“Esse é só o começo da nossa primeira jornada”, resumiu Thiago Piau, presidente da Stone, em uma mini-coletiva à imprensa após a aprovação dos acionistas da Linx à aquisição pela companhia. Ele respondia, então, sobre o apetite para novas compras. Não titubeou: “a gente pensa grande, sonha grande”. Sem hesitações, nem mesmo na sequência de uma transação de 6,7 bilhões de reais e 100 dias de polêmicas.
Piau continuou sem querer falar de sinergias. Quando questionado sobre elas, comentou sobre tudo que pode oferecer agora ao seu cliente, com a iniciativa de verticalização mais agressiva já feita pela companhia. Nada de números. Nada de projeções. “Não gostamos de falar desse dado e tomamos muito cuidado com isso porque conduzimos a empresa pensando no longo prazo e não no próximo trimestre.”
O discurso de vencedor da batalha foi quase todo voltado ao próximo desafio da operação: o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A transação, que na largada parecia imune a esse tipo de questionamento, acabou atraindo preocupações de rivais do mercado de adquirência, mesmo os muito maiores que a Stone. “O cliente escolhe. Essa é nossa forma de empreender. Não acreditamos em venda casada. Sempre fomos abertos aos parceiros e vamos continuar assim”, diz Piau. A expectativa da Stone, segundo ele, é que o processo de análise leve de três a seis meses.
O executivo também quis passar calma aos funcionários da Linx, após mais de três meses de futuro em aberto. “Os times são muito complementares”, afirma, logo após usar a expressão “abraçar” as pessoas que chegariam. Vamos trabalhar nessa transformação e no planejamento da integração.
Para ele, o negócio vai ser uma grande oportunidade de “contribuir com a digitalização do varejo brasileiro”. Além disso, deixa a companhia que sempre foi muito voltada à pequena e média empresa pronta para atender negócios de qualquer tamanho, na avaliação de Piau.
Nos primeiros nove meses de 2020, mesmo com a pandemia, a Stone teve receita líquida de 2,3 bilhões de reais, um crescimento superior a 29%. A base ativa de clientes da companhia aumentou mais de 40% na comparação anual, para 583 mil. O terceiro trimestre teve diversos marcos históricos: volume total de pagamentos, receita consolidada e fluxo de caixa livre gerado, entre outros. Já a Linx, nesse mesmo período, houve aumento de 13,5% na receita líquida, para 643 milhões de reais.
Juntas, portanto, as companhias somariam, de imediato, uma receita líquida da ordem quase 3 bilhões de reais de janeiro a setembro. Em valor de mercado, a Stone encerrou essa terça-feira avaliada em 110 bilhões de reais. Com a Linx, esse total seria de 117 bilhões de reais. Contudo, a empresa adquirida vai passar a se beneficiar dos múltiplos normalmente mais elevados pagos na Nasdaq.
Contudo, essa transação não se trata de uma adição pura simples. O negócio tem caráter estratégico para o posicionamento de futuro da Stone. Não por acaso, Piau falou sobre as transformações do varejo brasileiro e como a união com a Linx prepara a empresa para esse futuro. Quando anunciou o negócio, a ação da Stone era negociada por 50 dólares. Ontem, fechou o after-market em 67,10 dólares — uma valorização de 34%.
Sobre todas as discussões a respeito do formato e a governança da transação, Piau não se ateve a detalhes específicos, limitou-se a tratar de forma geral. “Ao longo do tempo, soubemos ouvir o mercado e tivemos humildade para ajustar a transação conforme as demandas que recebemos. O resultado da assembleia agora fala por si.”
Os números da assembleia envolvem diversas curiosidades sobre o negócio e seu resultado final. Para não cansar o leitor, o EXAME IN optou por destacar em tópicos.
O trio de fundadores da Linx Nércio Fernandes, Alberto Menache e Alon Dayan sai da operação com 1,05 bilhão de reais pela venda de suas ações, mais 185 milhões pelo acordo de não competição. Menache recebe ainda 5 milhões de reais por um ano para contribuir na integração. Soma de tudo isso: 1,24 bilhão de reais. *
O total final que o trio receberá é rigorosamente o mesmo da operação em seu formato original, mas com uma distribuição diversa. Antes, o total embolsado com a venda das ações seria de 935 milhões. A esse valor somavam-se 225 milhões de reais pela não competição e mais 90 milhões de reais de um acordo de trabalho de Menache como conselheiro da Stone para a área de software por três anos. Soma: 1,25 bilhão de reais*
Os dois itens acima significam que, depois de tanta polêmica, a operação caminhou na direção que o mercado queria: o valor no bolso do acionista aumentou e o extra proporcional dos fundadores da Linx caiu.
A assembleia contou com a presença de detentores de 138,8 milhões de ações da Linx, o equivalente a cerca de 79,5% do capital. Descontados os acionistas fundadores da Linx e a fatia da Stone, o quórum de mercado foi de 57% do capital total, ou pouco mais de 100 milhões de ações.
Os votos a favor da união das empresas somaram 97,4 milhões de ações, o que equivale a 55,6% do capital total da Linx — e nesse total estão 27,7 milhões de ações dos fundadores e 9,4 milhões de ações da Stone. Considerando apenas os votos de mercado exclusivamente sobre esse quórum, a aprovação foi de 60%.
A operação poderia ter sido aprovada sem os votos da Stone, mas em nenhuma hipótese sem os votos do trio de fundadores. O mínimo obrigatório era o ‘sim’ vindo de 87,5 milhões de ações ou de 73,6 milhões se os fundadores estivessem impedidos.
Como os fundadores foram essenciais à aprovação do negócio, a decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de liberar o voto do trio foi decisiva para o resultado
A transação, portanto, faz história e jurisprudência
A soma de todos os aumentos feitos pela Stone em sua oferta é de 598 milhões de reais. Esse valor é mais do que a multa imposta à Linx caso ocorresse uma transação com a Totvs e mais de três vezes o valor do benefício adicional que os fundadores receberão por um acordo de não competição de cinco anos (185 milhões de reais).
Quem tinha 1.000 reais em ações da Linx no dia 10 de agosto, tem agora 1.510 reais
*Os valores de venda contém o preço atualizado da ação da Stone e dos contratos com os fundadores, o preço da ação em torno de 50 dólares – data do anúncio original e do ajuste. Mas a conclusão é basicamente a mesma. Fonte: Exame .. Leia mais em imoveweb 20/11/2020
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