Sean Petersen, head de Venture Capital para América Latina do IFC, defende que esta é uma das maiores vantagens competitivas das empresas fundadas no Brasil
As startups brasileiras não precisam almejar ganhar o mundo - afinal, há um mundo inteiro a ser conquistado dentro do Brasil. Este é o diferencial dos negócios brasileiros em comparação às empresas da América Latina. Quem garante é o investidor Sean Petersen, head de Venture Capital para América Latina do IFC (International Finance Corporation), braço financeiro do Banco Mundial.
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"Nos outros países, para transformar uma ideia de sucesso em uma oportunidade multimilionária, você precisará cruzar as fronteiras e se tornar global. Os brasileiros podem crescer somente aqui", afirmou o investidor durante entrevista no Fórum Econômico Mundial (WEF), realizado nesta semana em São Paulo.
Petersen participou ativamente do programa do IFC que selecionou 50 startups da América Latina escolhidas para essa edição do WEF. Metade delas são brasileiras, como Agrosmart, CargoX, Gympass, Contabilizei e Tera. No comitê de seleção, estavam empresas como Microsoft e fundos como Kaszek. Foram levados em conta aspectos como produtos e serviços com potencial comercial, base tecnológica desenvolvida, possibilidade de ganhar escala e de gerar receita. Petersen diz que a equipe de empreendedores das startups também foi avaliada. O discurso do IFC é ajudar essas empresas a acelerar o desenvolvimento da economia digital da América Latina. Nos últimos cinco anos, a instituição investiu mais de US$ 170 milhões na região.
Qual a diferença entre startups brasileiras e as startups de outros países da América Latina?
As startups do Brasil têm algumas vantagens por conta do tamanho da economia brasileira. Estamos aqui falando, talvez, do único país onde você tiver a ideia certa você pode transformá-la em uma oportunidade de milhões de dólares. Se você tiver uma ideia nos outros países (como Colômbia e Chile), mesmo que tenha sucesso, para transformá-la em multimilionária é necessário cruzar as fronteiras e se tornar global. E fazer isso exige muito esforço financeiro e de gestão. De forma geral, os brasileiros podem ficar dentro do país - não há tanto necessidade de ir para fora. Além disso, o Brasil possui uma grande base tecnológica, que vem sendo criada desde os anos 90. O Brasil está conectado. E as pessoas no Brasil estão usando tecnologias -seja no Facebook ou no Instagram. Por estas razões, o país tem muito mais chances de estar bem inserido na 4ª Revolução Industrial.
Não vemos muitas startups brasileiras tentando ser global. Há alguma razão?
Antes de responder a questão, quero pontuar que quando um empreendedor brasileiro descobre como resolver um problema e, assim, ganha a oportunidade de construir um unicórnio, ele pode escolher ficar no país. Essa postura não limitará o apetite de investidores. Nós vamos continuar a olhar para ele. Então, eu não acho que devemos considerar que uma startup está falhando porque ela não virou global, principalmente se os resultados operacionais estão bons.
Para você, inovar é mais uma questão de resolver um problema local ou é criar um produto que possa ter impacto em larga escala?
Você inova das duas formas. Mas acho que, do ponto de vista do empreendedor, é muito difícil ele começar uma startup pensando globalmente. A 99 inovou ao solucionar problemas locais. E foi uma solução tipicamente brasileira, com ponto de partida na comunidade, mas que pode ser transportada para qualquer lugar. A empresa, quando começou, não tinha a ambição de ser global – mas virou.
Como você enxerga o futuro do venture capital daqui 20 anos?
Acho que as tecnologias disruptivas irão continuar acelerando essa indústria. E o venture capital vai continuar cumprindo sua missão que é a da procurar por boas ideias e boas equipes para apoiar financeiramente. Não vejo por qual razão isso mudará. O que vejo que deve ocorrer é mais colaboração entre os investidores e as startups. Veja só a chinesa Didi vindo ao Brasil, trazendo tecnologia, para colaborar com a 99. Vai existir muita colaboração e a abordagem deverá ser mais integrada, provavelmente com todo o mundo. Mas ainda acho que o conhecimento local continuará sendo o mais importante. Leia mais em epocanegocios 15/03/2018
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