23 abril 2020

PIB per capita terá pior década em mais de 100 anos, diz Ibre

Projeção aponta queda anual média de 0,6% em dez anos, resultado inferior ao da década de 1980

Com essa sequência de resultados, o PIB per capita deve encerrar esta década com queda média anual de 0,6%, o pior desempenho desde a primeira década do século passado

C om a economia caminhando para mais um ano de recessão, a década atual (2011-2020) pode ser a de maior empobrecimento médio da população brasileira em mais de 100 anos, tomado como referência o Produto Interno Bruto (PIB) per capita - definido pelo quociente do valor do PIB com a população total.

Cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) obtidos pelo Valor mostram que o PIB per capita deverá recuar 4,1% em 2020, impactado pelas medidas de isolamento social do novo coronavírus, para R$ 30.780. Esse valor será o menor nível da renda desde 2007 (R$ 29.778).

Se confirmada a projeção para 2020, o Brasil terá registrado quatro anos de queda do indicador no período de apenas uma década. O PIB per capita brasileiro também recuou nos anos de 2014 (-0,3%), 2015 (-4,4%) e 2016 (-4,1%). Desde então, exibia uma lenta recuperação.

Com essa sequência de resultados, o PIB per capita deve encerrar esta década com queda média anual de 0,6%, o pior desempenho desde a primeira década do século passado. Será pior, portanto, do que os anos 80, a chamada década perdida, quando a média foi de -0,4%.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, diz que o PIB brasileiro deverá recuar 3,4% neste ano, sob influência negativa do novo coronavírus. Já a população deverá crescer 0,7% em 2020, para pouco mais de 211 milhões de habitantes.

Para ela, o problema do resultado ruim do PIB per capita nesta década está na recessão medida entre 2014 e 2016, quando o país caminhou na contramão do restante da economia mundial. Em 2020, grande parte dos países também terá retrocessso.

“O país buscou crescer no início da década com política fiscal e creditícia expansionista, com o pé no acelerado. É algo que se deve fazer apenas quando não há outros instrumentos, como espaço para reduzir juros, o que existia. Então, a recessão iniciada em 2014 tem uma origem insana, de criação de desequilíbrios macroeconômicos”, diz.

A economista acrescenta que, mesmo sem a crise do coronavírus, o desempenho do PIB per capita nesta década seria basicamente medíocre, mostrando apenas estabilidade. Para esse conta, o Ibre/FGV utilizou sua projeção anterior para a atividade econômica em 2020, que era de crescimento de 2,2%.

Para ter a dimensão do tamanho do retrocesso, o pesquisador Paulo Peruchetti, do Ibre/FGV, calculou o PIB per capita desde 1900, usando como base estimativas do crescimento do produto real no Brasil construídas pelo pesquisador do Claudio Haddad, disponível no site do Ipea, para o período de 1900 a 1947.

Os pesquisadores do Ibre/FGV frisam que a comparabilidade do desempenho do PIB ao longo das décadas é imperfeita por escassez de informações do início do século passado. Os indicadores econômicos eram centrados, por exemplo, no setor agrícola, com poucos dados de serviços.

Com essa ponderação, o levantamento mostra que o PIB per capita brasileiro cresceu nas sete primeiras décadas século 20, considerando a média anual da década. O melhor desempenho foi na década de 70, período do chamado “milagre econômico”, com avanço de 5,8%. Por Valor Econômico - Leia mais em agorarn 23/04/2020




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