16 março 2020

Novos aportes privados

Diante da escassez de recursos públicos, haverá novos leilões de privatização dos governos federal e estaduais na área de infraestrutura de transportes

A crise fiscal e a redução de investimentos públicos vão ampliar o processo de transferência da malha rodoviária, aeroportuária, ferroviária e portuária para a iniciativa privada. Isso fará com que o setor de logística seja um dos motores da retomada do investimento nesta década. A consultoria Pezco aponta que o volume de investimentos em infraestrutura deve chegar a 1,89% neste ano, com transportes respondendo por 0,49%. Em 2022, o investimento em infraestrutura deve somar 1,91% do Produto Interno Bruto (PIB) e o setor de transportes responder por 0,56%. Em 2030, deverá atingir 2,21 %, com a área de logística representando 0,78%. “As concessões rodoviárias e os leilões de ferrovias vão elevar os aportes em transportes, um dos fatores da retomada”, afirma o sócio da consultoria, Fred Turolla.

Maior exemplo do aumento dos investimentos está nas estradas, por onde circulam mais de 60% dos bens produzidos no país. A União e Estados como São Paulo, Rio Grancle do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Piauí têm projetos de concessão para os próximos meses. Hoje, cerca de 20 mil quilômetros de rodovias estão sob administração privada, sendo que cerca de metade é de trechos da União e metade de Estados, com São Paulo respondendo por 80% da fatia. Caso todos os projetos de Estados e da União saiam nos próximos três anos, pelo menos mais 20 mil quilômetros poderão ficar nas mãos de empresas privadas. Ou seja, o setor dobraria a malha sob responsabilidade cia iniciativa privada.

As concessões federais representam 15% da malha federal pavimentada. Já as concessões paulistas em relação à malha paulista pavimentada respondem por quase 40%. “A malha federal concedida poderá dobrar e a de São Paulo deve superar esses 40%”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abclib), Venilton Tadini. “O importante ê ver que os projetos de concessão de Estados e do governo federal somam cerca de 20 mil quilômetros, que se pretende licitar em quatro anos o que o setor levou 25 anos para leiloar. Isso mostra o tamanho do desafio pela frente que se terá”, diz o presidente da Associação Brasileira cias Concessionárias de Rodovias (ABCR), Cesar Borges. O primeiro obstáculo foi venciclo.

No fim de fevereiro, o governo federal realizou o primeiro leilão deste ano: a concessão cia BR-101/SC, arrematada pela CCR, que venceu o certame, no trecho entre os municípios de Paulo Lopes (SC) e a divisa com o Estado do Rio Grande do Sul, e vai administrar a rodovia por um período de 30 anos. A empresa apresentou proposta com desãgio de 62% em relação à tarifa-teto, que foi de R$ 5,19.0 grupo vai operar um trecho de 220 quilômetros e terá que fazer investimentos da ordem de R$ 7,4 bilhões.

0 maior projeto rodoviário a ser licitado neste ano é a Via Dutra, principal interligação entre São Paulo e Rio de Janeiro. O contrato, atualmente administrado pela CCR, expira em fevereiro de 2021.0 leilão deve ocorrer até o fim do ano, prevê o ministro da Infraestrutura, Tarcisio Freitas. Ao longo de 30 anos, esperam-se R$ 30 bilhões em investimentos e uma tarifa 20% mais baixa que a atual, segundo ele. “Poderá ser ainda mais baixa com a competição no leilão, que irá incorporar inovações, porque é essencial um setor rodoviário mais moderno. Teremos iluminação de LED na extensão dela e monitoramento a cada 500 metros. Apenas essas inovações representarão quase R$ 2 bilhões em investimentos”, destaca o ministro, que informa que a concessão da Rio-Santos será incorporada à da Via Dutra.

Com modelagem feita em parceria entre a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e o Banco Mundial, a concessão trará novidades, como um trecho de 12 quilômetros em que haverá pela primeira vez no Brasil a adoção do sistema de “free flow” (pedágio com cobrança automática e sem cancela). Nessa via expressa, estima-se pagamento de R$ 0,15 por quilômetro que o veículo percorrer, sendo que pórticos eletrônicos ao longo da extensão irão monitorar o percurso dos can os e cobrar pela quilometragem rodada. “Se o veículo percorrer os 12 quilômetros, irá pagar R$ 1,90 e poderá ter uma redução de oito minutos a menos nesse percurso entre São Paulo e Guarulhos”, diz o ministro.

“Haverá uma conta-garantia, que terá uma proporção da outorga cobrada, que pode ser usada como proteção cambial pelo investidor. Outra novidade é que será a primeira rodovia federal que usará o mecanismo de iRap, uma metodologia já utilizada em mais de cem países”, diz o diretor da EPL, Rafael Benini. Com base em levantamento da imagem das rodovias, nessa metodologia, são propostas contramedidas para correção dos pontos sensíveis identificados e realizado um plano de investimentos para implementação das soluções propostas.

Com o novo contrato, que prevê quatro faixas no trecho da serra das Araras (RJ) e vias marginais na região metropolitana de São Paulo, espera-se que o tempo de viagem entre a capital paulista e Guarulhos caia. Hoje, levam-se entre 40 e 70 minutos entre as duas cidades, sendo que a velocidade média nos horários de maior movimento é inferior a 20 quilômetros por hora em alguns trechos....
Fonte:Valor Setorial - Logística Leia mais em portal.newsnet 16/03/2020



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