27 dezembro 2017

Movimento de fusões e aquisições crescerá no setor de saúde em 2018

Com maior resiliência e alto grau de pulverização, o setor deve ganhar a atenção de fundos de investimentos com a queda da taxa de juros e a necessidade de aplicações com maior retorno

Com queda na taxa de juros e perspectivas de melhora econômica, assessorias para operações de fusões e aquisições já esperam um desempenho melhor para 2018, sobretudo em um mercado tão fragmentado como o da saúde privada.

Segundo dados da Condere, assessoria independente de fusões e aquisições, nos últimos 12 meses o setor de saúde teve cerca de 87 transações, das quais 68 já foram concluídas e 19 foram anunciadas. Agora, a expectativa do sócio-fundador da empresa, Paulo Cury, é que o número de transações aumente em 2018. “Com a taxa de juros caindo, os fundos têm que começar a alocar o dinheiro que estava parado a uma taxa de 14%. Então, eu acho que vai ter mais movimento.”

Para Cury, entre os players mais preparados para este movimento estão os hospitais e o setor de diagnóstico. Contudo ele destaca que todos os segmentos da saúde têm potecial de participar dos movimentos. Mesmo com as eleições de 2018, ele acredita que o descolamento do cenário político e econômico, visto nos últimos meses, deve permanecer e propiciar as transações.

Hoje, a companhia possui dois mandatos: um na área de hospitais e o outro é o da Megamed, que tem como um dos sócios Ruy Marco Antônio, antigo dono do Hospital São Luis. A Condere está captando para a rede de clínicas populares cerca de R$ 30 milhões para o plano de expansão. “Esse mercado [de clínicas populares] vai começar a consolidar porque muitos players entraram nos últimos tempos e é um setor difícil de operar. Você precisa ter escala e um custo baixo para ter uma operação rentável. Vai ter muita atividade [nesse ramo],” diz.

Além disso, ele aponta que alguns fundos têm mandato de impacto social, questão que casa com o setor de saúde e mais especificamente com as clínicas populares que têm como objetivo expandir o acesso à saúde privada.

Segundo ele, a assessoria já mapeou cerca de 40 fundos – entre estrangeiros e nacionais – que podem estar interessados no setor de saúde brasileiro. Cury acredita que as empresas de médio porte [com faturamento entre R$ 40 milhões e R$ 300 milhões] sejam os principais alvos das novas operações. “Acho que é onde veremos mais coisas acontecerem”, destaca.

Além dos novos movimentos, ele destaca que a Condere está de olho nas posições que alguns fundos devem vender e também tem estudado a possibilidade de novas transações de cross border [captação de recurso no exterior] e de abertura de capital [IPO, na sigla em inglês]. Um dos objetivos da Condere para 2018 é levar uma empresa de saúde para o Bovespa Mais, segmento de listagem que permite que pequenas e médias tenham acesso ao mercado de capitais de forma gradual e possam listar sem a necessidade de realizar IPO. “Temos trabalhado com o pessoal da B3 nos últimos três anos, falado com empresários de todo o Brasil e temos um sócio na Inglaterra que é líder em emissão de ações públicas para o mercado de médio porte”, explica Cury.

Incerteza
Já na opinião do especialista em operações de fusões e aquisições da empresa de assessoria financeira Okto Finance, David Denton, os movimentos mais acentuados de aquisições devem ficar mais para o final de 2018 e início de 2019. “Acho que o investidor vai aguardar ajustes [eleições e reformas] para depois voltar a entrar com mais força”, diz. Segundo ele, hoje é necessário vender o País antes de uma empresa brasileira, devido às incertezas econômicas, o que acaba “estancando” as operações. Hoje a Okto Finance está acompanhando a operação de uma empresa de equipamentos médicos, que deve transacionar R$ 60 milhões.

Com uma visão menos otimista, o diretor da PTRUS Consultoria especializada em fusões e aquisições na área hospitalar, Edgar Vieira da Costa Filho, não enxerga tantas oportunidades no mercado hospitalar. “Os melhores ativos já foram adquiridos. Agora os fundos e os grupos hospitalares estão mais seletivos na hora de escolher uma praça.”

Por isso, ele acredita que um movimento que deve ser visto nas próximas aquisições seja a compra de operadoras de saúde verticalizadas com ativos hospitalares. “Isso pode ocorrer até em praças menos atraentes. É uma forma de fincar uma bandeira em um local com menos concorência dos grandes grupos”, expõe. Costa estima que hoje, dos 4,7 mil hospitais brasileiros, cerca de 100 estão mais preparados para uma aquisição. “Muitos hospitais privados estão sucateados e têm risco de quebra”, explica. Por isso, outro movimento que tende acontecer é a fusão de vários hospitais que queiram ganhar escala e poder de negociação com planos. Leia mais em DCI 27/12/2017

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