A francesa Lactalis anunciou hoje a aquisição de 100% das ações da Itambé Alimentos S.A, da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR). O comunicado do grupo francês, que fala de “parceria estratégica para criar o líder nacional em produtos lácteos”, não revela o valor da operação.
O negócio prevê acordo de fornecimento de leite de longo prazo da CCPR para a Itambé “com vistas a preservar e permitir o crescimento das bacias leiteiras de Minas Gerais e Goiás”. De acordo com o comunicado, a aquisição da Itambé pela Lactalis deve ser concluída no primeiro semestre de 2018. A operação está sujeita à apreciação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A aquisição da Itambé pela Lactalis é uma reviravolta numa operação que foi deflagrada após a venda da Vigor, que era da J&F, para a mexicana Lala em agosto passado. A transação incluía os 50% que a Vigor tinha na Itambé. O 50% restantes eram da CCPR, que tinha direito de preferência para recomprar a participação em caso de venda da Vigor.
Em setembro, a CCPR anunciou que exerceria o direito de preferência para recompra, mas desde o início havia dúvidas sobre como a central de cooperativas financiaria a aquisição dos 50%. O Banco do Brasil chegou a liderar um pool de bancos para alavancar recursos para o negócio, mas saiu da operação devido ao tempo exíguo para fechá-la.
Ao mesmo tempo, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) sinalizou que iria garantir a recompra da participação pela CCPR. A empresa de desenvolvimento, controlada pelo governo de Minas Gerais, publicou, no dia 27 de novembro, ata de reunião de acionistas, realizada em 20 de setembro, na qual seu conselho de administração desenvolvimento autorizava um aporte de R$ 587,025 milhões, por meio da Codemig Participações (Codepar), para auxiliar a CCPR na recompra dos 50% da Itambé.
Conforme a ata da assembleia, a Codepar “fica autorizada a aportar o valor de R$ 587,025 milhões, seja através da aquisição das ações da Itambé ou através da celebração de instrumentos financeiros de dívida com a CCPR”.
Questionada sobre a ata, no fim de novembro, a Codemig informou ao Valor que fazia “parte de um grupo de financiadores e investidores que está avaliando o investimento junto à CCPR, dentre eles gestores de recursos, bancos e outras empresas”. Embora o valor do negócio entre Lactalis e CCPR não tenha sido revelado, é possível fazer uma estimativa levando em conta em quanto a Lala avaliou os 100% da Itambé.
A empresa mexicana se propôs a pagar R$ 5,725 bilhões pela Vigor e por até 100% das ações da Itambé. Com a recompra da participação pela CCPR, a mexicana pagou R$ 4,325 bilhões pela Vigor. Assim, os 100% da Itambé estavam avaliados em R$ 1,4 bilhão. De acordo com o comunicado da Lactalis, a aquisição da Itambé trará uma grande complementaridade geográfica e de produtos
As informações são do jornal Valor Econômico. Leia mais em milkpoint 05/12/2017
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Com aquisição da Itambé, Lactalis se torna líder na captação de leite no Brasil
Com a aquisição de 100% da Itambé Alimentos, a Lactalis vai se tornar líder na captação de leite no país, ultrapassando a suíça Nestlé. Conforme o último ranking da Leite Brasil, a Lactalis captou no ano passado 1,622 bilhão de litros de leite, atrás da Nestlé, que comprou 1,690 bilhão de litros de produtores e cooperativas. Em terceiro veio a Itambé/CCPR, com 1,104 bilhão de litros. Assim, a estimativa é que a captação conjunta de Lactalis e Itambé fique ao redor de, ao menos, 2,7 bilhões de litros anuais.
Segundo fontes próximas à companhia, o negócio também dará a Lactalis o maior faturamento do setor de lácteos no país. Conforme dados divulgados pela Lactalis, a Itambé tem receita anual de R$ 2,7 bilhões. Já a operação da Lactalis na América Latina, que inclui o Brasil, teve receita líquida de quase R$ 3,7 bilhões nos primeiros nove meses deste ano. No mundo, a francesa fatura € 17,3 bilhões por ano.
Considerada "uma tacada de mestre" por alguns observadores do mercado de lácteos, a aquisição da Itambé é importante para a Lactalis pois permitirá à empresa avançar numa região onde ainda tem pouca presença no Brasil. Atualmente, a Lactalis capta 60% do leite que processa no Rio Grande do Sul. Com a Itambé, terá um total de 18 unidades e irá ampliar as compras de matéria-prima nas bacias leiteiras de Minas Gerais e Goiás.
No comunicado, a Lactalis diz que a aquisição da Itambé trará "uma grande complementaridade geográfica e de produtos". De fato, os produtos da Itambé têm forte presença em Minas Gerais, Rio de Janeiro e também no Nordeste.
A francesa chegou ao Brasil em 2013, com a compra da Balkis. Em 2014, adquiriu ativos da LBR e as operações de lácteos que da BRF.
A virada da Lactalis, que perdeu a Vigor, mas ficou com a Itambé, por certo, não agradou à Lala, afirmaram fontes do setor. Sem a Itambé, a avaliação é de que a empresa de lácteos pagou caro pela Vigor. Além disso, a Lala amarga a terceira tentativa frustrada de comprar o laticínio mineiro.
Para Valter Galan, analista da MilkPoint, consultoria especializada em lácteos, a tendência é que a Lala continue a olhar possíveis aquisições no país, uma vez que ficou menor do que esperava inicialmente no Brasil. "O apetite [por compras] não vai acabar".
A decisão da CCPR de vender toda a Itambé logo após reassumir seu controle também surpreendeu. A avaliação no mercado é de que parte dos recursos da venda deve ser usado pela central e pelas cooperativas para quitar dívidas.
Em comunicado, a CCPR disse que "após retomar o controle da Itambé, pôde escolher o melhor parceiro para o futuro". Segundo a nota assinada pelo presidente Marcelo Candiotto, o negócio "fará com que a Itambé retome sua trajetória de sucesso, crescimento e rentabilidade, beneficiando seus consumidores, as cooperativas associadas da CCPR e seus mais de 6.000 produtores de leite". As informações são do jornal Valor Econômico. Leia mais em milkpoint 06/12/2017
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