As privatizações anunciadas nesta semana pelo governo, de companhias como Correios, Dataprev e Serpro, ainda vão começar a ser estruturadas. A modelagem será iniciada agora, uma vez que foi dada a aprovação no conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Não se sabe, portanto, se a venda será parcial ou integral, se as empresas podem ser cindidas em diferentes áreas e vendidas em fatias, afirma uma fonte ligada diretamente a esse processo. O trabalho será feito pela equipe do BNDES em coordenação com o Ministério da Economia.
O governo federal está ciente de que não deve ter lucro (ou mesmo encontrar demanda) em todas as empresas, conforme uma fonte ligada à pasta da Economia. "Na lista tem coisa boa e coisa ruim, sabemos disso. Tem empresa que é cabide de emprego", diz. "O que vamos fazer é parar de gastar. As estatais deficitárias perdem R$ 18 bilhões por ano."
Parte delas deve atrair maior interesse de investidores estratégicos e financeiros. O Valor apurou que o governo inclui a Telebras na lista de ativos com maior potencial de despertar interesse, apesar do histórico de problemas da companhia. "A Telebras tem 31 mil quilômetros de fibra óptica. Isso interessa não só às empresas de telecomunicações mas a grandes investidores globais", diz a fonte do governo. "O fundo Blackstone, por exemplo, investe nisso no mundo todo e com certeza se interessaria."
A Empresa Gestora de Ativos (Emgea) também deve despertar o interesse de companhias de recuperação de crédito, apurou o Valor. O atrativo não é a aquisição da empresa em si, mas das carteiras de créditos inadimplentes que estão dentro dela, diz uma fonte do setor. Outro interlocutor afirma que tem muito crédito de má qualidade na empresa, mas ela pode ser mais interessante se for oferecida com algum tipo de preferência na securitização de ativos da Caixa, inadimplentes ou não.
A Emgea tem financiamentos imobiliários em atraso que somam R$ 60,5 bilhões em valor de face, originados primordialmente pela Caixa. Há também R$ 657,6 milhões em imóveis retomados. Outra grande operação é a gestão de R$ 17,1 bilhões em créditos perante o Fundo de Compensações de Variações Salariais (FCVS), mecanismo criado nos anos 70 para cobrir saldos remanescentes de financiamentos imobiliários.
Um executivo do BNDES afirma que, como não há modelo definido ainda em cada uma delas, "é muito prematuro falar em qualquer projeção de valores de venda". Uma vez definidas as modelagens, o governo selecionará bancos de investimento para assessorar os processos. Cada empresa pode ter uma solução diferente.
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), por exemplo, já vinha se preparando para uma oferta pública inicial de ações e pode seguir assim se for mais rentável - mas, como virou alvo de operação da Polícia Federal, atrair investidores privados será mais complexo. A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), vinculada ao Ministério da Agricultura, pode ter um modelo de concessão, apurou o Valor. O formato foi usado no Estado de São Paulo para o Mercado Municipal de Santo Amaro. "Não vai atrair um monte de interessados, talvez dois ou três players", diz um especialista, ressaltando que a Ceagesp tem inadimplência alta (quase 20%) e hoje não é lucrativa.
Também entre as deficitárias está o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec). A estatal de fabricação de chips já teve a liquidação cogitada e pode ter esse desfecho caso não haja interessado em quaisquer de seus ativos.
A transação dos Correios também é considerada desafiadora. " Os Correios têm uma mega infraestrutura de logística, que um operador privado pode adicionar mais eficiência. Isso é atrativo", diz fonte do governo. "Mas haverá muita resistência nessa privatização e ainda há a questão do rombo do Postalis", afirma, em referência ao fundo de pensão dos funcionários. O secretário
de Desestatização, Salim Mattar, considera que o modelo so ficará mais claro em 2020 e que a privatização deve levar "muito tempo". O monopólio da empresa é previsto na Constituição.
Outras companhias que podem atrair pouco interesse são aquelas de controle de dados. " Dataprev tem margem mais apertada, mas positiva, e pode aumentar eficiência na mão de um operador privado. A Serpro saiu do prejuízo para o lucro nos últimos anos", diz a fonte. "São operações basicamente de tecnologia e banco de dados, com governo como cliente." Já no caso da Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores (ABGF), o governo pode manter a atuação no seguro de crédito à exportação e vender a infraestrutura a um operador privado.
"Não tem a menor possibilidade de isso tudo acontecer até o fim do ano, como seria o desejo do governo", diz um banqueiro de investimento. "Ainda tem muita definição a ser feita, inclusive de empresas que já haviam sido anunciadas, como Casa da Moeda. A parte positiva é que a largada foi dada." Valor Econômico - Leia mais em abinee.23/08/2019
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