Regis Nieto, do BCG, alerta que as atuais fórmulas estão perto de se esgotar
Em poucos anos as tradicionais fórmulas da indústria automotiva deixarão de funcionar e gerar faturamento. “Hoje as receitas vêm da venda de carros, do financiamento, da oferta de peças e do mercado de reposição. Isso tudo está se estagnando e, em breve, as fontes serão outras”, avisa Regis Nieto, sócio-diretor do BCG. O consultor participou do Workshop Planejamento Automotivo 2019, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 27, em São Paulo.
O especialista indica que, com a evolução do carro conectado, elétrico, autônomo e compartilhado, o faturamento das empresas que atuam no segmento de mobilidade virá da produção de novos componentes e tecnologias para os veículos, da venda de dados gerados pelo uso de automóveis conectados, de serviços de transporte sob demanda e ainda de soluções de infraestrutura de mobilidade, “como um sistema inteligente de gestão de vagas ou os postos de recarga”, exemplifica.
“Nos próximos anos o dinheiro virá de novos lugares. As empresas que não estão se reposicionando agora vão passar por dificuldade. O setor automotivo vai se transformar mais em dez anos do que nos últimos 100”, alerta.
Ele cita o exemplo da Tesla, que tem valor de mercado próximo ao das maiores montadoras do mundo, mas vende volume equivalente a um centésimo do realizado pelas três maiores empresas do segmento e queima caixa, ainda longe do equilíbrio financeiro. Por outro lado, lembra, a empresa do Vale do Silício trabalha alinhada aos novos modelos de mobilidade, com o olhar voltado às tecnologias do futuro e é aí que está o valor percebido pelos investidores.
PRECISA-SE DE SOLUÇÕES LOCAIS
“Uma das coisas que mais ouço dos profissionais no Brasil é que não dá para desenvolver nenhuma dessas soluções localmente, que as respostas virão da matriz. Isso não é verdade”, assegura Nieto. Segundo ele, há vários desafios que precisarão ser resolvidos localmente, respostas que nenhuma matriz dará. Entre eles está a construção de plataformas de mobilidade com modelos para monetizar os dados gerados e o desenho da infraestrutura para carros elétricos, por exemplo. “Acima de tudo, o consumidor é local e, portanto, precisamos desenhar as soluções certas para ele”, diz o consultor. O cliente, aliás, é visto por Nieto como uma grande oportunidade para as empresas locais.
“As pessoas são muitos conectatas aqui. O Brasil é o segundo maior mercado da Uber e São Paulo, a cidade com mais usuários do Waze no mundo. Se as empresas automotivas não desenharem soluções para esse consumidor, correrão o risco de ficar distantes dele, favorecendo intermediários”
Nieto considera que muitos processos deveriam ser revistos. Entre eles está o modelo atual de concessionárias. Com os clientes tão conectados, é normal que a escolha do carro que vão comprar seja feita em casa, on-line, e a visita a uma loja para fechar o negócio aconteça só depois, para fechar negócio. “Será que não conseguimos melhorar essa experiência? Fazer revendas menores, mais interessantes e oferecer veículos que vão até o cliente para oferecer manutenções mais simples, por exemplo. Não podemos seguir acreditando que são as concessionárias que geram vendas.”
O principal conselho do executivo é, portanto, combinar a agenda global com uma estratégia local. O importante é fazer movimentações no curto prazo. “A transformação está em curso. As coisas já mudaram em muitos aspectos.” GIOVANNA RIATO, AB Leia mais em automotivebusiness 27/08/2018
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