Empresas monitoram comportamento do motorista para definir preço do serviço
Assim como fazem em outros setores de economia, startups querem simplificar e personalizar o mercado de seguros, propondo que o usuário pague apenas pelo que efetivamente usa.
Uma dessas insurtechs —termo que junta as palavras em inglês “insurance” (seguro) e “technology” (tecnologia)— é a Onsurance, que oferece um seguro automotivo pré-pago. Tal qual se faz com um celular, o usuário coloca créditos em sua conta e eles vão se esvaindo conforme o automóvel é utilizado. Quando o carro está parado, não há desconto.
Diferentemente de seguros convencionais, não são levadas em conta variáveis como sexo e idade do motorista no cálculo do valor a ser cobrado.
“Não importa se é jovem ou velho ou onde mora. Instalamos um dispositivo no automóvel que captura como a pessoa conduz, e aí acontecem ajustes de preço. É mais justo. A pessoa pode ser nova e dirigir educadamente”, diz Adilair Silva, 35, cofundador.
Há um valor mínimo de crédito para colocar na primeira carga, que varia de acordo com o modelo do carro — para um popular, é R$ 1.199, mas o valor não expira nunca.
A empresa estima que seu produto é entre 50% e 80% mais barato que o de uma seguradora tradicional.
“Com isso a gente atinge pessoas que não eram atendidas por esse serviço. Cerca de 70% dos nossos clientes nunca tinham tido um seguro automotivo”, diz Ricardo Bernardes, 43, fundador. De acordo com dados de 2018 da FenSeg (federação de seguros) só 27% da frota do país têm a proteção.
A Onsurance, que é de Brasília, foi fundada em 2017 e emprega dez pessoas. A startup não revela quantos clientes tem ou o faturamento, mas diz já ter cuidado de mais de 4 milhões de minutos dirigidos.
A ThinkSeg, que começou em 2016, está mudando seus processos para oferecer um serviço parecido, no qual quem dirige mais paga mais.
A empresa deixou de trabalhar com seguros tradicionais e atualmente testa o serviço “pague pelo que usar” com cerca de mil clientes.
O contratante pagará uma mensalidade mais uma taxa por rodagem, explica André Gregori, diretor-executivo. A cada viagem será atribuída uma nota de acordo com a prudência ao volante, medida por um aplicativo com inteligência artificial. Isso se refletirá no preço dessa taxa.
“Não há transparência sobre o que se paga nesse mercado. Você sabe que se usar mais água e luz vai pagar mais. Por que com seguro não pode ser assim?”, questiona Gregori.
A estimativa é que, na média, o serviço custe R$ 90 para um carro popular. A companhia, que tem 108 funcionários e não revela faturamento, ainda não tem previsão de quanto o novo serviço deve lhe render.
Mas a mudança no setor não é só no ramo automotivo. A Pier, por exemplo, foca a proteção de celulares.
Segundo seu fundador, Lucas Prado, 30, a ideia é que a plataforma funcione como uma comunidade, onde só entra quem é convidado. Uma vez aprovado, o segurado paga mensalidades a partir de R$ 6,10 pelo serviço.
“Há uma relação desgastada entre segurados e seguradoras no Brasil, com burocracia de um lado e fraudes do outro. Como não temos intermediários, consigo ter uma relação transparente para explicar exatamente o que cobrimos e como funciona”, diz Prado.
Para aprovar ou não um membro, a empresa avalia, além do score de crédito, o perfil digital do pleiteante, com informações fornecidas no pedido de entrada.
O diferencial da Pier é a cobertura do furto simples, algo raro no mercado. Nesse delito, o ladrão não ultrapassa barreiras, como rasgar uma mochila, por exemplo, para subtrair um bem. Quando o faz, o furto é qualificado.
Segundo uma análise da empresa, baseada em dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, 90% dos furtos de celular no estado são simples. E mais da metade das 400 indenizações já pagas pela Pier foram por esse delito.
Pioneira como insurtech voltada a celulares, a Kakau Seguros também oferece seguro residencial. Nessa modalidade, é possível “ligar e desligar” o serviço, que custa a partir de R$ 19 por mês.
“Se alguém sai de férias e deixa a casa vazia ou a aluga no AirBnb, pode ligar o seguro só durante esse período e desligar quando voltar”, diz Diogo Russo 37, sócio-fundador.
Para Eduardo Glitz, sócio da StartSe, empresa de educação executiva voltada para a nova economia, insurtechs são tendência. “A tecnologia elimina intermediários [no caso, corretores] e barateia serviços. Acho que pode haver um boom dessas empresas, assim como há das fintechs. O setor bancário e o de seguros são concentrados.” Autor: Dante Ferrasoli Referência: Folha de São Paulo.. Leia mais em capitólio 28/10/2019
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