A disputa judicial gerada após a aquisição da mineira Itambé pela gigante francesa Lactalis em dezembro é uma "bagunça" criada pela concorrente mexicana Lala -que no ano passado comprou a Vigor-, segundo Patrick Sauvageot, presidente da Lactalis na América Latina.
Desde que teve início a batalha no Brasil entre as duas gigantes multinacionais dos lácteos, nenhum executivo havia falado publicamente sobre o caso, que corre em segredo de Justiça.
Nesta quarta-feira (28), durante a cerimônia de inauguração de uma linha de produção do grupo Lactalis em Teutônia (RS), Sauvageot insinuou que a Lala está tentando estragar a imagem da Itambé porque gostaria de, ela própria, ter feito a compra da empresa mineira, mas não conseguiu.
"Toda essa briga judicial tem um objetivo só. Eu como empresa, e não vou citar o nome da empresa, não consegui comprar [a Itambé]. Já que ela não foi comprada por mim, vou queimar a empresa. Vou esvaziar o caixa, vou fazer um barulho muito negativo para os bancos não colocarem dinheiro nela e vou atrasar com essa coisa judicial", disse o executivo.
Após o anúncio da aquisição estimada em R$ 1,9 bilhão pela Lactalis, em dezembro, a Vigor, que era dona de uma parte da Itambé antes de a mineira ser vendida aos franceses, questionou a operação na Justiça. Segundo a argumentação da Vigor na Justiça, a operação não poderia ter acontecido porque quebrava um acordo de acionistas firmado pela CCPR, cooperativa que detinha 50% da Itambé e comprou a outra metade para depois revender aos franceses em menos de 24 horas.
A decisão mais recente da Justiça autoriza a venda (que também já foi aprovada pelo Cade), mas não dá aos franceses da Lactalis a chance de exercer seus direitos de acionista, gerando um impasse. O caso será resolvido por meio de arbitragem.
Sauvageot disse que o conflito deixou a Itambé como a imagem de uma empresa "sem dono".
"Tem muitas coisas que foram ditas que são mentiras", disse o executivo a jornalistas
Ele se mostrou preocupado com a situação da Itambé e criticou sua gestão anterior.
"Pelo que eu entendi, a Itambé se encontrou em uma situação em que o caixa estava vazio. Ela tinha um caixa de R$ 150 milhões por mês em 2017."
Ele afirma que, quando o negócio foi assinado, em 4 de dezembro, porém, o caixa estava em R$ 50 milhões, mas a Itambé precisa pagar mais de R$ 110 milhões por mês a seus produtores.
"Se não pagar essa fatura, fecha. E ao mesmo tempo você lança uma ação judicial, criando bagunça e incerteza", disse Sauvageot, completando que isso provoca recuo dos bancos. "Então você tem uma empresa que não tem caixa e não pode tomar dos bancos. Não é razoável."
Questionado se a Lactalis trabalha com o cenário hipotético de o acordo não ser aprovado após a disputa judicial com a Vigor, o executivo afirma que a empresa não vê essa possibilidade.
Sauvageot, que é francês, diz não entender a discussão judicial que se iniciou após os questionamentos da Vigor e criticou a Justiça brasileira.
"Nenhum dos motivos que a Vigor está usando nos parece muito sólido e baseado juridicamente. No Brasil tem um sistema que se chama liminar. Com a liminar você pode fazer coisas e coisas", disse ele.
Outro ponto de discórdia entre Lactalis e Vigor/Lala na Justiça é o fato de a francesa ter assinado um acordo de confidencialidade, o chamado NDA (Non Disclosure Agreement), quando ela demonstrou interesse em comprar a Vigor, que pertencia à J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e foi vendida para a Lala, meses antes, também no ano passado.
"Essa é a segunda mentira. O juiz está respondendo sobre o NDA, que tem como objetivo fechar uma operação entre a JBS vendendo Vigor e 50% de Itambé. Isso dura até o momento que se fecha essa venda. No momento que a venda está fechada, não tem sentido. E a Vigor estava a venda há mais de três anos", diz o francês.
Procuradas, a Vigor e a Lala disseram que não iriam se pronunciar porque o caso está em segredo de Justiça. Pessoas próximas à Vigor afirmam que a Lactalis não poderia ter comprado a Itambé porque o NDA assinado pela francesa na ocasião da tentativa frustrada de comprar a Vigor era válido por 24 meses, diferentemente do que afirma Sauvageot.
Segundo esses executivos, nesse NDA, a Lactalis se comprometia textualmente a não comprar a Itambé. A francesa nega que exista tal cláusula. *A jornalista viajou a convite da Lactalis JOANA CUNHA (FOLHAPRESS) - Leia mais em bemparana 28/02/2018
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