A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus tende a estimular um novo movimento de fusões e aquisições no setor elétrico. Além da continuidade do interesse por ativos de energia renovável, incluindo no segmento de mini e micro geração distribuída, empresas de manutenção e serviços ligados ao setor, bem como comercializadoras estão entre os principais focos de interesse, segundo o sócio-líder das indústrias de Energia, Mineração, Siderurgia & Metalurgia da PwC Brasil, Ronaldo Valiño.
A despeito da imagem negativa do Brasil que vem se propagando no exterior neste momento, o executivo afirma que “tem muita gente olhando” ativos de energia no Brasil. “Em função de ainda estarmos na pandemia, as empresas neste momento estão avaliando e fazendo cálculos de valuation, ainda não vemos as operações sendo concluídas, mas há investidores olhando para o Brasil, sim”, disse Valiño, em entrevista ao Broadcast Energia.
Entre as principais razões apontadas pelo executivo para o interesse no Brasil está o fator câmbio. “Com o dólar a R$ 5,20, o Brasil fica mais atrativo para investidores estrangeiros e, somado a isso, tem a situação de piora das contas de algumas empresas”, afirma Valiño. “O Brasil se torna mais interessante para oferta de compra, e não só de empresa fim”, afirma, referindo-se ao interesse gerado pelas empresas de serviços.
Ele também comentou o fato de que, a despeito da recente queda do consumo de energia no País em decorrência da pandemia, o Brasil é visto como um mercado de grande potencial, tendo em vista o tamanho da população e o consumo per capita ainda baixo em relação à outros mercados. Também há a oportunidade de desenvolvimento de novas capacidades de energia solar e eólica. Adicionalmente, diz, o Brasil é reconhecido por sua segurança regulatória e jurídica. Para o especialista, o País agiu rapidamente no combate aos impactos econômicos da pandemia, o que garantiu evitar consequências mais graves no que diz respeito à garantia de fornecimento aos consumidores. “Isso mostra que o Brasil tem um setor de energia preparado, que teve o auxílio adequado e é resiliente a momentos de crise”, disse.
As distribuidoras de energia no Brasil chegaram a registrar uma queda superior a 10% no mercado em maio, em meio às medidas de distanciamento social adotadas em grande parte do País. Mas, conforme os mais recentes dados do Ministério de Minas e Energia, o recuo no consumo vem diminuindo, no acumulado dos últimos 30 dias, frente igual etapa do ano passado, e já chega a um índice inferior a 6%. Por outro lado, as concessionárias têm registrado aumento da inadimplência da ordem de 5% em 30 dias, superando os 8% no acumulado desde o início das medidas de combate à disseminação do novo coronavírus no País. Com isso, essas empresas amargam uma queda na receita de mais de 12% e aguardam a conclusão de uma operação de socorro financeiro costurada pelo governo, que as permita a liquidez necessária para cumprir seus compromissos frente aos demais elos da cadeia, como transmissoras e geradoras.
Mas Valiño salientou que, mesmo com as dificuldades financeiras enfrentadas, as concessionárias de energia têm mantido seus negócios. Ele admitiu que a queda na receita, por um período ainda incerto, deve levar as empresas de energia a reavaliar o orçamento em busca de ganhos de eficiência e replanejar investimentos, adiando alguns deles e até vendendo ativos. Mas considera que tais programas deverão voltar em pouco tempo.
“Infelizmente, essa pandemia pegou o setor em um momento em que havia muito otimismo com planos de privatização da Eletrobras e ampliação da infraestrutura, havia várias empresas com programas grandes de investimento no País, que era tido por grandes grupos internacionais como um dos principais focos de investimentos”, disse o especialista, citando Iberdrola, Engie e Enel. “Todos vão esperar um pouco, mas a tendência é que, passada a pandemia, esses investimentos vão acontecer, porque todos olham o potencial de retorno no Brasil”, disse.
Novas tecnologias
Além do potencial crescimento de mercado, o especialista da PwC aponta que a pandemia de certa forma reforçou a necessidade das empresas de apostar em novas tecnologias. “Os investimentos em tecnologia poderão até ser postergados, mas não poderão deixar de ocorrer, porque a empresa que deixar de fazê-lo corre o risco de ficar para trás”, disse.
Valiño se refere, em particular a investimentos voltados à relação com o usuário, que permitam às empresas ter maior conhecimento sobre o perfil de seus clientes, de maneira a oferecer a maior gama de serviços. “O olhar no cliente e no consumidor veio para ficar – é mais aguerrido na Europa, mas vai chegar aqui com as mudanças na regulação”, disse. O executivo da PWC lembra que em muitos países europeus o mercado de energia é 100% livre, o que acarreta em maior competição entre as empresas de energia para atrair clientes. Mas aqui já há discussões sobre mudanças legais que, no futuro, vão permitir a todos os consumidores de energia a escolha do seu fornecedor.
Um estudo global realizado pela PwC sobre o impacto da pandemia no setor elétrico aponta que as concessionárias de energia podem aproveitar parte das medidas adotadas para adaptar suas operações durante a pandemia para incorporá-las em definitivo. “À medida que o setor emerge da crise, melhorias na eficiência operacional, lideradas pela tecnologia, impulsionarão a performance financeira e operacional”, diz o estudo. “As empresas devem procurar outros segmentos para ajudar a desenvolver novos modelos operacionais que sejam aptos para o futuro”, informa. Na análise da consultoria, há uma janela de oportunidade para que as elétricas transformem seus modelos de serviço, desenvolvam novas soluções e fortaleçam o relacionamento com os clientes. O Estado de S.Paulo - Coluna do Broadcast - Leia mais em abinee.02/07/2020
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