Depois de ficarem mais distantes das companhias estreantes na bolsa de valores após a retomada das ofertas de ações no ano passado, os investidores estrangeiros voltaram a comprar papéis em IPOs no Brasil com mais força. Essa procura tem animado mais empresas, como Camil e Neoenergia, a listar seus papéis.
A partir da estreia da companhia aérea Azul em abril deste ano, os investidores de fora do país abocanharam pelo menos 65% das ações vendidas em IPOs (oferta pública inicial, na sigla em inglês) por quatro empresas, contra um patamar anterior de 40%. A exceção ficou por conta da Omega Geração, que só conseguiu vender 24,8% dos seus papéis para estrangeiros em julho, depois de ter de reduzir o preço de suas ações diante da demanda fraca. Os números da representatividade dos estrangeiros nos IPOs constam nos anúncios de encerramento das operações divulgados pelas empresas.
Se em julho do ano passado a empresa de energia Energisa não conseguiu atrair nenhum investidor estrangeiro para sua oferta, a Azul foi responsável pelo IPO que proporcionalmente mais trouxe aplicadores de fora do país: 85,8% das ações colocadas à venda. Investidores externo especializados em aviação representaram a maior parte da base desses aplicadores.
Em meio a uma recuperação econômica lenta e com o cenário político ainda bastante conturbado, o retorno dos investidores estrangeiros surpreendeu até mesmo os executivos de bancos de investimentos e das próprias companhias estreantes.
Responsáveis pela atração de investidores, os banqueiros da área de mercado de capitais reconhecem que o excesso de liquidez global ajuda na demanda por essas ações, mas eles incluem outros pontos na lista de atrativos.
"O excesso de liquidez faz parte, mas não é o único fator. O gestor não vai fazer um mau investimento por causa disso", diz Roderick Greenlees, diretor da área de banco de investimentos do Itaú BBA.
"Quem entrou nos IPOs foi o investidor que quis se antecipar à recuperação econômica." Para Glenn Mallet, diretor de renda variável do Bradesco BBI, o retorno dos estrangeiros também se dá porque esses investidores tinham reduzido a fatia de Brasil em seus portfólios de forma exagerada desde 2014, quando já se começava a ver uma deterioração econômica. "A participação do Brasil estava distorcida, então agora o país está recuperando o que perdeu", afirma o diretor. "Não existe como ignorar o Brasil, mas os investidores estavam ignorando.
A depender do volume de dinheiro que esses investidores trazem, eles podem pressionar para cima o preço de companhias já listadas. Por isso, as ofertas iniciais de ações podem ser uma alternativa para os fundos de fora do Brasil reequilibrarem seus portfólios. Do início deste ano até o dia 31 de agosto, a entrada de recursos estrangeiros somava R$ 10,9 bilhões, já excluindo as saídas.
Mais do que uma euforia com as ações de companhias brasileiras, como aquela vista em 2007, o que existe agora é um movimento bem mais moderado. "Depois do pico em 2007, os volumes foram muito baixos. Agora estamos voltando à normalidade", afirma Hans Lin, responsável pelo banco de investimentos do Bank of America Merrill Lynch no Brasil (BofA).
Esse retorno do estrangeiro, no entanto, tem se mostrado mais cauteloso do que em outros tempos. Os pedidos dos investidores de fora estão chegando mais perto da conclusão do IPO, depois que gestoras de fundos locais já conseguiram ditar o preço pelo qual as ações serão vendidas, de acordo com André Rosenblit, diretor de renda variável do Santander.
Para Alessandro Zema, responsável pelo banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, a tendência de os investidores estrangeiros comprarem a maioria dos papéis colocados à venda nos IPOs tende a permanecer na próxima safra de ofertas, que deve ter início com Camil. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 05/09/2017
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