Com Joe Biden ou Donald Trump no comando dos Estados Unidos, o Brasil terá de lidar com obstáculos em sua relação comercial com os americanos. Uma eventual presidência do democrata deve aumentar a pressão com a condução da política ambiental brasileira, enquanto a reeleição do republicano mantém o viés protecionista da economia americana. .
Ao longo da campanha, os dois candidatos não foram muito detalhados em suas propostas de comércio exterior com a América Latina. O foco estava na China e na União Europeia, o que indica, segundo analistas, que nenhuma mudança no comércio com o Brasil deve ocorrer tão cedo.
“A PRIMEIRA OBSERVAÇÃO É QUE A AMÉRICA LATINA COMO UM TODO NÃO É UM TEMA CENTRAL DA POLÍTICA EXTERNA AMERICANA”, DIZ WELBER BARRAL, EX-SECRETÁRIO DE COMÉRCIO EXTERIOR. “MUITO PROVAVELMENTE, O BRASIL SERÁ UMA QUESTÃO SECUNDÁRIA E CORRE O RISCO DE SER DOMINADO PELA QUESTÃO AMBIENTAL.”
Hoje, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Entre janeiro e setembro deste ano, a corrente de comércio (soma das importações e exportações) com os americanos somou US $ 44,6 bilhões. Com os chineses, a rede chegou a US $ 73,4 bilhões.
BIDEN E A QUESTÃO AMBIENTAL
Líder nas pesquisas eleitorais, Biden já citou o alto desmatamento da Amazônia em debate com Trump e disse que o Brasil pode enfrentar “consequências econômicas” se as taxas de perda florestal não forem revertidas.
O aumento do desmatamento no Brasil já está no radar de outros países há algum tempo. O Parlamento Europeu, por exemplo, indicou que o acordo com o Mercosul – que demorou 20 anos para ser assinado – não deve ser ratificado se o governo brasileiro não promover mudanças em sua política ambiental.
“AO CONTRÁRIO DE TRUMP, COM BIDEN (NA PRESIDÊNCIA), ACHO QUE VAI HAVER UM EFEITO IMPORTANTE NA ÁREA AMBIENTAL, VAI HAVER UMA COORDENAÇÃO DA EUROPA E DOS EUA PARA PRESSIONAR O BRASIL”, DIZ RUBENS BARBOSA, EX-EMBAIXADOR DO BRASIL EM WASHINGTON ENTRE 1999 E 2004.
Nesse cenário de eleição de Biden, em que a agenda ambiental deve ganhar força, os produtos brasileiros podem sofrer algum tipo de dificuldade para entrar no mercado norte-americano e possíveis acordos comerciais devem travar.
“Os democratas em Washington – na Casa Branca e no Congresso – provavelmente questionariam as políticas ambientais do Brasil (…) e podem se recusar a assinar acordos comerciais com o governo Bolsonaro”, escreveram economistas do banco BNP Paribas Marcelo Carvalho e Luiz Eduardo Peixoto.
Com Trump, as relações de maior protecionismo devem continuar, mas ainda não é possível saber se haverá um avanço.
Nesse primeiro mandato, o atual presidente dos Estados Unidos abriu guerra comercial com a China e aumentou as tarifas sobre as importações de aço e alumínio, o que afetou os produtores brasileiros.
As medidas mais protecionistas no comércio internacional vieram dentro de uma política que Trump chamou de America First. Na campanha de 2016, ele prometeu reduzir o déficit comercial do país.
O republicano também alienou a economia americana de entidades e negociações multilaterais, esvaziando a Organização Mundial do Comércio (OMC) e retirando os Estados Unidos do Tratado de Associação Transpacífico (TPP).
“TRUMP JÁ DISSE MUITAS COISAS SOBRE RESISTÊNCIA. SE CONTINUAR NESSE TOM, O QUE SE ESPERA É UM CENÁRIO INTERNACIONAL MAIS CONFLITUOSO ”, AFIRMA LIA VALLS, PESQUISADORA DO INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS.
A implantação da tecnologia de quinta geração (5G) no Brasil também deve ser afetada em função do resultado das eleições americanas.
Na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o 5G tornou-se mais uma batalha. Os dois países disputam qual nação terá influência no mundo da implantação da nova tecnologia.
Em um claro sinal dessa guerra tecnológica, a chinesa Huawei, detentora de patentes de 5G, enfrenta restrições nos Estados Unidos. A empresa é acusada de manter relações com o Partido Comunista Chinês. Em julho, o Reino Unido excluiu a Huawei de sua rede 5G.
No Brasil, o leilão 5G foi adiado para 2021 por causa da pandemia do coronavírus.
Por enquanto, Bolsonaro disse que caberá a ele decidir sobre a implantação da internet móvel 5G no Brasil, o que pode indicar uma preferência pelos Estados Unidos em caso de vitória de Trump, da qual Bolsonaro diz ser um aliado.
Segundo Bolsonaro, não haverá “ninguém adivinhando” na definição de tecnologia.
“SE TRUMP VENCER, A PRESSÃO PARA QUE O BRASIL FIQUE DO LADO DOS AMERICANOS PODE AUMENTAR”, DIZ BARBOSA. “COM O BIDEN, OS GRUPOS INTERNOS, AS EMPRESAS QUE QUEREM QUE O PAÍS TENHA UMA POSIÇÃO INDEPENDENTE, VÃO FICAR MAIS FORTES. É POSSÍVEL QUE O BRASIL NÃO EXCLUA A EMPRESA CHINESA DO PROCESSO DE LICITAÇÃO DO 5G. ”
Em outubro, o Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (EximBank) e o Ministério da Economia firmaram acordo que prevê US $ 1 bilhão para o financiamento de diversos projetos no Brasil, entre eles os de 5G.
No mercado financeiro, os agentes leram que a corrida presidencial deve ser vencida pelo democrata. “O cenário mais provável é uma vitória de Biden, sem contestação”, afirma o economista-chefe da Mauá Capital, Alexandre Ázara.
Os investidores, no entanto, também estão analisando a eleição para o Senado dos EUA. Uma grande vitória democrata na Câmara pode indicar que o partido terá força para aprovar diversas medidas de estímulo fiscal, que podem piorar as contas públicas do país.
Nesse contexto, para conter a inflação estimulada pela piora fiscal, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) pode ser forçado a elevar as taxas de juros, o que afetaria economias emergentes, como a brasileira. Hoje, os juros estão na faixa de 0% a 0,25%.
Taxas de juros mais altas nos EUA têm potencial para atrair fundos investidos em economias emergentes.
“O TAMANHO DA REPRESENTAÇÃO NO SENADO É TÃO IMPORTANTE QUANTO A PRÓPRIA ELEIÇÃO”, DIZ ÁZARA. Fonte G1 Leia mais em opetroleo 02/11/2020
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