30 abril 2018

Ex-sócios da XP estreiam na economia real

Desde que deixaram a XP Investimentos, entre o fim de 2015 e começo de 2016, Marcelo Maisonnave - co-fundador da corretora - Pedro Englert e Eduardo Glitz vêm investindo em uma série de fintechs, como são conhecidas as startups que oferecem produtos e serviços financeiros. Era natural que dessem sequência ao que haviam começado lá atrás, juntando conhecimento (e o punhado de reais que levaram com a venda da XP) em um nicho que vem crescendo (36% no último ano, segundo o FintechLabs), empurrado pelos avanços da tecnologia e pelo dinheiro de fundos internacionais.

É um movimento irreversível. Não por acaso os bancos tradicionais estão, eles mesmos, criando suas próprias startups ou comprando as que se destacaram - a XP é um caso clássico.

No portfólio do trio, figuram, ao todo, oito empresas. Sete delas, fintechs, atuando nos segmentos de crédito, investimentos, câmbio, meios de pagamento, seguros e... uma fabricante de sapatos.

A pergunta inevitável: o que três experts financeiros, forjados no mundo digital, que se especializaram em buscar pérolas de disrupção no mundo dos negócios, estão fazendo com uma fábrica de sapatos? "A oportunidade apareceu e resolvemos testar os conhecimentos e o modelo de negócios do mundo digital na economia real", afirma Englert.

No início de 2017, um amigo de Englert ligou dos EUA dizendo que havia por lá um tênis confortável feito de lã merino, cujas propriedades térmicas permitiam o uso do calçado tanto no inverno quanto no verão. O produto estava bombando no mercado americano. Englert interessou-se e incluiu na jogada outro amigo, Eduardo Dutra, empresário do setor de calçados. Descobriram que havia grandes fornecedores desse tipo de lã na Itália e convenceram um deles, Stefano Aglietta, a se juntar ao time. A empresa nem havia nascido e já contava com três acionistas. Não demoraria para chegarem outros dois: Maisonnave e Glitz, claro. Os sócios decidiram botar R$ 1 milhão na startup do sapato.

Assim nasceu a Yuool, sigla para young (jovem), urban (urbano), wool (lã). Os sapatos Yuool com lã merino, sola de EVA e preço na faixa dos R$ 350, chegaram ao mercado no Natal de 2017, ancorados por uma campanha de marketing dirigida a "formadores de opinião". Em janeiro de 2018, pouco mais de cem pares já haviam sido encomendados e em março a marca triplicou as vendas.

É uma empresa enxuta, como manda o manual de startups. Tem apenas dois funcionários: um diretor de produção e um diretor digital, sob a supervisão de Englert e Dutra. A fabricação é terceirizada, feita em Estância Velha (RS), onde fica o escritório da Yuool. Também não há estoque. Utiliza-se galpões dos Correios para armazenar as ainda limitadas quantidades de caixas de sapatos. Não há e não haverá lojas físicas, as ações de venda vendas são todas on-line. Para evitar os custos de obsolescência, a Yuool baseou-se em uma única linha de sapato, um só formato (o que agiliza também a fabricação). Mudam apenas as cores. Isso faz com o estoque não fique velho, já que não há troca de coleções.

Englert diz que as encomendas chegam em 24 horas à casa do consumidor - pelo menos é essa a ideia. Em termos de distribuição, nada muito diferente do que se vê no e-commerce tradicional. "Sim, mas com uma marca ainda desconhecida, que saiu do zero."

E aí está o grande desafio da Yuool: eliminar o que Englert chama de pontos de atrito nessa primeira fase do negócio. O maior deles: a objeção de compra. Por que alguém iria usar um calçado de lã no verão? "A gente terá de fazer muita campanha digital para mostrar as propriedades térmicas do sapato." Outra questão: a compra sem teste do produto. "Eu tenho de buscar pontos de venda alternativos para que ele possa experimentar o Yuool." Por exemplo, eventos e espaços de exposição com estruturas de venda on-line no local. Há planos também de montar showrooms em aeroportos e utilizar corners de lojas multimarcas.

"Ao eliminar atritos, eu atraio o consumidor, aumento meu funil e as taxas de conversão de vendas. Esse é o jogo", diz Englert. Na semana passada, a Yuool passou a fazer uma campanha garantindo a devolução do produto caso o consumidor não se adapte a ele. Derrubou, assim, outro atrito. A taxa de conversão, segundo ele, aumentou 25%. "A meta é vender 4 mil pares neste primeiro ano. Se isto ocorrer, já teremos o retorno do investimento no final do 2018."

O próximo passo é levar o Yuool para a Europa. A estratégia é começar pela Itália e aos poucos ir conquistando outras praças. "Vamos ganhar o jogo num lugar e partir para outro, sem pressa", afirma Englert. "Eu não quero ser o Banco Original. Eu quero ser o Nubank dos sapatos", compara. É uma shoetech no pé e uma fintech na cabeça. Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 30/04/2018


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