26 novembro 2018

Venda de participações societárias do BNDES é opção para próximo governo

BNDESPar já possui na gestão do atual presidente Dyogo de Oliveira um programa em curso para alienação de ativos; e expectativa é de novas negociações com chegada de Joaquim Levy no banco

A venda de participações societárias do BNDES será uma opção mais rápida para o próximo governo em comparação aos processos mais lentos de privatizações de estatais federais, com o objetivo claro de fazer caixa para reduzir uma parte da dívida bruta do País.

Na visão de especialistas em estratégias financeiras e renda variável (ações) consultados pelo DCI, todo o desenho da equipe do futuro ministro da economia Paulo Guedes sugere um programa “ambicioso” de privatizações e de venda de participações societárias no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“O Joaquim Levy [futuro presidente do BNDES] tem uma postura muito técnica, vai arrumar a casa e, provavelmente, negociar blocos [de ações] com investidores estratégicos ou estruturar ofertas secundárias no mercado de capitais”, aponta o especialista em ações da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães.

Em números do último balanço da BNDESPar, o braço de investimentos do BNDES possui ações em 94 empresas, títulos privados (como debêntures) num total de 124 companhias, e cotas em 42 fundos de investimentos.

Em setembro passado, esses ativos somavam R$ 108,082 bilhões, R$ 10,9 bilhões a mais (+11,2%) que o registrado em junho, devido, principalmente, à valorização de papéis da Petrobras e da Vale no trimestre.

Guimarães pontua que a estratégia de venda de participações na bolsa de valores, mesmo que aos poucos, traz o risco de redução de preços dos papéis. “São participações muito grandes, não dá para vender devagar [na bolsa].

O caminho é encontrar compradores, fatiar pedaços, fazer road-shows [apresentações no exterior], e dependendo do ativo, fazer leilão para trazer muitos compradores”, argumenta.

Mesmo assim, a venda de ações pode ser um caminho mais rápido do que a das privatizações das estatais, que possuem um processo mais lento e dependem de autorizações do Congresso, segundo decisão recente da justiça.

O professor de estratégia do Insper, Sergio Lazzarini, observa que a experiência de Joaquim Levy fará que essas vendas de fatias acionárias sejam realizadas em momentos favoráveis de mercado. “O Levy entende muito bem isso. E a venda de participações em blocos de controle será negociada, pois o preço é superior ao de mercado”, argumentou.

O professor comentou que diante da dívida pública muito elevada, não faz sentido, o BNDES manter posições em ações de grandes empresas. “É saudável que o banco devolva os recursos ao Tesouro para reduzir a dívida”, diz Lazzarini.

Vale mencionar que a instituição de fomento já assinou um acordo para devolver gradualmente recursos ao Tesouro Nacional até 2040, sendo R$ 102,8 bilhões entre 2019 a 2022 (governo Jair Bolsonaro).

Num contexto mais amplo, o especialista da Levante diz que os investidores estrangeiros mostram “muito interesse” por ativos do setor elétrico no Brasil. “O BNDES possui muitas participações cruzadas no setor de energia”, lembra.

Ele ainda interpreta a estratégia do economista Paulo Guedes para a venda de subsidiárias ou negócios relacionados da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, com as nomeações respectivas dos presidentes Roberto Castello Branco, Rubem Novaes e Pedro Guimarães. “Há negócios que não fazem parte do core-business que devem ser alienados, sem uma privatização das estatais [em atividades principais]”, diz.

Nesse exemplo, negócios de gás ou de distribuição de combustíveis podem ser negociados via Petrobras, assim como segmentos de cartões ou seguros no caso da Caixa, ou a gestora de investimentos no caso do Banco do Brasil, sem que as estatais deixem de atuar respectivamente em exploração e produção de petróleo, financiamento imobiliário e programas sociais, e crédito rural.

Nas contas de Guimarães, o potencial é de até R$ 250 bilhões em aportes para a alocação de recursos de fundos de investimentos globais no Brasil voltar ao patamar de 2014. ERNANI FAGUNDES  Leia mais em dci 26/11/18 


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