19 março 2019

Como surgiu a MoObie, startup líder em compartilhamento de carros no Brasil

Com 10 mil parceiros e 250 mil usuários em mais de 100 cidades, startup melhora trânsito e traz renda extra para sua rede de colaboradores

Tamy Lin, de 40 anos, é a fundadora e CEO da MoObie, a maior startup de compartilhamento de carros do Brasil. A outrora diretora executiva da Smiles, Lin teve passagem pela consultoria BCG e pela empresa de telecomunicações GVT. Desde a adolescência, em Campo Grande (MS), sempre pensou no gargalo da mobilidade urbana como um dos desafios do país.

No entanto, toda sua carreira no mundo corporativo esteve distante dessa área – com exceção de uma breve passagem pela Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo. Para se reconectar com seus propósitos, ela resolveu viver um período sabático, que no final das contas a pôs em contato com boas práticas e modelos de negócio de compartilhamento de carros.

Impacto social positivo
Com a ambição de se reinventar profissionalmente e gerar impacto positivo na sociedade, em 2017 nasceu a MoObie. A modalidade de compartilhamento eleita pela fundadora foi a peer to peer, visando otimizar a frota existente no país, em que um parceiro oferece seu automóvel para um cliente por diárias que variam de 30 a 60 reais – os preços são sugeridos pela startup, seguindo a tabela Fipe.

Os parceiros que disponibilizam seus veículos conseguem gerar uma renda extra média de 800 reais. “Tem pessoas que chegam a tirar até 2 mil reais, tem outras que só alugam só por alguns dias, gerando 300, 400 reais. Existem outras pessoas que estão desempregadas e fazem da MoObie a sua única fonte de renda”, explica a CEO, que é administradora de empresas pela FGV-SP com MBA na Universidade de Northwestern.

Os veículos disponíveis podem ter no máximo 10 anos e 100 mil quilômetros rodados. Atualmente, a startup tem 250 mil usuários e 10 mil automóveis espalhados por mais de 100 cidades brasileiras. A escalabilidade do negócio, que no primeiro ano tinha apenas com 1,5 mil usuários e 50 veículos, apresenta a perspectiva de cobrir todo o território nacional ainda neste ano. Mas a pretensão é maior: expandir a MoObie pela América Latina.

A disrupção projetada por Tamy tem relação direta com sua reflexão de que não será mais possível o mundo seguir crescendo com uma dinâmica em que toda pessoa possua um automóvel. Ela relembra, inclusive, que um executivo do Waze comentou com ela durante a apresentação de um painel que já não é mais possível melhorar o trânsito – prova disso é o lançamento do Waze Carpool, serviço de caronas do aplicativo.

“A gente sente a dor do trânsito como impacto na nossa qualidade de vida. Economia compartilhada não é uma questão emocional, é uma questão de racionalidade. É preciso pensar em como esses ativos [carros] são utilizados em uma infraestrutura já existente”, diz a fundadora da MoObie.

Toda forma de transporte
Questionada pela reportagem se não seria uma contradição discutir mobilidade urbana com o estímulo ao uso de automóveis, Tamy pondera que a MoObie é um serviço complementar aos outros modais, como o transporte público, bicicletas, patinetes e aplicativos de transporte privado.

“Hoje as pessoas podem deixar de ter um carro de segunda a sexta e alugar um para viajar no final de semana. Os carros vão continuar existindo como opção enquanto a gente não tiver melhores alternativas de deslocamento, tanto para atividades produtivas como para lazer. Vai ser o meio mais rápido e barato principalmente se você compartilha a carona”, justifica.

Para a fundadora, as montadoras também entendem que os modelos da velha economia que fomentam os engarrafamentos não são mais compatíveis com os dias atuais. “A Tesla já se vende como um carro elétrico que vai ser compartilhado. A Mercedes-Benz e a BMW estão criando a maior operadora de car sharing da Europa. Todas entendem que precisam mudar o modelo de somente fabricação para um trabalho de prestação de serviço. E a MoObie aparece como uma potencial parceira para ajudar a refletir nessas questões. É uma cadeia de valor que vai passar por grandes transformações”, comenta Tamy Lee.

A startup vem guiando sua máquina com muita destreza nesse caminho de oportunidades. Em novembro, a MoObie firmou parceria com a montadora Toyota para uma atuação conjunta no Toyota Mobility Services, um piloto que fornece o compartilhamento de carros para funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e do Banco Toyota, em São Paulo (SP). A MoObie ainda desenvolveu um sistema de hardware exclusivo de fechamento das portas e destravamento do automóvel realizada através do aplicativo.

MoObie em ascenção
Em quase dois anos, a MoObie captou 15 milhões de reais com quatro investidores anjo. A empresa ainda não atingiu o breakeven, mas tampouco essa seja uma preocupação da fundadora, que tinha ciência das barreiras culturais do seu negócio e das dificuldades em comunicar os propósitos de um modelo disruptivo.

“Lá atrás, quando ia falar de compartilhamento de carros para investidores, eles diziam: ‘eu não emprestaria meu carro’. Quando eu ia falar com as seguradoras, várias portas fechadas. Quando apresentava uma solução para os bancos que tinham clientes inadimplentes na parcela do carro, também portas fechadas”, relembra Tamy Lee.

De acordo com a fundadora, esse cenário mudou radicalmente em dois anos. Além das duas seguradoras parceiras (Liberty Seguros e SulAmérica), outras companhias e CEOs de grandes empresas procuram a MoObie para buscar maneiras de desenvolver novos negócios relacionados ao compartilhamento de carros.

“A gente já venceu a barreira da descrença, de uma startup de fundo de garagem. Agora temos um desafio cultural de o brasileiro abraçar essa alternativa que estamos apresentando com racionalidade, endereçando uma dor e achando soluções para que o carro não signifique só custos, mas também uma fonte de renda complementar”, resume. Enio Lourenço Leia mais em starse 19/03/2019

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