27 setembro 2018

Smurfit Kappa se prepara para expandir operação no Brasil

Dois anos depois de desembarcar no Brasil com a compra de duas fabricantes de papelão ondulado locais por mais de R$ 800 milhões, a irlandesa Smurfit Kappa está trabalhando em uma nova fase de expansão no país. A aquisição de ativos, que se somariam à capacidade instalada atual de 210 mil toneladas por ano, pode fazer parte da estratégia.

Ainda não existe um sinal verde da matriz para um movimento dessa natureza, mas, no que depender das impressões do presidente do conselho de administração da companhia, Liam O'Mahony, os planos devem se converter em realidade.

"Ficarei decepcionado se novos investimentos não forem aprovados", afirmou O'Mahony ao Valor, sem entrar em detalhes de prazo ou dos planos que estão em discussão. Nos dois últimos anos, os aportes na operação local somaram US$ 40 milhões, dos quais US$ 15 milhões em 2018. A Smurfit Kappa opera duas unidades fabris em Bento Gonçalves (RS), uma fábrica em Maranguape (CE), outras duas em Pirapetinga (MG) e duas em Uberada (MG).

A primeira etapa de investimentos se consolidou com a integração das fábricas da antiga Inpa Embalagens e da Paema Embalagens e foi coroada, nesta quarta-feira, com a inauguração de seu primeiro centro de experiência no Brasil, na capital paulista. Em visita ao país para participar do evento, O'Mahony disse estar impressionado com o desempenho da operação local e acreditar no aval da matriz para uma nova rodada de crescimento, dado o potencial de crescimento dos negócios. "Nossa presença no Brasil ainda é muito pequena relativamente ao tamanho da Smurfit Kappa", explicou.

Com vendas anuais da ordem de US$ 10 bilhões - a receita local não é divulgada -, a Smurfit Kappa tem operações em 22 países da Europa e 13 das Américas e aparece entre as 100 companhias mais negociadas na Bolsa de Valores de Londres (FTSE 100). No Brasil, está no grupo das cinco maiores fabricantes de embalagens de papelão ondulado, que é liderado pela Klabin, cuja participação de mercado é de 18%. Outras duas multinacionais aparecem nesse grupo, International Paper e WestRock, que é integrado ainda pela Celulose Irani.

A fragmentação da indústria abre possibilidades de compra e há ativos disponíveis no mercado brasileiro - o controlador da Irani, por exemplo, contratou o BTG Pactual para prospectar interessados em se associar ou comprar a empresa. Questionado sobre possível interesse na Irani, o executivo preferiu não falar sobre empresas específicas e disse a Smurfit Kappa tem contato com várias participantes desse mercado.

A própria companhia irlandesa atraiu recentemente o interesse de concorrentes. No primeiro semestre, foi alvo de uma oferta de compra feita pela concorrente americana International Paper (IP), mas seu conselho decidiu, com apoio dos acionistas, permanecer como companhia independente.

Conforme o executivo, a proposta da IP subavaliou a Smurfit Kappa - na segunda oferta, melhorada, a americana avaliou a empresa em € 8,9 bilhões. "A oferta da IP não foi solicitada. A companhia não está à venda, quer continuar crescendo e, por isso, está realizando investimentos no Brasil", afirmou.

As vendas locais, disse o principal-executivo da Smurfit Kappa Brasil, Manuel Alcalá, tem crescido acima da média do mercado, medida pela Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). Segundo dados preliminares da entidade, as expedições de caixas, acessórios e chapas de papelão crescem 2,29% no acumulado do ano até agosto, para 2,36 milhões de toneladas. Há recuperação dos volumes da indústria em relação ao período de crise econômica, mas esse movimento foi prejudicado pela greve dos caminhoneiros em maio.

O centro de experiência recém-inaugurado no país é o 24º da companhia no mundo e tende a acelerar o crescimento das vendas locais, conforme Alcalá. "O centro de experiência representa um ponto de inflexão para a operação brasileira. Estamos prontos para crescer rápido, mas não vamos olhar apenas volume por volume. Queremos crescer com qualidade", afirmou. Sobre as condições de negócios atualmente, o executivo comentou que o mercado está saudável e a instabilidade política não altera os planos para o país.

Nesses centros, que no conjunto receberam investimentos de US$ 650 mil até agora, os clientes da Smurfit Kappa entram em contato com seu portfólio global de soluções e com sua rede de profissionais. No total, são mais de 700 designers ao redor do mundo e mais de 7 mil conceitos de embalagens, cujas tendências atuais estão relacionadas a sustentabilidade - com substituição de materiais não renováveis como o plástico - e à adição de valor ao cliente.

A expectativa para os negócios com embalagem em todo o mundo, disse o principal executivo da Smurfit Kappa nas Américas, Juan Guillermo Castañeda, é positiva. O uso de materiais sustentáveis e o avanço do comércio eletrônico devem dar suporte importante ao crescimento da demanda global nos próximos anos. "Temos boas expectativas", comentou. Há poucos dias, a companhia se viu obrigada a fazer uma baixa contábil de € 60 milhões relativa a ativos na Venezuela, após o governo de Hugo Chávez ter se apropriado da unidade. A operação representava menos de 1% da receita global. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 26/09/2018

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