A incerteza política no País, o aperto monetário nos Estados Unidos e o embate comercial entre Washington e Pequim fizeram com que o investidor estrangeiro deixasse a Bolsa brasileira no primeiro semestre deste ano.
Ao todo, R$ 9,9 bilhões foram retirados da B3 por estrangeiros no período, o pior resultado já registrado em um primeiro semestre desde 2004, ano em que os dados começaram a ser compilados.
Até então, o maior déficit havia ocorrido entre janeiro e junho de 2008, quando R$ 6,6 bilhões foram retirados da Bolsa. À época, o mercado financeiro global sofria com o estouro da bolha imobiliária americana, que culminou com a quebra do Lehman Brothers em setembro daquele ano. No segundo semestre de 2008, R$ 17,9 bilhões foram retirados por investidores internacionais da Bolsa brasileira.
Para analistas do mercado, tudo indica que a saída de capital continuará nos próximos meses, ainda que em volume menor.
Apenas em junho, os estrangeiros tiraram R$ 5,9 bilhões da Bolsa, segundo dados divulgados pela B3 ontem. Apesar de expressivo, o volume está longe do recorde histórico, verificado em maio, de R$ 8,4 bilhões.
“A tendência é continuar não tendo um fluxo favorável, ao contrário do que ocorreu no começo do ano”, disse o economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira, referindo-se a janeiro.
Naquele mês, os estrangeiros injetaram R$ 9,5 bilhões na B3 impulsionados pela perspectiva de alta de 3% na economia brasileira e de crescimento global.
Esse cenário, porém, mudou drasticamente diante da guerra comercial entre EUA e China, do desaquecimento da atividade econômica do País e da ausência de um candidato reformista nas primeiras colocações das pesquisas eleitorais.
“Para os próximos meses, talvez haja até uma redução do volume (de capital) retirado pelos estrangeiros, porque já saiu muito (no primeiro semestre).
Mas não há motivos para a entrada de recursos. Não há perspectivas de reformas”, acrescentou Bandeira.
De acordo com o analista Gustavo Cruz, da XP Investimentos, a indefinição completa do cenário político tem preocupado o investidor, que acaba fugindo do País. Essa apreensão deve permanecer pelo menos até o fim do primeiro turno das eleições, diz. “Depois, a tendência não é de situação de desespero, independentemente do candidato que se sair melhor. A maioria deles tem um discurso preocupado com a questão fiscal.” Já para a equipe de análise da Guide Investimentos, a saída de investimentos deve prevalecer até o fim de agosto, pois o cenário para emergentes seguirá desfavorável. Segundo a corretora, além do panorama eleitoral indefinido, há a expectativa de alta nos juros nos Estados Unidos e na Europa – o Banco Central Europeu deverá a seguir o movimento de aperto monetário nos próximos meses.
Lucas Claro, analista da Ativa Investimentos, concorda que a tendência de retiradas não se encerrará tão cedo. Segundo ele, o clima de guerra comercial entre China e Estados Unidos, aliado à valorização do dólar, contribui para a busca por proteção em mercados mais seguros, como os de títulos do Tesouro americano.
Dia. Apesar do panorama desfavorável para a Bolsa no médio prazo, o Ibovespa (principal índice da B3) fechou ontem com alta de 1,14%, aos 73.667,75 pontos. Os papéis da Kroton, empresa de educação, foram os de maior destaque, com alta de mais de 9% após o Ministério da Educação anunciar que serão ofertados 50 mil novos empréstimos do Fies ainda neste ano. A Embraer subiu 5,10% com a informação de que as negociações para a venda da companhia para a americana Boeing seriam discutidas, em uma reunião ontem, entre o presidente Michel Temer e os ministros da Defesa, Joaquim Silva e Luna, da Segurança Pública, Raul Jungmann, e da Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen.- O Estado de S.Paulo Leia mais em portal.newsnet 04/07/2018
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