Startup leva empresa referência do setor, com mais de 50 anos de atuação
Na sede da Green4T, em São Paulo, os balões nas cores azul e verde evidenciavam as boas-vindas ao último grupo de 450 profissionais provenientes da Aceco TI depois da aquisição de 70% dos seus negócios. Os cinquenta funcionários restantes da empresa, que faz consultoria para a construção de data centers, somaram-se aos mais de 150 talentos que passaram a fazer parte do quadro da Green4T.
A compra foi assinada em abril de 2018, mas anunciada somente hoje (09/01) depois de finalizada a renegociação e a quitação integral de quase R$ 500 milhões em dívidas legadas da Aceco TI. Uma aquisição atípica, de uma startup, criada em 2016, que levou uma gigante com quase 50 anos de história.
A Green4T começou em um escritório pequeno, com 11 pessoas, sem dinheiro, mas com muita vontade de crescer, define Eduardo Marini (foto), CEO e cofundador da empresa. Ele se juntou a outros dois sócios para tirar a companhia do papel.
Curiosamente, os três sócios trabalharam na Aceco e sempre tiveram uma conexão sentimental com a empresa. Antes de assumir a vice-presidência da Aceco, Marini, inclusive, chegou a ser do conselho e investidor do negócio. “Juntamos duas empresas que não deveriam ter se separado”, contou Marini com exclusividade à Computerworld Brasil.
Enquanto Marini e os demais sócios da Green4T atuavam na Aceco, a empresa passava por dificuldades em função de um alto grau de endividamento e de desalinhamentos societários, que engessou a capacidade de crescimento e inovação.
A cultura e o time da Aceco, no entanto, eram seus grandes diferenciais, o que culminou em entregas de sucesso. “Identificamos poucos problemas de qualidade desde abril, que já foram endereçados. Com a quitação das dívidas que persistiam desde 2014 com a venda da empresa para os antigos sócios financeiros, a Aceco TI ficou livre para voar novamente e cumprir sua missão de zelar pelos ambientes de infraestrutura crítica dos seus clientes”, contou Marini.
Como tudo começou
A Green4T nasceu do desejo dos sócios de ter uma empresa verdadeiramente focada nas necessidades dos clientes. “Nosso setor tem muito vendedor de peixe único. A provedora de colocation vai vender o colocation como única saída. A de cloud idem. A grande verdade é que essa decisão não é binária. O cliente precisa de um mix. A reorientação ao cliente é agnóstica, oferecendo proposta de valor única”, definiu o executivo.
Com esse direcionamento, a companhia passou a atuar de forma bastante consultiva e, de cara, conquistou 60 contratos, executando a instalação de quase 30 data centers desde sua fundação. A partir de parcerias estratégicas, a Green4T oferece soluções híbridas incluindo infraestrutura as a service, além de fornecer, adaptar, manter e operar infraestruturas próprias de clientes e/ou terceirizadas. “Esse tem sido nosso maior diferencial em mercado onde monosoluções são ofertadas com baixo nível de criatividade e customização.”
Com essa visão, a Gree4T cresceu em ritmo acelerado, alcançando vendas superiores a R$ 140 milhões somente no ano de 2018 e somando 130 colaboradores. O salto fez com que a empresa mudasse para um prédio maior, que já apresenta superlotação. “Vamos ficar apertados no processo de integração, mas já planejamos ampliar a estrutura”, adiantou ele.
Com a crença de que “uma boa decisão é baseada em conhecimento, não em números”, Marini e os sócios trabalharam de forma silenciosa na negociação da Aceco IT por meses. As dívidas não afastaram a intenção de compra e a qualidade da entrega e dos produtos fizeram a diferença na decisão, garantiu o CEO.
“Para qualquer um que eu falasse que estávamos comprando uma empresa com R$ 590 milhões de dívidas, ninguém acreditaria. O aprendizado que tenho dessa jornada é que dá para fazer. Tem muita ponta para alinhar, mas estamos no caminho”, relatou Marini.
E o diferencial dessa jornada está, sem dúvidas, na cultura. Segundo ele, Aceco e Green4T têm uma cultura extremamente alinhada. “Nós, por exemplo, somente conseguimos crescer a velocidade que crescemos porque adotamos a postura de dono. Aqui, a meritocracia é realmente verdadeira. Além dos três sócios-fundadores, temos outros 15”, disse, relatando que aqueles que se destacam acabam virando sócio do negócio. Segundo ele, em 2019 a empresa terá outros dez sócios, que serão pinçados entre os líderes da empresa.
