Hoje são muitas as empresas e marcas que decidem se transformar em escolas - e o Rock in Rio Academy é um bom exemplo disso
O Rock in Rio Academy é um fruto de uma parceria entre a HSM e o Rock in Rio
O mundo VUCA [volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade] é uma realidade com a qual estamos todos, juntos, aprendendo a lidar, respirando e vivendo um dia de cada vez. Não há segmento de mercado, hoje, que não esteja procurando descobrir, a cada dia, como lidar com um cenário sem respostas, onde qualquer planejamento pode não se alinhar com a realidade lá na frente. A sensação mais comum costuma ser a de vertigem, ou aquele enjoo chatinho e típico de quem está em alto mar, chacoalhando ao sabor das ondas e do vento
Não por acaso, vivemos uma revolução sem precedentes no mundo da educação. O universo do ensino se diversificou, saindo do engessamento das escolas e das universidades, encalacradas em modelos antigos e difíceis de transformar. Empresas e pessoas buscam conhecimento e informação das maneiras mais diversas. E não por acaso vemos empresas e marcas se transformarem em escolas - não só para ajudar seus próprios colaboradores a navegarem na nova economia, mas para se posicionar e contribuir com a expansão de conhecimento pelo mundo. Porque, no fim das contas, com conhecimento e novas habilidades, todos ganham.
Empresas vivem o dia a dia, aprendem na marra, arriscam, erram, acertam lá na frente. Estão continuamente buscando informações, e isso confere a elas, inquestionavelmente, um saber poderoso. Mas não é um saber definitivo. É um saber moldado pela experimentação, pelo pensamento estratégico dinâmico, pela abertura a ajustes permanentes, que prepara pessoas para se tornarem, cada vez mais, ambidestras. A ambidestria talvez seja, hoje, a capacidade mais preciosa do mundo dos negócios e da criatividade.
Tive a oportunidade de participar, nesta semana, do Rock in Rio Academy, o mergulho de um dia inteiro no projeto de "edutainment", fruto da parceria entre a HSM e o Rock in Rio, esta marca construída tijolinho a tijolinho, edição a edição, num ambiente de jogo nunca ganho. A experiência de 34 anos do time do festival criou um modelo ambidestro de fazer as coisas, e repleto de paradoxos: combina propósito, liderança, responsabilidade e resultados com autonomia, confiança, flexibilidade e abertura para o novo.
Atuar desta forma permitiu que, depois de tanto tempo e inúmeras edições, o Rock in Rio se mantenha fiel ao desejo inicial do seu criador - que, lá atrás, naqueles anos 80 pós-ditadura, queria ajudar a construir um Rio de Janeiro melhor. E, a partir disso, e com a expansão global da marca, contribuir para um mundo melhor. Parece utópico, romântico, e é mesmo. Grandes projetos nascem de sonhos utópicos, gente chamada de maluca e lunática, e crescem do aprendizado da bateção de cabeças, do risco e das dificuldades.
A história é boa, e é contada na própria Cidade do Rock (no parque olímpico) pela equipe que hoje toca o RIR de um jeito interessante, divertido, e que trabalhou e trabalha duro para manter viva a chama da marca. A chama é o propósito. E até a decisão de criar um produto educativo tem a ver com o propósito: porque compartilhar conhecimento é, definitivamente, um jogo de ganha-ganha. Contribui, sim, para um mundo melhor.
O Rock in Rio hoje desperta debates: sobre a força da arte e da cultura, sobre a riqueza da diversidade, sobre a importância da tolerância e sobre a imprescindibilidade da preservação dos recursos naturais. É preciso falar sobre tudo isso, e o festival promove essas conversas através da música e do entretenimento, procurando, como foi enfatizado lá na Academy, "proporcionar experiências inesquecíveis". Tudo é pensado em torno deste objetivo - e até cheiro o Rock in Rio tem, devidamente engarrafado e vendido para quem quiser comprar. A cada edição, inventa-se algo novo: lá no primeiro, Roberto Medina inventou a ideia de iluminar a plateia durante os shows. Para a próxima edição, já se pensa em criar uma área dedicada a jazz e quem sabe integrar a ela o projeto Art Rio.
Tirei outro grande aprendizado desse dia de Rock in Rio Academy: o foco de qualquer projeto, para dar certo, deve estar centrado nas pessoas que vão usufruir dele, comprá-lo, experimentá-lo. A causa do Rock in Rio, em primeira e última instância, são as pessoas. Ouvi isso de todos os envolvidos. E a maior prova da força desta marca junto às pessoas é que, desde a primeira edição, os ingressos se esgotam antes que qualquer atração musical tenha sido oficialmente divulgada. Como explicar isso?
É poderosa a combinação entre a excelência de processos, aprimorados continuamente por meio do aprendizado, e a criatividade que permeia a gestão. Soma-se a isso uma atitude de provocação, para tirar as pessoas da zona de conforto. Zé Ricardo, o curador artístico dos palcos Sunset e Favela, diz que sua missão é dar 20% do que o público quer e 80% do que ele precisa. O recorte artístico tem uma função social, de apresentar o mundo, ampliar consciências, fazer pensar. O trabalho da direção musical do Rock in Rio é humano e visa dar às pessoas aquilo que elas ainda não têm - mas precisam. Isso contribui para a mágica acontecer. Essa mágica garantiu a longevidade da marca - que cresceu junto a tantas outras como Heineken e Itaú. E segue atraindo novas como a Natura, que querem e precisam dialogar com as pessoas pelo caminho da experiência e do entretenimento.
A vivência da Rock in Rio Academy, e de outros produtos educativos que já existem ou que ainda virão, se aproxima das iniciativas de outras grandes marcas que decidiram entrar no universo da educação. Projetos educativos, hoje, fomentam a cultura da inovação. Por conta disso, aproximam empresas e marcas desse universo de novidades, facilitam o reposicionamento e, de quebra, ainda contribuem para espalhar conhecimento. É o que fazem hoje empresas como Faber Castell, Cirque de Soleil, Disney, Siemens, Accenture, Blue Man Group e a Reserva, com sua Escola de Rebeldia no Brasil. Sem falar nas escolas criadas por empreendedores, como a Draper University, a Steve Jobs School.
Agatha Arêas, que hoje toca o projeto Academy, diz que este nasceu do desejo - e também da responsabilidade - de difundir os valores da marca Rock in Rio, hoje equiparável a várias das que citei logo acima. E não por acaso, ao final de um dia de palestras e visitas aos bastidores da Cidade do Rock, a experiência se encerra no palco Mundo, com um bate-papo com o idealizador do festival, Roberto Medina. Que, quixotescamente, diz que sua geração foi muito mais disruptiva e inovadora do que a atual. Em algumas dimensões, ele tem mesmo razão.
*Claudia Penteado é jornalista, estuda comunicação, filosofia e literatura, mora no Rio de Janeiro e acredita em capitalismo consciente. É leonina, mãe da Juliana e prefere ler livros em papel... Leia mais em epocanegocios 03/10/2019
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