A Copel confirmou que já está em andamento o trabalho de organização para privatizar a Copel Telecom. A direção da empresa estima que o valor da venda gire em torno de R$ 1,5 bilhão. Por lei, o processo de venda da estatal ainda deverá passar por avaliação dos deputados da Assembleia Legislativa (Alep) para que seja aprovado. Um grupo trabalho foi formado na Copel para a montagem do projeto inicial de privatização, que deve ser entregue na primeira semana de maio. No estudo, a Copel Telecom analisa valores de venda e o que deve ser feito em relação aos 450 funcionários da empresa. Além disso, o pacote deve, principalmente, organizar o que será feito do papel social da estatal.
A empresa subsidiária da Copel é responsável pelo pelo acesso à internet e redes de comunicação de dados de diversos municípios e escolas estaduais, além de milhares de clientes privados. São 2.205 escolas estaduais conectadas com a internet da Copel Telecom. A empresa atende necessidades de telecomunicações da própria Copel, da Sanepar e do governo do Paraná, com 3.352 acessos de banda larga de alta velocidade aos órgãos do Executivo.
O governador Ratinho Junior (PSD) disse nesta semana que a manutenção dos serviços sociais pode ser incluída como condição no processo. “Como uma moeda de troca. A ideia é a ideia no sentido de a gente fazer a concessão, só que com o governo, além do valor que a empresa que ganhar tem que pagar, tenha que manter os pontos (de internet nas escolas). Isso (de manter serviços da Copel Telecom) vai dar para resolver sem problema nenhum”, adiantou o governador.
A Copel Telecom foi a operadora de banda larga melhor avaliada no Brasil, em uma pesquisa da Anatel com 100 mil usuários, realizada em 2018. No ano passado, a empresa teve um faturamento de R$ 500 milhões.
Assembléia
Deputados chamam presidente da Copel para explicar privatização
Líder da oposição na Assembleia Legislativa, o deputado Tadeu Veneri cobrou em sessão plenária que o atual diretor-presidente da Copel Telecom, Wendell de Oliveira, seja convidado para dar esclarecimentos aos parlamentares sobre a situação financeira e organizacional da empresa.
O vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná, Leandro Grassmann, questionou, em artigo publicado no jornal Plural, os motivos alegados para venda da estatal. “A Copel investiu R$ 2,569 bilhões em 2018. Destes, somente R$ 309,4 milhões foram para a Copel Telecom (cerca de 12% do t otal). Ademais, as empresas do Grupo Copel tem apresentado lucros crescentes, números de fazer inveja em muitas empresas privadas”, pontua.
ENTREVISTA
Copel Telecom não quer concorrer com multinacional, diz Wendell Oliveira
Bem Paraná - Existe um grupo de trabalho para privatização, quando ele foi montado e quem compõe?
Wendell Oliveira - Foi criado há um mês um grupo para fazer estudos de ativos da Copel Telecom e separar esses ativos da Copel. Esse grupo deve apresentar um dado na primeira semana de maio para a gente ter ideia de como funcionaria a separação da Copel. É importante ressaltar que é um grupo de estudo. São três coordenadores, eu, o presidente da Geração e Transmissão e superintendentes e gerentes de todas as três unidades e mais a holding.
BP - Qual o motivo oficial para vender a empresa?
Wendell - “Não existe um motivo oficial. Só existe um motivo. A Copel Telecom é uma empresa de tecnologia inserida num cenário competindo com grandes multinacionais que têm capacidade de investimento brutal. Nós, com as amarras que temos por ser uma empresa pública, é difícil competir. Funcionou bem até agora, mas era um universo não tão competitivo assim. Só a Copel atuava no mercado de fibras. Isso mudou. As empresas de tecnologia exigem investimentos constantes, fizemos esses investimentos, tem uma belíssima infraestrutura, mas não fomos capazes de compor caixa para investimentos. O nosso principal concorrente (Vivo) investe R$ 8 bilhões (no Brasil, mas grande parte fica no Sudoeste). Nós investimos R$ 250 milhões (No Paraná). Me parece mais óbvio focar os investimentos na nossa área que é energia, e precisamos de investimentos. Foi anunciado investimento de 8 bilhões (da Klabin no Paraná) e precisamos levar energia para essa empresa.
