26 junho 2018

Onde nem Buffett tem vez? Na mídia impressa

Você sabe que a coisa na velha mídia está mesmo feia quando até Warren Buffett resolve jogar a toalha.

A Berkshire Hathaway anunciou hoje que vai terceirizar a gestão do BH Media Group, seu braço de mídia que abriga 100 produtos editoriais, incluindo 31 jornais diários locais e mais 47 semanais.

Buffett (ainda) não está vendendo os títulos. A Lee Enterprises – uma editora de Iowa que publica 46 diários – vai assumir a administração dos jornais em troca de uma comissão anual de US$ 5 milhões, mais um percentual dos lucros que excederem um benchmark estabelecido pelas duas partes.

Ficaram de fora do negócio: o Buffalo News, em Nova York, e a rede de TV WPLG, de Miami.

O CEO da BH Media, Terry Kroeger – que passou 33 dos seus 56 anos à frente do jornal do coração de Buffett, o Omaha-World Herald – vai renunciar ao cargo.

A Lee espera colocar US$ 50 milhões no bolso até o fim do contrato de cinco anos. As ações da Lee negociadas em Nova York subiram 20% hoje (a empresa vale US$ 164 milhões na Bolsa).

Há sete anos, a Berkshire surpreendeu ao mostrar interesse pela mídia impressa, que está longe de ter algumas premissas básicas da cartilha de Buffett, como previsibilidade, crescimento e baixa necessidade de capital.

A Berkshire comprou o Omaha World-Herald e seis outros jornais locais de Nebraska e de Iowa em 2011, formando a BH Media. No ano seguinte, arrematou 63 publicações da Media General, de Richmond, por US$ 142 milhões.

Foi um dos poucos 'passion investments' de Buffett, que foi entregador de jornais quando jovem – nas conferências da Berkshire, até hoje ele promove um concurso de 'lançamento de jornal a distância' para celebrar seu passado.


O que pouca gente sabe é que o Oráculo de Omaha já contribuiu também para o Omaha Sun ganhar um Pulitzer em 1973, quando era dono da publicação, ajudando a desmascarar desvios em uma instituição de caridade numa reportagem investigativa. (O jornal foi vendido em 1980 e parou de circular três anos depois).

Buffett apostou nos jornais das cidades pequenas, acreditando que eles seriam mais resilientes por cobrir notícias imprescindíveis mas que não interessariam a publicações nacionais.

“Nosso objetivo é manter nosso jornais cheios de conteúdo de interesse dos nossos leitores e ser pagos de forma apropriada por quem acredita que somos úteis, quer eles leiam o produto impresso ou pela internet”, resumiu numa carta aos acionistas em 2013.

Não deu muito certo. A BH Media vem fazendo uma série de demissões – o número de funcionários passou de 4.200 para 3.700 no ano passado. Na última conferência da Berkshire, em maio, o Oráculo reconheceu que sua bússola não estava funcionando bem no setor: “É difícil ver como o produto impresso vai sobreviver ao longo do tempo”, lamentou.

Agora, ele aposta que só a união pode fazer a força.

Outro bilionário, Jeff Bezos, já mostrou que consegue fazer dinheiro até no jornalismo. Neste post, ele conta as razões por trás do renascimento do The Washington Post.  Natalia Viri Leia mais em Brazil Journal 26/06/2018

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