A Equatorial está negociando a compra de linhões da Isolux no Brasil, de acordo com duas fontes a par do assunto, dando um passo importante para encorpar seu portfólio em transmissão, setor no qual estreou há pouco mais de um ano.
A operação adicionaria os ativos operacionais da Isolux, que possuem fluxo de caixa garantido, ao pipeline de projetos greenfield da Equatorial que devem ser concluídos ao longo dos próximos cinco anos.
"É um movimento lógico. Traz um fluxo de caixa garantido e ajuda a empresa a conseguir condições melhores de financiamento para os projetos que ainda precisam sair do papel", diz um gestor que acompanha a companhia.
O pacote à venda envolve cinco linhas de transmissão com 2,5 mil quilômetros de extensão, e uma receita anual permitida (RAP) entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões em 2017 — um valor que, por contrato, é corrigido pela inflação.
Não está claro se a Equatorial quer comprar a totalidade dos ativos ou apenas uma parte deles. E, como em toda transação do tipo, não há garantia de que as partes vão chegar a um acordo.
A Equatorial é conhecida por ser uma negociadora dura. Nesse sentido, a Isolux parece um alvo ideal: entrou em recuperação extrajudicial em 2016 e, diante das dificuldades em pagar os credores, teve que recorrer à rota judicial no ano seguinte, tanto na Espanha quanto no Brasil.
No pacote à venda estão a concessão de Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, com 181 quilômetros; Jauru, entre Rondônia e Mato Grosso com 940 quilômetros; e Xingu e Macapá, no Norte do País, que começaram a operar em 2013 e somam, juntas, 1,2 mil quilômetros.
A Isolux tenta vender ainda uma linha dde 250 quilômetros entre Taubaté (SP) e Nova Iguaçu (RJ). O ativo é o mais encrencado: deveria ter sido entregue em 2014 mas ainda está em fase final de construção. A previsão é que a última subestação seja concluída ainda no primeiro semestre.
Nos últimos dois anos, a Isolux chegou a fechar contratos vinculantes com a Brookfield e com o grupo espanhol Ferrovial para vender seus linhões. Mas em ambos os casos, as negociações travaram ao chegar na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Naquelas transações, no entanto, a Isolux ainda tentava vender as concessões de dois grandes linhões no Norte do Brasil, que não tinham nem começado a sair do papel. O regulador deu sinal vermelho e cassou as concessões no ano passado.
Agora, os riscos regulatórios do pacote que restou são menores. "Por conta do histórico de execução nas distribuidoras, a Equatorial tem um poder muito grande de negociação com a Aneel", diz uma outra fonte. "Fica mais fácil equacionar os potenciais problemas regulatórios".
Antes focada em comprar distribuidoras de energia em dificuldades e dar uma injeção de eficiência para criar valor, a Equatorial começou a investir também em transmissão no fim de 2016, quando o governo voltou a permitir taxas de retorno atrativas para o negócio.
Desde então, arrematou oito lotes em leilões, que devem demandar cerca de R$ 4,5 bilhões em investimentos, e comprou 51% de um linhão já operacional no Tocantins.
A entrada no segmento de transmissão suaviza o perfil de risco da Equatorial e inaugura uma nova avenida de crescimento para a empresa. Enquanto os turnarounds em distribuição levam mais tempo, as linhas de transmissão trazem um fluxo de caixa garantido por 30 anos, com correção pela inflação.
O grande risco são os possíveis atrasos durante a construção, mas a Equatorial já disse que espera erguer os linhões com investimento abaixo do previsto pelo regulador e espera entregá-los um ano antes do prazo estabelecido, maximizando sua taxa de retorno.
A companhia também está de olho nos ativos de distribuição que vem a mercado neste ano. Está avaliando a compra da fatia de 17% que a AES detém na Eletropaulo e é uma das candidatas naturais à compra das distribuidoras do grupo Eletrobras no Norte e no Nordeste.
Conheça o Brazil Journal no Instagram e no YouTube. Natalia Viri Leia mais em braziljournal 14/03/2018
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