BP - Quanto vale a Copel Telecom?
Wendell - Solicitamos um valuation (cálculo de valor da empresa) para especializadas. É muito prematuro dizer um valor. Mas é um ativo valioso, o mercado valoriza, e o timing de vender é agora. Procrastinar faz com que se perca esse ativo. Ativo que tem potencial de ser valorizado por vários segmentos, seja um fundo, de vários players. Pode valer algo em torno de R$ 1,5 bilhão. Temos uma divida de R$ 500 mi ou R$ 600 mi. Pode entrar (com a venda) algo em torno de R$ 900 milhões ou R$ 1 bilhão. Ainda com impostos e dependendo de uma série de confirmações.
BP - Como a Copel faria para manter os serviços e programas sociais? (internet nas escolas e equipamentos públicos)
Wendell - É um tema que tem gerado uma certa polêmica. As escolas do Paraná são um cliente da Copel Telecom. É o que qualquer um que assumir vai querer manter. Nós não temos nenhum subsídio e nem podemos fazer. Somos uma empresa de economia mista e concorremos como qualquer outra empresa. As escolas fazem parte da Secretaria da Educação. O governo não compra a internet sem uma licitação. A Copel vai participar de uma nova licitação. Não vai acontecer nada com as escolas, provavelmente terão um serviço melhor e mais barato. A Copel, tanto como os equipamentos do governo, são grandes clientes da Copel Telecom e vão sempre buscar o melhor serviço.
BP - O senhor vai à Assembleia?
Wendell - Não recebi ainda o convite, mas terei enorme prazer. A sociedade que está nesse processo e tem seus representantes nos deputados. Então terei prazer em sentar com os deputados, com a sociedade. As pessoas perguntam ‘por que uma empresa que foi eleita a melhor do Brasil está à venda’. Mas quando entramos nos detalhes as pessoas começam a entender.
BP - Já tem interessados em comprar? A TIM, por exemplo, que teria manifestado interesse no ano passado. As empresas já estão atrás das informações, estão em contato com a Copel?
Wendell - Temos uma percepção. O processo não começou, estamos na fase de estudos. Temos uma sensação de conversar com o mercado de que existe uma percepção do mercado positiva. E não tenho a menor dúvida de que muitas empresas estão interessadas.
BP - Há previsão de PDV (Programa de Demissão Voluntária) para funcionários?
Wendell - São 450 funcionários e eles estão na nossa pauta de prioridades. Temos preocupação de no processo de privatização fazer o mais transparente possível, inclusive com leilão em bolsa de valores, o B3. Todos os atores têm que sair satisfeitos com isso - Lembrando que a Copel Telecom é a última empresa de telecomunicação a ser privatizada no Brasil – e os atores são os acionistas, fornecedores, sociedade, mas perincipalmente os funcionários. Não tem como fazermos um processo com funcionários desguarnecidos, desestimulados. Não estamos medindo esforços e nós levaremos (aos funcionários) com uma proposta inovadora, que é a melhor, em que todos os funcionários sairão satisfeitos, eu não tenho nenhuma dúvida. O PDV pode ser uma das alternativas. Só que o PDV é apenas parte do pacote.
BP - A empresa não dá prejuízo, por que vender?
Wendell - Não é uma empresa que dá prejuízo, mas não esta dando caixa. A geração de caixa é de R$ 160 milhões, que é negativo, e não está conseguindo gerar caixa para gerar seus investimentos.
BP - Há quem diga que a Copel investiu nesses anos passados para depois entregar a multinacionais e enriquecer acionistas. O que o senhor diz sobre isso?
Wendell - Não tenho como falar pelas outras gestões. O que temos é um ativo muito valioso. Está presente em todas as cidades do Paraná em rede corporativa e 85 cidades em rede de varejo. Para continuar usando essa malha temos que fazer muitos investimentos. O momento é agora... Leia mais em bemparana 21/04/2019
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