02 dezembro 2018

BNDES vai vender a 'campeã nacional' JBS

Banco planeja oferecer ao mercado, a um único investidor ou aos poucos na Bolsa, sua fatia de 21,3% na JBS, adquirida entre 2007 e 2009

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está se preparando para vender sua participação de 21,3% na JBS, segundo apurou o Estado. O banco enviará nas próximas semanas carta-convite às instituições financeiras para que elas possam participar do processo.

Um ano e meio após gravação de Temer, irmãos Batista estão R$ 2,5 bi mais ricos

A fatia do BNDES na JBS é avaliada no mercado em R$ 6,8 bilhões, considerando o fechamento da cotação da ação na sexta-feira, a R$ 11,77. O desenho de como será a venda da sua participação ainda não está definido: poderá ser feita em bloco para um único investidor ou negociada aos poucos na Bolsa.

No auge da crise da JBS, o banco recebeu proposta de diversos investidores para a venda de sua fatia na empresa, mas as conversas não foram para frente. Esses mesmos investidores tentaram comprar a participação dos irmãos Batista, segundo fontes. Entre os interessados estavam os fundos soberanos GIC e Temasek, de Cingapura; e o QIA, fundo de investimento do Catar.

Executivos de três grandes bancos afirmaram ao Estado, sob condição de anonimato, que a compra das ações da JBS detidas pelo BNDES não deve embutir um prêmio (valor adicional pago ao preço do negócio). O acordo de acionistas entre as duas companhias será revisado no fim de 2019.

O BNDES sempre acompanhou o voto dos conselheiros e acionistas da JBS. Essa relação começou a mudar no início de 2016, quando os controladores da companhia anunciaram a intenção de criar uma nova empresa e mudar a sede da JBS para a Irlanda. No ano seguinte, quando as delações vieram à tona, após o vazamento da conversa de Michel Temer feita por Joesley Batista, o BNDES passou a ser um crítico à gestão da JBS.

Campeã nacional. O banco começou a comprar ações da companhia a partir de 2007. A JBS, ao lado de outros frigoríficos, como Bertin e Marfrig, foi escolhida na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser uma 'campeã nacional' e se internacionalizar. Entre 2007 e 2009, o BNDESPar injetou R$ 5,6 bilhões na JBS. Em 2008, o banco colocou R$ 2,5 bilhões na Bertin, que foi incorporada à JBS.

O BNDES informou, em nota, que o BNDESPar aprovou uma mudança recente para executar as alienações de ações da carteira. Entre elas, o cadastramento prévio de instituições financeiras para atuar como mandatários da BNDESPar no processo de venda. "O processo de cadastramento prévio foi iniciado e não tem vínculo com a venda de ativo específico", disse o banco. Temasek não comenta rumores de mercado. GIC e QIA não retornaram. Mônica Scaramuzzo Leia mais em terra 02/12/2018

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Um ano e meio após gravação de Temer, irmãos Batista estão R$ 2,5 bi mais ricos

Um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, o grupo JBS também teve seu nome envolvido, em março do ano passado, na Operação Carne Fraca

Um ano e meio após as delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista virem à tona, a JBS, dona da Friboi, voltou a se recuperar - e os dois estão R$ 2,5 bilhões mais ricos. Hoje, o valor de mercado da empresa - quase R$ 32 bilhões - é 23% maior que no dia 17 de maio de 2017, quando as gravações de Joesley com o presidente Michel Temer tornaram-se públicas. As ações nas mãos dos Batistas, que detêm 40,6% da companhia, somam hoje R$ 13 bilhões. Um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, o grupo também teve seu nome envolvido, em março do ano passado, na Operação Carne Fraca, que investiga irregularidades e pagamentos de propinas a agentes do Ministério da Agricultura.

Mesmo com a reputação arranhada, o grupo conseguiu blindar sua operação e aumentar as vendas da companhia. Para conter a crise e evitar o desmanche do império da família, Joesley e Wesley deixaram, em maio de 2017, o conselho de administração da JBS e de outras empresas sob o comando da holding J&F. Desde então, passaram a negociar diretamente com bancos e investidores a venda de parte de seus negócios para fazer caixa e evitar a cobrança antecipada de dívidas de cerca de R$ 20 bilhões que venciam até 2020.

Entre maio e agosto do ano passado, foram vendidos frigoríficos do Mercosul (para o Minerva) e a Alpargatas (para o Itaúsa). No mês seguinte, os irmãos venderam a Eldorado Celulose (para Paper Excellence) e a Vigor (para a mexicana Lala). Quando os dois irmãos foram presos em setembro passado, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, pai e fundador da JBS, voltou ao comando da empresa, com o apoio do BNDES, principal sócio do grupo, com 21,3% do negócio. Os netos de Zé Mineiro - Wesley Batista Filho e Aguinaldo Gomes Ramos - também passaram a integrar o conselho de administração da companhia. Joesley ficou seis meses preso e, seu irmão, cinco meses.

Bancos ouvidos pelo Estado afirmaram que vários investidores tentaram comprar a participação dos Batistas na JBS, mas os irmãos se negaram a vender a totalidade ou parte de suas ações, mesmo com forte prêmio oferecido pelos papéis. O foco desses investidores é comprar a fatia do BNDES.

No dia 18 deste mês, Joesley, Wesley e dois executivos que fizeram delação - Francisco de Assis e Ricardo Saud - serão ouvidos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da defesa dos delatores. O ministro vai decidir se acata ou não a decisão da Procuradoria-Geral da República (PGR) de anular os efeitos das delações porque os donos da JBS teriam ocultado a suposta orientação prestada pelo ex-procurador Marcello Miller à J&F nas negociações, enquanto Miller ainda integrava o Ministério Público. Todos negam.

Prioridades redefinidas
Enquanto os controladores da JBS tentam manter de pé as delações fechadas com a Procuradoria-Geral da República, o comando da companhia voltou a fazer planos para retomar aquisições e abrir o capital da JBS nos Estados Unidos. Depois de vender vários ativos para reduzir dívidas nos últimos 18 meses, a companhia voltou a analisar ativos para comprar, mas as aquisições, desta vez, serão complementares a suas linhas de negócios. A americana Pilgrim's, controlada pela JBS, está entre as interessadas nos ativos da BRF na Europa e Tailândia. O executivo Guilherme Cavalcanti, diretor financeiro e relações com os investidores da Fibria, está sendo sondado pelo grupo para comandar o IPO da JBS nos EUA, segundo fontes.

Com faturamento de R$ 163,2 bilhões no ano passado, analistas de mercado projetam que a receita da JBS deve encerrar este ano em cerca de R$ 200 bilhões. No terceiro trimestre, o grupo registrou prejuízo líquido de R$ 133,5 milhões, ante lucro de R$ 323 entre julho e setembro do ano passado. As vendas no mesmo período subiram 20,1%, puxadas pela recuperação das operações no Brasil. Esse recuo refletiu efeitos cambiais e a adesão da JBS a um programa de incentivo fiscal. O mercado projetava resultado negativo de cerca de R$ 900 milhões.

Para Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI, o bom desempenho operacional da JBS no Brasil e nos EUA, que respondem por mais de 50% das vendas do grupo, impulsionaram as ações da JBS. Não é caso da gigante BRF, dona da Sadia e Perdigão, que mudou a gestão em maio, com a chegada de Pedro Parente, mas ainda tem resultados operacionais ruins. Leia mais em epocanegocios 02/12/2018

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