A decepção com o ritmo da retomada econômica este ano —as projeções de crescimento passaram de 2,6% para 1,5% — fez com que os bancos acelerassem a venda de “créditos podres” de suas carteiras, formados por empréstimos em atraso há mais de um ano e que já haviam sido lançados como prejuízo em seus balanços.
Segundo a RCB Investimentos, uma das líderes do mercado de compra desse ativos, foram vendidos entre R$ 12 bilhões e 13 bilhões dessas carteiras no primeiro semestre, arrematadas por cerca de R$ 250 milhões por firmas especializadas e investidores de risco. No mesmo período do ano passado, foram apenas R$ 5 bilhões, avalia a empresa.
A estimativa considera calotes como os de pessoas físicas em empréstimos pessoais, cartões e financiamentos e dívidas de empresas de até R$ 5 milhões. Grande parte desses créditos foi emitida por bancos, mas também há financeiras e grandes varejistas.
Os valores são vendidos a empresas especializadas na gestão de fundos de direitos creditórios, companhias especializadas em cobranças e investidores estrangeiros, como focados em ativos de alto risco. Eles pagam entre 1% e 10% do valor de face das carteiras, dependendo das garantias envolvidas (financiamento de veículo vale mais).
Por se tratar de um negócio de risco, o objetivo desses investidores é obter um retorno da ordem de 10 pontos percentuais acima da taxa de referência CDI (em valores de hoje, isso representa mais de 16% ao ano).
—Para o banco, é mais conveniente se desfazer disso, que já foi baixado do balanço, do que investir em um processo caro de cobrança —explica Luis Santacreu, analista da Austin Rating.
No primeiro semestre, o Bradesco vendeu R$ 8,85 bilhões em créditos podres por R$ 155 milhões (1,7% do valor de face da carteira). O Santander, segundo seu balanço, obteve, apenas no segundo trimestre, R$ 70 milhões com a venda de carteiras podres.
O banco não informa o valor de face, mas, considerando uma taxa de desconto de 98% (menor que a do Bradesco, por exemplo), o volume seria de R$ 3,5 bilhões. Segundo fontes de mercado, nas últimas semanas, o Santander chegou a tentar se desfazer de mais de R$ 2 bilhões em empréstimos podres, mas não fechou a operação por discordar do preço oferecido.
NO ANO, SERIAM R$ 25 BI
Como créditos com mais de um ano de atraso precisam ser baixados como prejuízo no balanço, qualquer valor obtido com a venda das carteiras é contabilizado como lucro.
— Este ano está se mostrando mais difícil do que se esperava. Então, as instituições têm maior incentivo para se desfazer desses créditos — afirma Alexandre Nobre, da RCB.
Ele estima que a RCB encerre o ano com uma carteira de até R$ 25 bilhões em valor de face, o dobro do que tinha em meados de 2017.- O Globo Leia mais em portal.newsnet 31/07/2018
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