13 setembro 2017

Empreendedoras criam primeira plataforma online de mediação de conflitos no Brasil

Melissa Felipe Gava e Camila Feliciano Lopes estão à frente da Mediação Online, startup é acelerada pela californiana 500Startups

No momento em que você lê este texto, há mais de 102 milhões de processos tramitando pelo poder Judiciário brasileiro. Somado a isso, existe uma estimativa de que, a cada cinco segundos que se passa, uma nova ação ingressa às varas e fóruns judiciais do país. Entre esses números que crescem anualmente, há diferentes casos de negociação extrajurídicos entre indivíduos – como, por exemplo, casos societários, de condomínio ou de família – que poderiam ser resolvidos de um jeito muito mais rápido e simples conhecido por mediação.

Essa alternativa, legitimada pelo Código de Processo Civil em 2015, se baseia na interferência de uma terceira pessoa na discussão que, sem poder de decisão, ajuda as partes discordantes a chegarem a um consentimento. Pensando em como poderia facilitar e atrair mais clientes a esse método, a bacharel em direito Melissa Felipe Gava, 36, de Curitiba, adicionou o fator internet, criando, em 2014, a Mediação Online.

O princípio básico da legaltech desenvolvida por Melissa – abreviada como MOL – é utilizar métodos de solução de conflito de forma online, sem ter que ser necessário sair de casa para abrir processo judicial, comparecer à audiências ou esperar meses para ter uma solução. “A mediação, hoje, pode atuar em cerca de 45% dos processos que estão em tramitação. Quando transportada para o online, tem-se como benefício um ganho enorme de eficiência com velocidade e redução de custos”, afirma a CEO.

A motivação da fundadora nasceu em 2014, quando, após retornar de um período pela Europa, Melissa se deparou com a burocracia e sobrecarga que definem o sistema judiciário atual. “Comecei a fazer algumas pesquisas de mercado e notei que aqui se falava muito pouco em mediação online. Ao mesmo tempo, nosso país apresentava os piores números do mundo. Logo vi que era importante trazer esse serviço para o Brasil e começar a educar a sociedade brasileira.”

No mesmo ano, Melissa começou a pesquisar como poderia estruturar seu negócio e investiu cerca de R$ 600 mil na ideia. O ano de 2015 continuou sendo uma etapa de desenvolvimento, em que a plataforma foi estruturada priorizando a experiência do usuário. Finalmente, em 2016, a MOL estava completamente pronta. Nesse mesmo ano, a também bacharel em direito Camilla Feliciano Lopes, 36, de Barretos, entrou como sócia no projeto e a dupla passou a atender seus primeiros clientes.

Atualmente, o serviço da MOL – tanto para clientes físicos quanto corporativos – funciona em 5 passos. Em um primeiro momento, uma das partes (pessoa física ou uma empresa) envia seu caso, contando o processo e informado o contato do conflitante, com quem a plataforma irá tentar se comunicar. Se houver retorno da outra parte, os indivíduos ganham acesso à plataforma, assinam um termo de mediação e agendam uma data com um dos mediadores da MOL. Na quarta etapa, ocorre a mediação em si, que pode ser por videoconferência, telefonema ou chat – sempre com a presença do integrante mediador. Se houver o acordo, no quinto momento, as partes assinam o acordo digitalmente. Caso não haja uma conciliação, o mediador redige o termo negativo.

“Se houver o acordo, caso a ação já esteja na justiça ou não, nós homologamos o acordo para que ele vire um título executivo judicial e põe fim ao processo judicial”, afirma a CEO. “Outro benefício é que o pagamento do serviço é condicionado. Ou seja, quando o indivíduo ingressa na plataforma, nós informamos, sem nenhum custo, o orçamento e o prazo de quanto tempo a mediação deverá durar. A pessoa só irá pagar caso a outra parte aceite participar do serviço e após agendar as sessões. Para pessoa física, a taxa de adesão e as sessões custam R$ 250. Para as empresas, é cobrado um valor fixo”, diz Melissa.

Há cerca de 40 mediadores na plataforma – os quais recebem uma capacitação para aprender a lidar com casos extrajudiciais – que estão atendendo, no momento, casos em São Paulo e da região Sul. Hoje, as principais ações que a plataforma está resolvendo são processos de clientes corporativos.

Desde a criação do negócio até hoje, duas aceleradoras já apostaram no projeto. Em janeiro, a MOL recebeu o investimento de R$ 200 mil da brasileira Wayra e, em julho deste ano, a californiana 500 Startups está acelerando e aplicando R$ 500 mil reais no negócio.

Para o final deste ano, a previsão da plataforma é mediar cerca de 15 mil casos e faturar até R$ 1,5 milhão.

“Queremos levar para a Mediação Online para o Brasil inteiro e continuar nossa campanha de marketing digital de educar a população. Nossa missão é trazer eficiência para o mundo jurídico e popularizar a mediação, pois, usando o serviço da MOL, um caso que demoraria de 3 a 4 meses para ser agendado na justiça é resolvido em apenas 1 semana”, afirma a empreendedora. Por Vitória Batistoti Leia mais em revistapegn 30/08/2017

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