Empresa venderá sua maionese sem ovo a partir de abril no Pão de Açúcar. Até o fim do ano, startup também deve lançar no país leite e sorvete sem ingredientes de origem animal
Maionese à base de grão de bico. Sorvete feito com ervilha. Hambúrguer de cacau e beterraba. São com essas combinações esdrúxulas que a startup chilena NotCo pretende revolucionar a indústria alimentícia. Como principal aliada nessa batalha, o trio de sócios da empresa conta com a inteligência artificial. A partir de um sistema batizado de Giuseppe, a NotCo desenvolve receitas para recriar produtos feitos com ingredientes de origem animal, usando apenas plantas. A ideia é que tanto no gosto, como no aroma e na textura, o alimento seja igual ao original. Em breve, os brasileiros poderão provar o primeiro item lançado pela empresa: a NotMayo, uma maionese vegetal, feita sem ovos. Ela estará disponível em meados de abril nas gôndolas da rede Pão de Açúcar, por cerca de R$ 10.
No próximo mês, a startup deve lançar no Chile seu leite vegetal, o NotMilk. Para agosto, está prevista a chegada do sorvete NotIceCream, à base de ervilha. Até o final ano, ambos devem estrear também no Brasil. No início, a empresa irá importar seus produtos do Chile para o país, mas a ideia é passar a fabricá-los na região de Campinas. Em dois anos, segundo as previsões da NotCo, o Brasil deve se tornar seu maior mercado.
Para marcar sua chegada ao país, a empresa ofereceu, em parceria com a consultoria Mesa, um jantar de degustação a jornalistas. Lá, pude experimentar não só a maionese sem ovo, como também alimentos ainda em desenvolvimento no laboratório da empresa, caso do hambúrguer. A maionese é boa, embora seja possível notar uma certa diferença no gosto em relação às líderes do mercado — o que não é necessariamente uma desvantagem. Quanto aos doces, não torça o nariz para o sorvete de ervilha. O de chocolate é bem gostoso. Jamais seria capaz de adivinhar que entre seus ingredientes estaria o grão. Já o hambúrguer precisa melhorar um pouco no gosto para ficar mais semelhante ao da carne bovina, mas a textura é bastante parecida. Neste caso, para mim, também seria impossível citar a beterraba ou o cacau como os principais ingredientes.
A NotCo começou em 2015 com o lançamento da NotMayo pelos seus três fundadores: o CEO Matias Muchnick, Pablo Zamora, doutor em bioquímica, e Karim Baksai, doutor em ciência da computação, todos com formação nos EUA. Em apenas oito meses, a marca de maionese conquistou 8% do mercado chileno. Hoje, tem 10% e está presente em 1 mil pontos de venda. “Quando lançamos a NotMayo, ninguém buscava por uma maionese nova. O que atraiu o consumidor foi o desejo de fazer parte de uma revolução. Um dos maiores problemas da minha geração é não sabermos ao certo do que nos alimentamos. O que pensamos ingerir é muito diferente daquilo que de fato comemos”, afirma Muchnick. “Cada vez mais há menos variedade e menos nutrientes, para que os lucros da indústria sejam maiores”, completa Zamora.
A mensagem do trio, pelo menos por ora, tem conquistado apoios de peso. Em pouco menos de dois anos, a empresa levantou US$ 3 milhões da Kaszek Ventures e da IndieBio, uma aceleradora de biotecnologia americana. Mesmo longe do Vale do Silício, o sistema de IA Giuseppe chamou a atenção de Jeff Bezos, que participou de uma rodada de investimentos de US$ 30 milhões na empresa no início de 2019 — vale destacar que este é o primeiro investimento do homem mais rico do mundo na América Latina. “O que atraiu Bezos foi o nosso time, a nossa capacidade de execução com pouco capital e a ambição de revolucionar a indústria alimentícia”, diz Muchnick. Além do Brasil, a NotCo se prepara para entrar em breve na Argentina.
Do lado da tecnologia, Giuseppe é o carro-chefe da startup. O sistema é o responsável por gerar as fórmulas de alimentos vegetais que mais se aproximam ao sabor e textura de produtos tradicionais. Segundo Muchnick, o diferencial da NotCo não está em tornar os hábitos alimentares apenas mais sustentáveis, mas é investir em um processo que mude a experiência do consumidor com o alimento.
A empresa conta com uma base de dados de 30 mil plantas. Os dados moleculares, por exemplo, são capazes de descrever os compostos e a aparência dos vegetais, já aqueles coletados pelos degustadores da empresa revelam desde a textura até o sabor que fica na boca após a ingestão de um produto. É a ciência a favor do seu paladar. Resta saber se você vai aprovar... Leia mais em epocanegocios 21/03/2019
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