81% dos IPOs realizados nos EUA em 2018 foram de companhias que registraram prejuízo nos 12 meses anteriores à abertura do capital
Lucro ou prejuízo. A última linha da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) das empresas traz um dos números mais repercutidos entre os analistas de mercado quando as companhias abertas divulgam seu desempenho a cada fim de trimestre.
Para algumas empresas, entretanto, a lógica é outra. Algumas companhias avaliadas em milhões (ou bilhões) de dólares nunca reportaram lucro. A lista está cheia de nomes conhecidos: Uber, a gigante de compartilhamento de escritórios WeWork, a Tesla, que já ficou alguns trimestres no azul, mas não um ano fiscal inteiro - situação parecida à do serviço de streaming de música Spotify. O microblog Twitter registrou a primeira sequência de quatro trimestres de lucro em outubro do ano passado, mais de uma década depois de criado.
Entre as brasileiras há o Nubank - também membro do clube de "unicórnios" do país, companhias que valem mais um bilhão de dólares.
Lá fora, algumas chegam a ir para a bolsa no vermelho. Um levantamento do professor da Universidade da Flórida Jay Ritter apontou que 81% dos 134 IPOs ("Initial Public Offering" ou oferta pública de ações) realizados nos Estados Unidos em 2018 foram de companhias que registraram prejuízo nos 12 meses anteriores à abertura do capital.
BBC - IPOs de empresas com prejuízo (Foto: BBC)
Na série histórica que começa em 1980 só foi registrado número parecido no início dos anos 2000, período conhecido como o da "bolha do pontocom", quando a internet estourou como negócio.
O que explica isso?
'Padrão' Amazon
"Elas valem tanto primeiro porque as pessoas que investem nessas empresas acreditam que elas tenham potencial para gerar muito dinheiro no futuro e, mais importante, porque elas acreditam que podem vender (sua participação) para outra pessoa por um preço ainda mais alto", escreveu à BBC News Brasil o professor da Universidade de Nova York (NYU) Aswath Damodaran, um dos maiores especialistas em "valuation" (termo da contabilidade para o processo que estima o valor de um negócio) do mundo.
Os setores são os mais diversos, mas as companhias geralmente têm um fator em comum - muitas são inovadoras ou "disruptivas", no jargão do mercado.
"É uma aposta de longo prazo, em como vai ser o mundo daqui a 20 anos", explica a professora do Insper Andrea Minardi.
No caso da Uber, por exemplo, a aposta seria de que as próximas gerações vão cada vez menos querer ter um carro na garagem - aumentando a base potencial de clientes para os aplicativos de transporte.
A empresa de tecnologia e transporte estreou no mercado em 2010, debutou na bolsa de Nova York em maio deste ano com valor de mercado de US$ 82,4 bilhões e nunca conseguiu registrar um trimestre de lucro sequer. No prospecto divulgado por ocasião da abertura de capital, um documento com mais de 300 páginas, afirmou que talvez nunca fosse rentável (leia mais sobre o caso da Uber abaixo).
A inspiração para muitos desses modelos de negócio é o caso de sucesso da Amazon. Depois de abrir o capital em 1997, a hoje gigante do e-commerce levou 24 trimestres - 6 anos - para registrar o primeiro de lucro. .... Leia mais em epocanegocios 30/09/2019
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