Para fazer essa estrutura funcionar da forma adequada, Marini revelou que consome 30% do seu tempo com pessoas. “Eu acredito em cultura de dono, não empresa de dono. O modelo antigo não funciona. Ele desestimula criatividade e inovação. As pessoas vão criando oportunidade e esse é ciclo virtuoso.”
É nesse formato que surgem inovações. Um exemplo citado pelo executivo é um produto de monitoramento de data center, que surgiu da ideia de colaboradores. Marini aponta que em uma prestadora de serviços, as pessoas são o motor e, portanto, é preciso dar esteira para que elas possam se desenvolver.
Fundada em 1972, a Aceco TI foi pioneira no mercado de infraestrutura no Brasil, tendo integrado mais de 750 data centers no Brasil e em 13 dos principais países da América Latina. Antes da aquisição, a empresa tinha cerca de 500 colaboradores e foi reconhecida diversas vezes pelos clientes por sua qualidade na implantação de data centers e na manutenção preditiva, preventiva e corretiva de ambientes de missão crítica.
Atualmente, mais de 300 data centers são mantidos em regime 24 x 7 por equipes técnicas da Aceco TI em 26 das 27 unidades federativas do Brasil, além de Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Uruguai e Equador. Somando forças com a Aceco, a Green4T passa a atuar na América Latina e a contar mais de 600 colaboradores, e estima para 2019 um faturamento aproximado de R$ 450 milhões.
Segundo Marini, pelo seu reconhecimento, a Green4T manterá a marca Aceco TI. “O que faremos agora é uma segmentação de serviços. Serviços estruturados de manutenção, operação e monitoramento on-line de data centers serão prestados pela Aceco TI. Enquanto isso, projetos, implantações de ambientes críticos e soluções de infraestrutura serão conduzidos pela Green4T”, comentou.
Nesse cenário, a Green4T enxergou a possibilidade de reviver sua marca de consultoria, a Innovative, e deverá lançar novas marcas sob o guarda-chuva Green S.A. em breve. As novidades devem gerar contratações e a empresa espera adicionar ao time cerca de cem talentos em 2019.
Para Marini, a demanda contínua por maior capacidade de processamento, transmissão e armazenagem de dados, combinada ao advento de novas tecnologias de inteligência artificial e internet das coisas (IoT), transformará o atual ecossistema de infraestrutura de TI.
Nesse contexto, a Green4T acredita que soluções híbridas de infraestrutura, que harmonizem serviços on-premise, edge computing e soluções terceirizadas em cloud/colocation, oferecerão os melhores resultados para as organizações. “O modelo de negócios da Green4T é totalmente adaptado para essa nova era da tecnologia. E, com a aquisição da Aceco TI, ganhamos escala e cobertura únicas para estar do lado de nossos clientes, não importando onde esteja a sua TI”, assinala.
Marini lembrou que a transformação digital está acontecendo agora e a demanda por atualização tecnológica será cada vez mais alta. “A transformação digital, a indústria 4.0 e a internet das coisas demandarão renovação total da infraestrutura digital do Brasil e é nessa onda que vamos surfar”, sentencia.
Para ele, essa adaptação é extremamente crítica e a tendência é de regionalização do uso de data centers. Uma necessidade pautada pela redução de latência, natural quando o centro de dados está fora do Brasil. Esse quadro, indica, exigirá infraestrutura moderna de borda. “Como somos a maior empresa de manutenção e operação e data center local, com técnicos em 26 estados, certamente vamos nos beneficiar.”
O executivo aposta, inclusive, na criação de recursos para fomento da construção de data centers locais. “O Brasil tem menos de 1% da metragem de data center quando comparado aos Estados Unidos. Estamos importando dados”, comentou, acrescentando que esse modelo era econômico até pouco tempo, mas agora a questão não é mais essa: é tecnológica.
Marini revelou os próximos passos da empresa. “O desafio da empresa no momento é contar com as ofertas bem azeitadas. A cereja do bolo é ser uma ‘one stop shop’”, adiantou o executivo.
Agora, a companhia quer mostrar sua nova fase. “Esse mercado é muito fragmentado, com empresas pequenas, ou multinacionais com produtos de prateleira. Nosso momento é o de mostrar quem somos, uma empresa que oferece infraestrutura em muitas camadas”, finalizou ele. Déborah Oliveira
Leia mais em computerworld 09/01/2019
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