois anos.
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