A cerca de 20 dias do prazo para a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda (CCPR) pagar à Vigor os R$ 600 milhões referentes ao exercício da recompra da fatia de 50% da empresa na Itambé Alimentos, o financiamento da operação pode estar em xeque.
O Banco do Brasil não está mais à frente do pool de bancos que iria financiar ou buscar eventuais investidores para a CCPR - que tem 50% da Itambé - recomprar a participação da Vigor na companhia. De acordo com pessoas familiarizadas com o assunto, a tarefa de "amarrar a operação junto com outros bancos" agora está nas mãos do Banco Mercantil do Brasil, instituição financeira de porte médio com sede em Belo Horizonte (MG).
Segundo as mesmas fontes, a razão para o Banco do Brasil ter saído da transação foi o prazo exíguo para levantar os R$ 600 milhões necessários para financiar a recompra da participação de 50% na Itambé, que foi vendida à Vigor, controlada da J&F, em 2013, por R$ 410 milhões. Procurado, o BB não comentou.
A direção da CCPR também não respondeu ao pedido de entrevista.
No dia 20 de setembro, um mês e meio depois de a Vigor ter sido vendida à mexicana Lala, a CCPR anunciou que iria exercer o direito de preferência e recomprar a participação da Vigor na Itambé. A possibilidade de recompra estava prevista no acordo de acionistas em caso de venda da Vigor. A central tem até 20 de outubro para pagar pela participação adicional e está sujeita a uma multa de R$ 200 milhões se não o fizer, de acordo com fonte a par do negócio.
A opção da CCPR pelo Banco Mercantil do Brasil configura "uma solução caseira", disse outra fonte, uma vez que ambos são de Minas e a central de cooperativas já é cliente da instituição financeira. Diferentemente do que estava previsto numa eventual operação liderada pelo Banco do Brasil, no caso da transação com o Mercantil, o banco mineiro não entraria com a maior parte dos recursos para o financiamento, acrescentou a fonte. Procurado, o Mercantil do Brasil também não se pronunciou.
Além de obter os recursos para financiar a recompra, a CCPR também precisa do "waiver" de bancos credores, com os quais a Itambé tem R$ 250 milhões em dívidas, uma vez que haverá troca de controle da empresa de lácteos, disse uma outra fonte com conhecimento da operação.
A decisão da CCPR de recomprar a fatia da Vigor na Itambé tem sido vista no mercado como uma tentativa da central de voltar a ter força no comando da empresa de lácteos, uma vez que perdeu poder na companhia quando vendeu a participação de 50% para a Vigor. Também seria uma tentativa de fazer a Itambé voltar a ser uma empresa mineira, o que, inclusive, tem tido apoio de políticos do Estado.
No entanto, segunda outra pessoa a par do tema, a obtenção dos recursos não está sendo uma tarefa fácil diante do histórico da CCPR, que quase quebrou antes de vender 50% da Itambé à Vigor.
A compra da Vigor pela Lala foi anunciada no começo de agosto, por R$ 5,725 bilhões. O valor do negócio previa também a aquisição de até 100% da Itambé. Na operação, a Itambé estava avaliada em R$ 1,4 bilhão e a Vigor, em R$ 4,3 bilhões. Sem a Itambé, a Lala vai pagar pela aquisição de até 100% das ações da Vigor R$ 4,325 bilhões.
Analistas do segmento de lácteos avaliam que a Lala sai prejudicada sem a Itambé no negócio. Uma das razões é que a operação, cujos múltiplos já estavam acima dos níveis vistos geralmente no mercado, ficou ainda mais cara. O múltiplo do negócio foi de 21,6 vezes o Ebitda (considerando um Ebitda estimado de R$ 200 milhões) ante 17,4 vezes quando a Itambé estava incluída. Além disso, a empresa mexicana não contará com a oferta de leite dos produtores das 31 cooperativas associadas da CCPR que fornecem a matéria-prima para a Itambé.
Em relatório do dia 21 de setembro analistas do Credit Suisse destacaram o múltiplo elevado da transação, avaliaram que as sinergias para a Lala serão menores sem a Itambé e não descartaram que a mexicana refaça uma oferta por 100% ou por uma parte da Itambé por um múltiplo mais alto.
Contexto
A venda da Vigor à Lala faz parte do pacote de desinvestimento lançado pela J&F, controladora da empresa de lácteos, após a delação dos Batista. A delação dos donos da J&F fez secar o crédito à holding, que teve de recorrer à venda de ativos. Além da Vigor, a J&F vendeu a Alpargatas, a Eldorado Celulose e os negócios de bovinos da JBS no Mercosul. O contrato de compra e venda da Vigor tem como condição a homologação da leniência da J&F pela Justiça Federal em Brasília. O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, chegou a homologar o acordo em 8 de setembro, mas suspendeu a decisão no dia 11. A suspensão, no entanto, não invalida o acordo de leniência da J&F, que foi homologado em agosto pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. A homologação pela 10ª Vara servia apenas para que outras pessoas ligadas à empresa pudessem aderir ao acordo caso fossem denunciadas. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/10/2017
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