A Camil Alimentos ingressou com uma solicitação de acesso junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para participar como interessada no processo que avalia a compra da divisão de café da Mitsui pelo Grupo 3corações. No documento, assinado pelo advogado Olavo Chinaglia, a líder brasileira do mercado de arroz e feijão sustenta que a aquisição teve “o efeito de dificultar o ingresso da Camil no mercado de café”.
A manifestação apresentada pelo advogado dá sinais de que a Camil tentou comprar a divisão da múlti japonesa para entrar no mercado de café, desejo já verbalizado algumas vezes pelo CEO da companhia, Luciano Quartiero.. Mas, procurada, a Camil não confirmou a informação. A compra da área de café torrado e moído da Mitsui Alimentos, subsidiária da Mitsui & Co., foi finalizada em fevereiro, por R$ 210 milhões.
Na representação, a Camil alega que o mercado de café torrado é muito concentrado, diferentemente do que acontece em frentes como as de cafés gourmet ou especiais. A empresa também diz que marca é um ativo importante nesse segmento e que o café não é uma commodity escolhida por preço, como o arroz.
Essas alegações são contrárias às da 3corações que alega que o mercado de café é pulverizado, que marca é um ativo menos importante e que preço é a variável que define as compras. Procurada, a 3corações informou que “não comenta processos em andamento em respeito aos órgãos competentes”.
A Camil também afirma que, no mercado de café, há “significativas barreiras à entrada de novos competidores que, associadas ao padrão de comportamento dos players existentes (baixo nível de rivalidade e tendência robusta de consolidação), facilitam o exercício unilateral e coordenado de poder de mercado”.
Também na representação, a Camil diz que “há evidências disponíveis apontando que os principais players existentes se encontram acomodados em um equilíbrio oligopolístico marcado pelo baixo nível de rivalidade reciprocamente ofertada (o market share dos players dominantes é estável há anos) e pela tendência de consolidação”.
Nas manifestações de supermercados e comercializadores de café consultados pelo Cade, nota-se uma divergência de opiniões. Apesar de a maioria dos supermercados não ver concentração com a aprovação do negócio com a Mitsui, alguns afirmam que a 3corações é a empresa que tem mais capilaridade no país e que, portanto concentra maiores vendas se somadas todas as regiões.
O representante do Makro, por exemplo, escreve em sua consulta que o mercado de café é concentrado em poucos players, como JDE, Melitta e 3corações, mas ressalta que há grandes marcas regionais. O Big, ex-Walmart, faz a mesma afirmação: Lembra que as três principais empresas representam 70% do mercado e que “alguns Estados têm players regionais”. Já o Sendas, do GPA, afirma que outras empresas têm “menor desempenho se levado em conta o território nacional”. Todas os supermercados admitiram que a marca é um item importante.
O fato é que a compra da Mitsui pela 3corações deixa ainda mais forte a empresa que nasceu no Rio Grande do Norte e torna mais distante os planos de diversificação da Camil, possível concorrente de peso no mercado de café tendo em vista a capilaridade de suas operações.
Desde 2013, quando entrou no mercado de cápsulas, o Grupo 3corações vem se consolidando como uma empresa nacional. Em 2014, comprou a mineira café Itamaraty, e em 2016, a companhia Iguaçu. No mesmo ano, fez uma joint venture com a italiana Caffitally System para montar uma fábrica de cápsulas em Montes Claros (MG), em 2018 comprar a pernambucana Cirol e, em 2019, a amazonense Café Manaus. Jornalista: Fernanda Pressinott Fonte:Valor Econômico.. Leia mais em portal.newsnte 14/04/2020
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