05 novembro 2018

Mercado prevê 30 empresas indo à Bolsa em até 18 meses

As operações de abertura de capital em Bolsa de empresas brasileiras devem ser destravadas no país à medida que se consolidam as previsões de crescimento econômico e saem do papel as reformas propostas pela equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Analistas trabalham com uma lista de cerca de 30 empresas que estariam prontas para vender ações no mercado, considerando aquelas que já fizeram o pedido de listagem na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Haveria ainda um conjunto de companhias que começaria a se movimentar à medida que investidores mostrassem apetite por esse tipo de papéis.

Os primeiros IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) devem ser do banco BMG e da empresa de serviços de tecnologia Tivit, que planejam concluir a operação ainda neste ano.

Já a holding de energia Neoenergia, controlada pela espanhola Iberdrola, pode tentar uma oferta inicial no primeiro trimestre de 2019, após duas ofertas suspensas por falta de disposição de investidores em entregar o valor pedido pelos acionistas.

As emissões tentam capturar a euforia do mercado com a vitória de Bolsonaro —na quinta-feira (1º), o Ibovespa bateu recorde histórico ao fechar em 88.419 pontos.

A eleição do capitão reformado do Exército era vista mesmo durante a eleição como um potencial catalisador de um período benigno e duradouro de alta para a Bolsa. Isso porque desde a campanha o presidente eleito passou a defender ideias econômicas liberais, amparado em seu guru e futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

“O último período de alta relevante foi nos anos Lula. Os grandes movimentos da Bolsa se devem a eventos políticos”, diz André Rosenblit, responsável pela área de Equities do Santander.

O recorde da Bolsa brasileira foi em 2007, quando 64 operações de abertura de capital foram registradas; um ano antes, em 2006, foram 26.

Segundo o executivo do Santander, esse total de 30 empresas deve ir a mercado nos próximos 18 meses, com potencial de movimentar US$ 15 bilhões (cerca de R$ 55 bilhões).

Desse universo, Antonio Pereira, executivo da área de banco de investimento do Goldman Sachs no Brasil, projeta que até 30% não conseguirá efetivamente abrir capital, por razões específicas da companhia. Não seria, portanto, por falta de demanda de investidores, afirma.

Além disso, outras preencheriam essa lacuna para o mercado alcançar o número mágico de 30 operações de abertura de capital.

O potencial do mercado brasileiro é considerado grande pelo longo tempo em que quase não houve espaço para novas operações, reflexo da longa recessão e das dificuldade de empresários e investidores vislumbrarem um cenário mais otimista para a economia brasileira e para o resultado das empresas.

“A gente ficou com essa janela de cinco anos quase em compasso de espera”, diz Pereira, do Goldman Sachs.

Ainda há liquidez no mercado externo, com os juros baixos em economias desenvolvidas, que motiva a migração de recursos para economias emergentes.

Analistas não vislumbram ainda um cenário negativo para a Bolsa local mesmo com o atual ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, que diminuiria a liquidez do mercado.

A demanda por novos papéis viria de fundos de investimento, pouco alocados em renda variável atualmente, e de investidores internacionais que são dedicados a investimentos em Brasil e também subalocados.

Na preferência desses investidores, predominariam os setores financeiro e de saúde, educação e energia.

Nesses segmentos, haveria amplo potencial de crescimento para as companhias.

O exemplo mais citado pelo mercado de operação bem sucedida é a abertura de capital da PagSeguro —que pertence ao UOL, do Grupo Folha— na Bolsa de Nova York.

Na operação, realizada em janeiro, foram movimentados US$ 2,3 bilhões (R$ 8,5 bilhões), e a forte demanda abriu espaço para a concorrente Stone realizar sua oferta, na qual levantou US$ 1,5 bilhão (R$ 5,6 bilhões).

As duas operações mostram a demanda de investidores por empresas disruptivas do setor financeiro —o que não significa que todas as empresas que se posicionam como fintechs conseguirão atrair a mesma demanda, afirmam especialistas.

O Agibank, banco do Rio Grande do Sul que está migrando sua operação para serviços digitais, planejava realizar o IPO no mesmo período da PagSeguro, mas precisou engavetar o projeto por ver a demanda pelos papéis minguar.

Procurado para comentar o processo, o banco afirmou que acompanha as condições de mercado pelo melhor momento para a eventual retomada do processo de abertura de capital. Marciano Testa, fundador e presidente do Agibank, afirmou que o cenário eleitoral seria determinante para levar adiante os planos.

Além das duas empresas de meios de pagamento, houve ainda neste ano o IPO da Arco Educação no exterior.

Na B3, outras três empresas abriram capital ao longo de 2018, número abaixo das dez novas companhias listadas na Bolsa brasileira em 2017.

Houve ainda a emissão da Netshoes em Nova York e a abertura de capital simultânea da Azul na B3 e nos Estados Unidos.

“Menos de dez IPOs por ano é muito pouco para uma economia do tamanho da nossa”, afirma Antonio Pereira, head de investment banking do Goldman Sachs no Brasil.

A redução das operações apareceu nos resultados dos bancos no terceiro trimestre. Receitas com assessoria financeira registraram forte queda no período, com tombo de 32% da arrecadação nessa linha no Itaú. No Bradesco, a queda foi de 19,4%. Ambos os casos são em comparação com igual período de 2017.

Mas a expectativa é que o cenário já se reverta nesse semestre, corroborando a visão de especialistas ouvidos pela Folha de que haverá maior apetite por IPOs no mercado.

Em entrevista para detalhar os resultados do terceiro trimestre, o presidente do Itaú, Candido Bracher, atribuiu a queda expressiva ao período de incerteza, que deve se dissipar já nos últimos três meses do ano que vem. Fonte:Folha de S.Paulo Leia mais em portal.newsnet 05/11/2018



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