Andrew McAfee, pesquisador do MIT e especialista em transformação digital, fala sobre as regras que caíram por terra por causa da tecnologia
Algumas das regras mais fundamentais do mundo dos negócios estão sendo chacoalhadas por causa das transformações tecnológicas pelas quais as empresas estão passando — sobretudo a ascensão da inteligência artificial. Boa parte da receita que ditava a maneira de gerir uma empresa não faz mais sentido. Foi o que defendeu nesta terça-feira (24/10) Andrew McAfee, escritor e pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), durante a conferência Intel SHIFT 2017, em Nova York.
O trabalho de McAfee e sua equipe no MIT consiste em tentar entender como a tecnologia está mudando modelos de negócios. Não é pouco, ele diz. No entanto, nem todos os gestores estão cientes dessas transformações. "As companhias que ficarão para trás são aquelas que ainda estão se baseando na receita do passado". Durante sua palestra, o pesquisador destacou ingredientes da receita que já não são os mesmos:
1. Siga os seus instintos
Na literatura sobre gestão de empresa, sempre houve um holofote sobre a importância do julgamento e de seguir os próprios instintos na hora de tomar decisões. Isso acabou dando peso aos "profissionais HiPPO". "É uma das minhas siglas favoritas no mundo dos negócios", brinca McAfee. Significa "highest paid person\'s opinion". Ou seja, a opinião e o instinto da pessoa mais bem paga do escritório. Aquela pessoa que, quando toma uma decisão, todos têm de seguir.
Muitas vezes o HiPPO ignora fatos, simplesmente porque o instinto dele pede para ir em outra direção. Isso vai mudar. Segundo McAfee, o HiPPO está em ameaça por causa de uma outra figura: a do profissional que coloca seus julgamentos de lado para priorizar evidências tangíveis. Faz sentido que essa personagem ganhe espaço. Estudos mostram que, na maioria dos casos, as decisões arbitrárias de um HiPPO, que não sejam baseadas em fatos, acabam mais atrapalhando do que ajudando. "Estão nos levando para a direção errada. Por que esse tipo de decisão não foi extinta?"
Concomitantemente, a capacidade de julgamento das máquinas avança, sobretudo por causa do "machine learning" (aprendizado de máquina). Um exemplo que ajuda a ilustrar: o melhor jogador de Go, um jogo de tabuleiro milenar, agora é uma máquina. "Nós não esperávamos por isso", diz McAfee. No xadrez, os humanos já foram ultrapassados faz tempo. "Pela primeira vez, temos um aliado global. Não estamos mais sozinhos. É irrefutável que as máquinas estão fazendo um bom julgamento". Mas ainda faremos nossa parte, diz. Para os humanos, restarão decisões mais "ambíguas", menos binárias. "Não acho que estejamos indo para um mundo que não precisa mais de nós."
2. A inovação tem de sair de dentro da empresa
Para McAfee, a ideia de que são os profissionais da própria companhia que têm de pensar em formas de solucionar problemas ou inovar também deixou de ser precisa. Soluções vindas do público começaram a ser vistas com bons olhos, como competições abertas a qualquer indivíduo para resolver uma questão específica. Um exemplo são os hackathons. Segundo o pesquisador, é muito provável que a melhor pessoa para aquilo não está dentro da empresa. "O público é surpreendentemente sábio."
Se são tão boas, por que essas pessoas não estão nas companhias? "Elas são difíceis de identificar", diz McAfee. São pessoas curiosas e tenazes, mas que, muitas vezes, não têm um currículo espetacular, com uma grande universidade. Além disso, elas estão espalhadas por todo o mundo, não se manifestam somente nos países ricos.
3. Foque só no seu produto
Outro conselho refutado pelo pesquisador diz respeito a saber muito sobre o seu setor e produto, e se concentrar apenas naquilo. Hoje, está tudo mais interligado em razão da tecnologia. Nos primórdios do iPhone, Steve Jobs "pensou errado por um tempo", diz McAfee. Ele não queria abrir o aparelho para outros desenvolvedores, então só permitia aplicativos desenvolvidos pela Apple. Quando resolveu abrir o espaço, "a indústria mudou num piscar de olhos". O pesquisador recomenda não limitar as possibilidades. "Agora tem mais a ver com pensar em plataformas do que em produtos."
*O repórter viajou a convite da Intel POR EDSON CALDAS Leia mais em epocanegocios 25/10/2017
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