Num raro movimento num setor já bastante consolidado, a Odontoprev anunciou hoje a compra da OdontoSystem, uma rede de planos odontológicos com 622 mil vidas baseada em Fortaleza.
A compra amplia em 10% o número de beneficiários da Odontoprev, que tem sofrido para aumentar sua base em meio à crise econômica e à alta do desemprego. A aquisição também amplia a presença da companhia, líder do setor, no Nordeste, onde a penetração de planos odontológicos é mais baixa.
A empresa concordou em pagar um múltiplo de 9 vezes o EBITDA da OdontoSystem em 2017, metade das 20 vezes pelas quais a Odontoprev é negociada na Bolsa. Para 2018, o consenso da Bloomberg aponta para um EV/EBITDA de 18 vezes.
“O preço parece bom, especialmente considerando o tamanho da base que a Odontoprev está colocando para dentro”, diz um banqueiro com um histórico de vários M&As no setor de saúde.
A Odontoprev não divulgou o montante final que vai desembolsar. Disse apenas que em 2016, a OdontoSystem faturou R$ 97 milhões e conseguiu um EBITDA de R$ 17 milhões. O contrato prevê ainda um pagamento residual, a depender do atingimento de metas em 2018 e 2019.
Fundada no fim dos anos 1980 por um grupo de dentistas liderado por Randal Zanetti, a Odontoprev foi uma máquina de aquisições nos anos que se seguiram ao seu IPO, em 2006, consolidando um setor pulverizado e um dos segmentos mais lucrativos do setor de saúde.
Mas a companhia não crescia via M&A desde 2009, quando se fundiu à Bradesco Dental, hoje controladora da companhia. Desde então, a Odontoprev privilegiou o crescimento orgânico via o aumento da capilaridade de sua rede de distribuição – primeiro com o próprio Bradesco e, ano passado, com uma parceria firmada com a BB Seguridade.
Com uma sinistralidade muito menor que os planos médicos convencionais, as empresas de assistência odontológica são as verdadeiras cash cows da indústria. E o potencial de crescimento é grande: a penetração dos planos odontológicos é de apenas 11% no Brasil, contra 25% dos planos de saúde – e 70% dos planos dentais no mercado americano.
Com uma rede de dentistas bem consolidada e demonstrando capacidade de controlar custos mesmo em cenários adversos, a Odontoprev se tornou uma das empresas mais caras da Bolsa, com um múltiplo de preço/lucro de quase 30 vezes para o próximo ano.
Líder isolada no setor, a Odontoprev tem 6,3 milhões de vidas. A concorrência é formada principalmente por seguradoras de saúde tradicionais, que oferecem o plano odontológico associado ao médico. A maior concorrente é a Amil Dental, com 1,9 milhão de vidas, seguida pela Hapvida Odonto e a Interodonto (da Intermédica, controlada pela Bain Capital), com 1,6 milhão cada.
Apesar da liderança, a Odontoprev vem sofrendo para aumentar sua base nos últimos anos e o número de beneficiários é praticamente o mesmo desde o fim de 2014. Com um posicionamento mais ‘high end’, seu tíquete médio’ é maior que o da concorrência – em 2016, foi de R$ 18 mensais, contra R$ 10 da Interodonto, por exemplo.
“Com a crise, houve um movimento de trade down no setor que acabou pegando a Odontoprev. Mas agora isso deve melhorar com a retomada da economia”, diz um analista que já enxerga um momento de inflexão. “Eles têm uma rede melhor e podem cobrar mais caro por isso”.
O posicionamento de preço fica claro no market share do setor: apesar de ter 28% do mercado em volume de vidas, a Odontoprev morde uma fatia de 45% da receitas, segundo informações da própria companhia com base nos dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Em um encontro com investidores promovido há duas semanas pelo Credit Suisse, o diretor de RI da Odontoprev, José Roberto Pacheco, sinalizou que vê um cenário melhor para a companhia no próximo ano, com a queda do desemprego, a perspectiva de aumento no salário mínimo e uma concorrência mais racional. No terceiro tri, a Odontoprev adicionou 84 mil vidas, seu melhor trimestre desde o fim de 2014. Natalia Viri Leia mais em braziljournal 14/11/2
Nenhum comentário:
Postar um comentário