Prestadora de serviços de engenharia Mills reduziu o foco na construção civil e hoje é líder no segmento de locação de equipamentos de plataformas aéreas
Grandes crises econômicas costumam produzir dois tipos de histórias entre as empresas. Há aquelas que tem seu negócio arrasado (e vão à falência ou são adquiridas) e as que saem do sufoco reinventando seu negócio.
Um dos maiores exemplos desse segundo grupo é o da prestadora de serviços de engenharia Mills. Os maiores clientes da Mills eram as construtoras ligadas a obras de infraestrutura, que enfrentaram todo tipo de problema de 2014 para cá: de investigações da operação Lava-Jato à queda da demanda provocada pela recessão e pelo corte de projetos públicos.
Em um dos momentos mais aquecidos da construção civil, em 2010, a Mills fez sua oferta inicial de ações (IPO). Em 2013, seu melhor ano depois da abertura do capital, a empresa chegou a faturar R$ 832,3 milhões e fechou o ano com valor de mercado em torno de R$ 4,2 bilhões. A crise fez com que a receita chegasse a pouco menos de R$ 300 milhões em 2017 e o valor de mercado caísse para R$ 714 milhões.
“Redimensionamos a unidade de negócio de construção. Tínhamos 17 filiais de construção em 2014. Finalizamos 2018 com apenas quatro”, afirma James Guerreiro, diretor financeiro e de relações com investidores da Mills, em entrevista ao InfoMoney.
Mas os cortes foram apenas a parte emergencial da estratégia da Mills. A outra parcela foi a reinvenção do negócio, o que não só fez a companhia voltar a crescer, como a transformou na líder do mercado que decidiu explorar.
Durante grande parte de seus quase 70 anos história, a Mills se concentrou em alugar equipamentos e prestar serviços para a área de construção (como formas de concretagem, escoramento e estruturas tubulares). A partir de 2014, o foco passou a ser a locação das plataformas aéreas, que servem para diversos tipos de trabalho em altura.
“O aluguel de plataformas é menos dependente de uma demanda cíclica. São equipamentos que servem tanto para grandes obras quanto para a manutenção de algumas áreas de prédios ou ainda a montagem e desmontagem de eventos. A capilaridade é muito maior e é um mercado ainda pequeno no Brasil”, diz Rodrigo Fonseca, fundador da gestora Vertra Capital.
Em maio deste ano, a Mills concluiu um importante capítulo nesta mudança de segmento: a incorporação da até então concorrente Solaris. Com isso, a companhia passa a deter 28% do mercado brasileiro de aluguel de plataformas elevatórias. A segunda colocada, a Trimak, tem apenas 4% desse mercado. “A locação de plataformas aéreas era apenas um dos segmentos de atuação da empresa, mas que hoje vemos com grande potencial. É o nosso maior foco”, diz James Guerreiro, da Mills.
Com a Solaris, a Mills estima um ganho anual de sinergias de R$ 30 milhões. “É um setor parecido com os das locadoras de automóveis, em que as grandes conseguem negociar preços melhores com as montadoras e acabaram consolidando o mercado”, afirma Fonseca.
Os investidores parecem animados com a mudança. Nos últimos 12 meses, o valor de mercado da empresa quase triplicou — passou de R$ 458 milhões para os atuais R$ 1,32 bilhão. O faturamento em 2018 totalizou R$ 304,2 milhões.
“É uma empresa que foi do céu ao inferno, mas conseguiu se recuperar e hoje é a única com cobertura nacional no segmento de aluguéis de plataformas”, afirma Ricardo Campos, sócio fundador da gestora Reach Capital.
Já recuperada da crise, a Mills hoje também está de olho em outras potencias aquisições. “Nós temos recursos em caixa e capacidade para alavancagem. Estamos abertos para novas oportunidades de aquisição, mas no momento não há nada definido”, afirma Guerreiro.
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Os mais otimistas com a Mills relembram a história da americana United Rentals. Desde a década de 1990, a companhia comprou mais de 270 concorrentes. “A United Rentals conseguiu crescer muito por meio da aquisição de outras empresas, se consolidando como uma das 500 maiores dos Estados Unidos”, afirma Campos, da Reach Capital.
Assim como a Mills, a United Rentals também sofreu durante a crise de 2008 e viu o preço da ação cair mais de 90%. Após a crise, as ações da empresa não só se recuperaram como acumulam uma alta de cerca de 6.150%.
À espera da economia
Para crescer de forma vigorosa, porém, a Mills precisa, além de executar uma boa integração com a Solaris, contar com um crescimento bem maior da economia brasileira.
Enquanto o PIB brasileiro sofreu uma retração de 0,2% no primeiro trimestre, a Mills resolveu aumentar os preços dos aluguéis de suas plataformas, que estavam defasados. Com isso, teve uma perda de clientes e a receita caiu 14%, na comparação anual, para R$ 71 milhões nos primeiros três meses. “Estamos recompondo o preço perdido nos últimos anos. É normal que, em um primeiro momento, com a economia ainda ruim, isso impacte a taxa de utilização”, afirma Guerreiro.
O executivo se diz otimista com a nova companhia e que “2019 vai ser um ano de sinergias para estarmos prontos para os próximos desafios”, afirma Guerreiro... Leia mais em infomoney 04/06/2019
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