03 outubro 2019

Companhia das Letras assume controle da Zahar

Depois de 30 anos dividindo estandes nas bienais, as duas editoras se unem, mas os selos da editora carioca continuarão independentes

Nesta quinta-feira (03/10), a união das duas editoras finalmente aconteceu. A Companhia das Letras assumiu o controle da Zahar. As negociações começaram no ano passado, logo após da eleição do presidente Jair Bolsonaro. Cristina Zahar, diretora editorial, telefonou para Schwarcz com a proposta dias depois do segundo turno. A crise que castiga o mercado editorial brasileiro há alguns anos, agravada pelos pedidos de recuperação judicial das redes de livraria Saraiva e Cultura, também afetou a Zahar, mas a editora se manteve rentável.

— A Zahar tem conseguido se adaptar e se transformar ao longo do tempo, apesar das crises — disse Mariana Zahar, uma das sócias da editora, neta de Jorge. — Para continuar, nós percebemos que precisávamos nos associar a um grupo editorial maior, que nos ajudasse a investir em áreas como logística, marketing e tecnologia, e que também entendesse o legado do meu avô.

Fundada em 1956, a editora do Rio tem um catálogo composto, principalmente, por títulos de ciências humanas. A Zahar e a Pequena Zahar (o catálogo infantil da editora) passam a integrar o conjunto de 17 selos do Grupo Companhia das Letras.

Os sócios das duas editoras sublinharam que o catálogo da Zahar vai manter suas características, como a publicação de títulos de psicanálise e sociologia. Às vezes, haverá títulos duplicados: tanto a Zahar quanto a Companhia lançarão o romance  “Mulherzinhas”, de Louisa May Alcott, por exemplo. A edição da Zahar é mais luxuosa; a da Penguin-Companhia, mais barata.

Após a integração, o Grupo Companhia das Letras vai contar com um catálogo de mais de 6 mil títulos.

— Grandes editoras, como a Civilização Brasileira e a Nova Fronteira, acabaram se perdendo ao se associar a grupos maiores — afirmou Cristina, que permanecerá como consultora editorial após a integração. — Nossa maior preocupação era preservar o catálogo construído ao longo de 60 anos e depurado pelo tempo.

A integração será conduzida, do lado da Zahar, por Cristina, Mariana e pela diretora de operações Ana Paula Rocha; da parte da Companhia das Letras, por Schwarcz, pelos publishers Julia Schwarcz e Otavio Marques da Costa e pelo editor-executivo Ricardo Teperman, que se torna o publisher dos selos Zahar. Apesar da integração, não há previsão de demissões. A Zahar tem 27 funcionários; a Companhia, quase 180.

A equipe da Zahar vai se mudar para a sede carioca da Companhia das Letras no ano que vem.

— O momento agora é de dar importância à equipe da Zahar, de formá-la e deixá-la trabalhar com autonomia — disse Schwarcz. — Os selos da Zahar vão continuar independentes. A integração vai ser principalmente comercial e administrativa.

Apesar de a Penguin Random House, maior grupo editorial do mundo, controlar 70% da Companhia das Letras, as negociações foram conduzidas inteiramente pela editora brasileira. O dinheiro para a compra da Zahar também saiu todo do caixa da Companhia. Eles não falam em valores.

— É que nem o espião português: não falo nem sob tortura — brincou Lilia Moritz Schwarcz, cofundadora da Companhia das Letras.

Schwarcz pretende comemorar o sucesso das negociações com um jantar no Erno's Bistro, onde ele conheceu Zahar, durante a Feira do Livro de Frankfurt, que ocorre entre 16 e 20 de outubro.

— Sempre fui um pouco herdeiro do Jorge porque eu aprendi muito com ele, mas nunca imaginei que seria herdeiro nesta acepção mais completa do termo — disse Schwarcz. — Estou comportado aqui, mas é um dos momentos mais emocionantes da minha vida.... Leia mais em epocanegocios 03/10/2019

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