O ex-presidente da Eldorado Celulose volta à cena corporativa ao criar a Olímpia Investimentos e Participações. Junto com investidores brasileiros e estrangeiros, ele vai desembolsar R$ 1 bilhão em empresas do agronegócio e estruturar fundos voltados a infraestrutura, petroquímica e tecnologia. Conheça seus planos
José Carlos Grubisich, ex-presidente da Eldorado e dono da Olímpia Investimentos: "Os investidores estão aguardando as definições políticas para entender qual será o rumo econômico
Desde dezembro de 2017, quando deixou a presidência da Eldorado Brasil, gigante brasileira de papel e celulose vendida pela J&F à holandesa Paper Excellence, por R$ 15 bilhões, o executivo paulista José Carlos Grubisich, vive uma espécie de “sabático corporativo”. Aos 61 anos, ele tem conciliado viagens de lazer com reuniões de negócios e assinatura de contratos em várias partes dos Estados Unidos, da Ásia e da Europa. Além de cumprir a agenda obrigatória de membro dos conselhos de administração da francesa Vallourec, líder mundial em tubulações industriais; e da petrolífera americana Halliburton, Grubisich tem se dedicado a estruturar sua nova empresa: a Olímpia Investimentos e Participações. “Estou fazendo de tudo um pouco, sempre com foco em atrair investimentos para as inúmeras oportunidades de negócios existentes hoje no Brasil”, disse o empresário em entrevista à DINHEIRO, enquanto cumpria uma rodada de negociações com investidores em Paris. “Com todos os potenciais investidores que tenho conversado, a dúvida é sempre a mesma, a de se o País voltará a crescer após das eleições de outubro.”
Força do campo: o primeiro fundo da Olímpia, de Grubisich, levantará R$ 1 bilhão para investimentos em empresas do agronegócio a partir de 2019
Na prática, Grubisich tem adotado funções semelhantes as de diplomata e de embaixador, ao explicar aos estrangeiros, empresários e políticos, que o Brasil continua sendo uma fonte possibilidades de bons negócios. Com a experiência de quem comandou a petroquímica Braskem e ETH Bioenergia, além da Eldorado, ele tem vendido lá fora seu otimismo em áreas estratégicas. Os argumentos, aparentemente, estão convencendo. O primeiro grande desafio à frente da Olímpia será capitanear um fundo de investimento de R$ 1 bilhão, ainda em formação, para aquisições e compra de participação em empresas do agronegócio a partir de 2019. Com recursos próprios – levantados principalmente pela venda de sua participação minoritária na Eldorado – e de empresários brasileiros e estrangeiros, Grubisich garante que, passada as turbulências políticas do cenário eleitoral, os investimentos voltarão com vigor. “Meu novo papel tem sido mostrar que o melhor momento de investir é agora, especialmente em setores de imenso potencial de crescimento, como o agronegócio”, diz Grubisich, destacando as áreas de grãos e bionergia, onde possui grande know-how, como as maiores apostas.
Setor em expansão: a Olímpia vai estruturar um fundo voltado às áreas de infraestrutura e energia
A estreia pelo agronegócio, segundo Grubisich, não foi uma decisão aleatória. Não tem sido difícil atrair recursos para o campo, que responde por pouco mais de 20% da atividade econômica do Brasil, e que deverá crescer 3,4% em 2018, segundo estimativa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. No ano passado, o PIB do agronegócio saltou 7,6%, turbinado por uma safra recorde de vários produtos, como soja e milho. Grubisich afirma que a estratégia de investimento no agronegócio será um cartão de visitas para a criação de mais dois fundos no ano que vem, um voltado ao setor de tecnologia e outro para infraestrutura e energia, que está sendo montado junto a investidores para captar entre R$ 850 milhões e R$ 1,5 bilhão. “Já tenho parceiros dispostos a colocar a quantidade de dinheiro que for necessária para aquisição de bons ativos”, garante Grubisich. No caso do fundo para tecnologia, o empresário afirma que o foco será o investimento em desenvolvimento de drones e de monitoramento via satélite. “Temos conversas muito avançadas com parceiros americanos e israelenses, já que são eles que conhecem como ninguém essas áreas e seus potenciais.”
