29 janeiro 2020

Melhor ciclo para a bolsa pode ter ficado para trás

Cassio Bruno, sócio-gestor da Moat Capital: valuation atual de algumas ações na bolsa demanda que Brasil dê certo

Depois de mais de três anos de valorização na bolsa, o melhor para a renda variável no Brasil talvez tenha ficado para trás. Embora o mercado local ainda esteja em meio a um bull market (comprador), a fase macro do ciclo passou e a partir de agora os gestores vão ter de escolher minuciosamente o que colocar na carteira. Esse foi um dos temas do painel Equities: how to surf the bull market in Brazil?, em evento realizado ontem pelo Credit Suisse.

Quando olhava de 2016, 2017 até 2019, a impressão era que se podia comprar qualquer coisa no Brasil que ia subir. A gente via as ações historicamente baratas, disse Cassio Bruno, sócio-gestor da Moat Capital. Agora não é verdade para a bolsa toda [...] é um valuation que demanda que o Brasil dê certo.

No agregado da bolsa, o gestor ainda vê os múltiplos baratos, mas setorialmente e, em alguns casos específicos, há uma complicação maior. Tem de tomar cuidado onde investir, porque quando as coisas demandam muito valuation e dão um pouco errado, elas caem bastante, disse. A famosa parte do ciclo stock picking chegou.

O otimismo talvez seja o maior risco do mercado hoje, disse Carlos Eduardo Rocha, o Duda, fundador da Occam Brasil Gestão de Recursos. Depois de os juros terem caído para níveis inéditos, a percepção é que o horizonte de investimento do brasileiro se alongou, mas não dá para saber ainda o quanto disso está incorporado aos preços dos ativos.

O novo ambiente requer, sobretudo, educação dos investidores. Para o curto prazo, o mercado está em high na sua relação preço/lucro, o que aumenta o risco pelo otimismo. O gestor lembrou, contudo, haver um fluxo potencial enorme pela frente, fruto do maior movimento de redução de juros no mundo.

Do potencial de R$ 600 bilhões que podem migrar da renda fixa para a bolsa, citou, metade deve ser absorvido pelas ofertas iniciais de ações, disse Duda. A sua percepção é que o estrangeiro não vai ajudar muito nesse fluxo e que o capital externo siga privilegiando o mercado asiático.

Leonardo Linhares, sócio da SPX, acrescentou que o principal motor para a bolsa deve ser o PIB, mas também vê o mercado mais apertado em termos de valuation. Temos de estar preparados, porque provavelmente o melhor já passou.

Conforme observou, nos últimos oito, nove meses, o mercado brasileiro não foi muito diferente do que outros emergentes ou até do S&P 500 americano. As coisas estão mais linkadas do que parecem. O juro real negativo tem efeito no mundo todo. Parte do Ibovespa, um terço dele formado por bancos, Petrobras e Vale e empresas de proteína, tem uma avaliação mais razoável, mas 60% do mercado é o mais caro do mundo, considerando-se os múltiplos para daqui dois anos.

Duda, da Occam, não acha que o mercado brasileiro esteja caro como um todo. Mas com a Selic em 4% ou 4,5% ao ano, e a NTN-B longa pagando um prêmio entre 3% e 3,5%, o retorno das companhias brasileiras para os investidores tem que partir de 10%. Mas não faz sentido comprar ação com menos de 15%, disse.

O gestor disse também não contar com fluxos globais para o Brasil agora porque o estrangeiro vai esperar a sinalização de um crescimento maior e mais consistente.

Por muito tempo, o brasileiro teve uma fatia marginal de ações em carteira, mas o cenário de juros baixos vai fazer com que essa classe de ativos seja mais relevante nos portfólios, afirmou Bruno, da Moat Capital. Vamos ver mais empresas listadas, o Brasil passa a ter uma cultura de bolsa. Para o executivo, o mercado local deve vivenciar transformação semelhante à observada em países que passaram a conviver com taxas menores, como os Estados Unidos, onde parcela importante da poupança das famílias está em ações.

Linhares, da SPX, disse esperar um aumento relevante de empresas listadas e da própria liquidez na bolsa, o que será uma notícia boa porque, por ora, tem mais assets no Brasil do que ações listadas, afirmou. Vai ocorrer se a janela ficar aberta. As empresas estão achando o preço bom para levantar capital para investimentos, disse.

Entre as alocações, Duda, da Occam, disse que o Brasil tem alguns temas relevantes que não se observa em outros mercados emergentes ou na média dos países continentais. O principal é a tecnologia, que ele perseguiu ao longo do tempo, com casos como Magazine Luiza, Banco Inter, ou mesmo a XP. Consumo é outra frente, com Lojas Renner, enquanto o envelhecimento da população levou a gestora a colocar na carteira papéis como Hapvida e Intermédica. A casa também entrou com outros gestores em Via Varejo quando houve troca do controle. O resultado é que o preço da ação se multiplicou por quatro. O tema privatização também está no radar, com Eletrobras, enquanto também acompanha o movimento de empresas financeiras não bancárias, com nomes como B3, IRB e SulAmérica.

Duda chamou a atenção para alguns papéis de segunda linha de empresas que não são líderes de mercado e que vêm sendo negociadas no mesmo nível dos principais competidores, mas que não devem entregar o retorno esperado pelos investidores.

No mundo das small caps, Linhares afirmou que tem sido baixo o prêmio de liquidez exigido em empresas com pouco histórico e que não foram testadas ao longo dos ciclos. Em vez de buscar as líderes, o gestor tem procurado as decepções, de casos que tiveram sua queda potencializada, como a própria Eletrobras, no vaivém da privatização, ou B3, com a chegada potencial de uma bolsa para competir no seu mercado cativo... Leia mais em valoreconomico 29/01/2020

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