As perspectivas para Grubisich, a julgar pelos números do mercado, são promissoras. De acordo com a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), o apetite dos fundos de private equity pelo Brasil está em franca expansão neste ano, estimulado principalmente pela recuperação da economia e pela necessidade da maioria das empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, de levantar capital para expandir suas operações. Depois da profunda recessão que o País atravessou, a estimativa agora é de que as gestoras aumentem entre 20% a 30% os aportes no País neste ano, segundo a ABVCAP. No ano passado, as gestoras fizeram aportes de R$ 15,2 bilhões, uma alta de 10% sobre 2016, ano em que houve queda de 38,7%. “O ano passado foi muito ativo para os fundos em todo o mundo, movimento que está começando a acontecer no País de forma consistente”, afirma Newton Monteiro, coordenador do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVcepe), da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Apesar do ambiente desafiador para convencer investidores estrangeiros a apostar no Brasil, Grubisich irá pegar carona em um mercado que deve captar US$ 3,5 bilhões e US$ 3,7 bilhões neste ano, pelas projeções da consultoria americana Private Equity Bay. Será o maior volume desde 2014, quando a captação chegou a US$ 4,4 bilhões. O recorde ocorreu em 2011, quando os fundos captaram US$ 7,3 bilhões. “Os investidores estrangeiros estão procurando empresas no Brasil para investir, pelo baixo preço de agora, esperando lucro depois”, diz Janser Saloman, especializado em reestruturação de empresas na Rosenberg Partners. De fato, a desaceleração econômica acabou gerando oportunidades para os fundos, que tem conseguido encontrar algumas pechinchas no País. No ano passado, segundo a Private Equity Bay, o múltiplo médio de aquisição no Brasil foi de 7,3 vezes o Ebitda (lucro antes de juro e impostos) da empresa adquirida, contra 10,5 vezes nos EUA e 12,1 vezes na Ásia. “O desafio da Olímpia, de Grubisich, não será apenas congregar investidores em fundos robustos, mas disputar espaço em um setor dominado por gestoras como Pátria, Bozano, Stratus, Vinci e Kinea, além das estrangeiras Warburg Pincus, Brookfield e Carlyle”, diz o economista da FGV Mario Pereira, especialista em fusões e aquisições.
O timing do retorno de Grubisich ao mundo dos negócios é, segundo ele, apropriado, passadas as turbulências e incertezas geradas pelas investigações da Lava Jato. Enquanto ainda era executivo e sócio minoritário da Eldorado, seu nome foi citado pelo diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, e pelo empresário Joesley Batista, em um diálogo gravado e entregue pela holding da família Batista ao Supremo Tribunal Federal (STF). O empresário e o executivo da JBS chegam a especular se Grubisich poderia ser um infiltrado do Ministério Público Federal (MPF), em uma eventual negociação de delação premiada, e os ter delatado. “A citação de meu nome só demonstrou minha total isenção nesses escândalos da Lava Jato”, diz Grubisich.
José Carlos Grubisich concedeu entrevista à DINHEIRO. Confira:
Por que o sr. decidiu criar sua própria empresa, em vez de seguir como executivo de multinacionais?
É o início de uma nova fase. Durante meus anos na Eldorado, construí uma ampla rede de relacionamentos com empresas, empresários e investidores. Agora, estou tentando identificar boas oportunidades de investimento, para atrair os investidores. Com todos os potenciais investidores que tenho conversado, a dúvida é sempre a mesma, a de se o País voltará a crescer após das eleições de outubro.
A culpa é da instabilidade eleitoral?
Com certeza. Os investidores estão aguardando as definições políticas para entender qual será o rumo econômico. Já tenho parceiros dispostos a colocar a quantidade de dinheiro que for necessária para aquisição de bons ativos. Passada a indefinição eleitoral, os investimentos voltarão.
Como o sr. enxerga o cenário eleitoral?
Nada está definido. Mas, se tem um candidato que se apresenta como um grande vencedor nesse processo de articulação de alianças, esse é o Geraldo Alckmin. A costura que ele conseguiu fazer o coloca como um favorito. No caso de Jair Bolsonaro, é impressionante sua capacidade de mobilização. Nunca vi um candidato com tamanho poder de mobilização nas redes sociais.
O fato de seu nome ter sido citado na Lava Jato não te prejudicou?
Ao contrário. A citação de meu nome em uma conversa despretenciosa de Joesley Bastista e Ricardo Saud só demonstrou minha total isenção nesses escândalos da Lava Jato. Claro que não é prazeroso ver meu nome envolvido nesse contexto, mas, do ponto de vista prático, foi positivo para mim porque ficou claro que não estava envolvido em nada daquilo. Leia mais em istoedinheiro 04/08/2018
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